Minas Gerais tem o menor índice de "amigados" do país

18 de Outubro de 2012
por: Tâmara Teixeira

Casamentos formais são 74,1% do total; conservadorismo justifica preferência

 

 
FOTO: MARIELA GUIMARÃES
Oficial. A recepcionista Denise Tos sonha em oficializar a união com o namorado, que já dura sete anos

A fama de conservador dos mineiros foi confirmada pelo cruzamento dos dados do Censo 2010, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Estado tem o menor índice do Brasil de casais que moram juntos, mas não são casados oficialmente - as chamadas uniões consensuais. Entre os mineiros que moram com os companheiros, 25,9% não oficializaram a união no civil nem no religioso. A média nacional é de 36,4%. O Estado com maior percentual é o Amapá, com 63,5%.

A demógrafa do IBGE Luciene Longo afirma que os números retratam uma característica dos mineiros, mais resistentes a mudanças culturais - por isso a união formal ainda tem um peso muito grande. "Mas, aos poucos, o comportamento vai mudando. No próximo levantamento, os números de Minas já devem se aproximar da média nacional", previu.

Mesmo que ainda abaixo da média nacional, o percentual de "amigados" cresceu em dez anos. No ano 2000, o percentual era de 18,8%. No mesmo período, o percentual de casamentos formais caiu de 81,2%, em 2000, para 74,1%, em 2010.

A pesquisa mostra ainda que ser "amigado" é mais comum entre os mais pobres. Entre aqueles que têm renda mensal de até meio salário mínimo, o percentual é de 33,8%. Já entre os mineiros que recebem mais de 20 salários, o percentual cai para 12,4%. "Um dos motivos dessa opção é o fator econômico. Casar é muito caro", disse a demógrafa.

A secretária Shirley Bárbara Feliciano, 35, conta que seus pais estranharam quando, depois de três anos de relacionamento, ela e o namorado, o autônomo Alessandro Leão, 39, decidiram morar juntos. A união já dura dez anos, os pais da secretária já aceitam o relacionamento, e o casal continua acreditando que a formalização do casamento é desnecessária.

"É um gasto que não precisamos. Até podemos casar, mas depois que conseguirmos comprar nossa casa. Isso não vai melhorar ou atrapalhar nossa relação", disse Shirley.

Há ainda aqueles que sonham em oficializar a união. É o caso da recepcionista Denise Tos, 28, que mora com o namorado há sete anos. "Eu ainda quero oficializar tudo. Só estamos esperando o divórcio dele, que está demorando sair", disse.

 

Fecundidade. Além do perfil das uniões, o levantamento mostra que a taxa de fecundidade em Minas caiu de 2,2 filhos por mulher, em 2000, para 1,7 filhos dez anos depois. O Estado tem a sexta menor taxa do Brasil - o índice nacional também caiu, de 2,3 para 1,9.

Para o demógrafo e diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) José Alberto Magno, os casais estão optando pela qualidade de vida. "Sustentar uma criança é muito caro. A escola pode ser gratuita, mas há custos com transporte, roupa, comida, lazer e todo o resto".

O professor alerta, no entanto, que o ideal para se manter o crescimento econômico de uma população é de ao menos 2,1 filhos por mulher. "Se o Estado e o país continuarem com esse índice tão baixo, teremos, em 20 anos, dificuldade de sustentar a economia e teremos que incentivar a imigração".

 

Números
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FOTO: Mariela Guimar?es
Imaturos. Let?cia Lorenzo se casou aos 18 anos e disse que perdeu a liberdade durante a uni
IBGE
Dobram div?rcios no Estado
Falta de maturidade e facilidade para se separar engrossam as estat?sticas
T?mara Teixeira e Nat?lia Oliveira

Dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat?stica (IBGE) mostram que, em dez anos, o percentual de div?rcios em Minas Gerais dobrou. O ?ndice saltou de 1,6%, no ano 2000, para 3,3%, em 2010. O dado ? maior do que a m?dia nacional, de 3,1%. Segundo especialistas, a imaturidade dos casais e a facilidade para se divorciar engrossam as estat?sticas.

Para o professor de ci?ncias sociais da PUC Minas Manuel Neto, o principal motivo para o aumento no n?mero de div?rcios ? que as pessoas est?o se casando cada vez mais jovens. ?O casamento ? muito valorizado na nossa cultura e as pessoas s?o movidas por impulso e se casam cada vez mais cedo. Essa falta de amadurecimento leva aos problemas e ? separa??o?, avaliou Neto.

Esse foi o caso da publicit?ria Let?cia Lorenzo, 39, que casou gr?vida aos 18 anos e teve dois filhos com o ex-marido. ?Eu era muito nova e senti que tinha perdido minha liberdade quando casada. Depois de dez anos junto com meu marido, decidimos nos separar. Fomos imaturos nos casando e o div?rcio era necess?rio?, contou.

Divorciada h? dez anos, ela lembra que o processo foi burocr?tico e penoso. ?Tivemos que ir at? o juiz de reconcilia??o v?rias vezes. Meus filhos sentiram muito?.

Diferentemente do que aconteceu com a publicit?ria, o processo de separa??o do gestor de empresas Rafael Melga?o, 26, no ano passado, foi r?pido. Segundo ele, o casamento durou sete meses e o div?rcio saiu em apenas dois. ?Nossa rela??o ficou desgastada. A facilidade que temos hoje para conseguir a separa??o fez com que o casamento perdesse aquele significado de amor eterno?, concluiu Melga?o.

Para a dem?grafa do IBGE Luciene Longo, a explos?o de div?rcios est? relacionada a lei de julho de 2010, que facilitou o processo. Desde a publica??o da norma, o per?odo de separa??o, de um ano, n?o ? mais necess?rio. Segundo a especialista, a tend?ncia ? que o n?mero de div?rcios cres?a ainda mais. ?A nova legisla??o deixou tudo mais simples. As pessoas podem casar em um dia e separar no outro?.

Detalhes
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Minas
Tiradentes, campeã em casais gays
A cidade de Tiradentes, na regi?o do Campo das Vertentes, ? o primeiro munic?pio mineiro e o terceiro brasileiro em percentual de casais homossexuais ? 0,14% ?, segundo os dados do IBGE. No Estado, 4.944 casais do mesmo sexo declaram que vivem juntos. O n?mero representa 7,3% do total do pa?s. N?o h? compara??o com o ano 2000.

O pa?s tem 60 mil casais homossexuais. Mais da metade dessas pessoas vive na regi?o Sudeste (52,6%). Entre as dez cidades do Brasil com maior percentual de casais gays, est?o outras duas cidades mineiras: Pequeri, com 0,13%, e Rodeiro, com 0,12%, as duas na Zona da Mata. Belo Horizonte ? a 15? capital com maior ?ndice de casais homoafetivos: 0,05%.

Depois de um ano de relacionamento, a professora L.M.,33, decidiu morar com a namorada. Elas vivem juntas h? tr?s meses. ?Os meus pais estranham essa situa??o e n?o querem saber como n?s vivemos. Mas o amor ? o que nos une. Ainda n?o pensamos em oficializar a uni?o?, disse a professora que pediu para n?o ter o nome divulgado. (TT)
Fonte: O TEMPO
 

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