Inadimplência tem leve alta em setembro
Segundo a Fecomércio, o percentual de consumidores com débitos em atraso atingiu 5,7% no mês passado
ALISSON J. SILVA |
Estudo revela que os consumidores belo-horizontinos têm buscado controlar o orçamento de maneira mais rigorosa |
A esperada retração da inadimplência, prevista para o segundo semestre, após o índice atingir altas históricas na primeira metade do exercício, ainda não é observada. Isso é o que demonstra a Pesquisa de Endividamento do Consumidor (PEC) divulgada ontem pela Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas). Conforme o estudo, a taxa apurada em setembro foi de 5,7%, alta de 0,2 ponto percentual, na comparação com o mês imediatamente anterior.
Segundo o economista da Fecomércio Minas, Gabriel de Andrade Ivo, a variação, pouco expressiva, demonstra a acomodação do indicador. Porém, ele acredita que, entre outubro e novembro, a tendência é de que a taxa decresça 0,5 ponto percentual, variando entre 5% e 5,2%. "Agora, o objetivo de quem está com débitos em atraso é quitar pendências, limpar o nome e ter novamente acesso ao crédito para já adiantar as compras de fim de ano. Mas, em dezembro, nova elevação pode ser registrada, pois muitos começam a contrair novas dívidas no mês que antecede o Natal", analisa o especialista.
O nível de endividamento no período também ficou praticamente estável, com retração de 0,2 ponto percentual, passando de 70,5% em agosto, para 70,3% em setembro. Após registrar, em junho, o resultado mais baixo do ano, 66,4%, o índice subiu em julho, como reflexo das medidas adotadas pelo governo federal, como cortes de alguns impostos e redução dos juros, responsáveis por incentivar a população a ir às compras.
Ivo emenda que a alta parcela de endividados indica que o consumo segue pujante, mas que a maior parte das pessoas, em decorrência de fatores como a estabilidade no emprego e crescimento da massa salarial, sinaliza capacidade de honrar seus compromissos financeiros com certa pontualidade.
ALISSON J. SILVA |
Segundo Gabriel Ivo, a variação do indicador demonstra a acomodação da inadimplência |
Consumo - Outro impacto das ações para motivar o consumo aparece no indicador que elenca os principais compromissos financeiros da população. Devido à menor alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que provocou uma corrida do comprador até as concessionárias a partir do fim de maio, o financiamento de carro se mantém como segundo maior compromisso financeiro desde julho. Em agosto, o item obteve 8,4% das respostas.
Mas, a maior parte da renda de 59,5% dos entrevistados ainda se destina ao pagamento do cartão de crédito, avanço de 1,6 ponto percentual, sobre os 57,9% de agosto. Outro indicador que registrou expansão, passando de 3,5% no oitavo mês do ano, para 4,1% no seguinte, é o empréstimo em bancos. "Para saldar dívidas dos cartões de crédito e cheque especial, linhas de financiamento com os maiores juros, a tendência é de que o endividado recorra cada vez mais às instituições financeiras", justifica Ivo.
O estudo revela também que o consumidor belo-horizontino parece começar a tentar controlar o orçamento de maneira mais rigorosa. Isso porque, a maior parte das famílias, 55,4%, compromete, no máximo, 30% da renda, patamar considerado ideal pelos economistas. Em contrapartida, 16% ainda não sabem quando vão ter condições de quitar seus débitos pendentes. Para Ivo, o número é preocupante e deve ser acompanhado, uma vez que pode sinalizar uma tendência de incremento mais expressivo da inadimplência.
Entre os motivos para atrasar o pagamento, o mais citado, por 43,3%, foi o descontrole e a falta de planejamento. Também foram mencionados a diminuição da renda familiar (25,4%); atraso salarial (14,9%); demissão (11,9%) ou demissão de membro da família (4,5%).
Entre as despesas correntes, ou seja, essenciais ao cotidiano, a energia elétrica é a que mais pesa para os consumidores, 43% adiam o pagamento. No entanto, são débitos que costumam ser quitados após um curto período de atraso, uma vez que os serviços são interrompidos, caso a falta de pagamento se prolongue. Foram mencionados, na seqüência, água (21,9%) e telefone fixo (21,1%).