Consumo vai ancorar o PIB em 2012
Analistas ressaltam que o governo repete fórmula de anos anteriores para garantir expansão da economia
MARCOS ALVARENGA |
Medidas como a redução do IPI para eletrodomésticos da linha branca são positivas, mas têm efeito curto |
Não restam dúvidas de que o crescimento, mesmo que modesto, do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2012 vai ser motivado pelo aumento do consumo das famílias. Para isso, o governo federal recorre à mesma estratégia de anos anteriores, baixar juros e impostos, levando milhões de brasileiros às compras. Embora as medidas ajudem a manter a expansão da economia, principalmente em momentos de incerteza no cenário internacional, especialistas alertam que o foco a partir de 2013 deve ser em outros componentes do PIB, como os aportes em infraestrutura e o estímulo ao setor produtivo.
A preocupação é compartilhada pelo presidente da Ordem dos Economistas do Brasil e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (Feausp), Manuel Enriquez Garcia. Para ele, o problema não é apostar, em períodos de crise, em ações que geram impactos imediatos, como a redução na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos, móveis e eletrodomésticos. "Quando o foco do governo passa a ser o consumo, a economia reage e apresenta resultados positivos. Porém, estes não são altos e não se sustentam por muito tempo", argumenta.
Embora os índices de inadimplência se encaminhem para uma acomodação, a população continua endividada, situação que deve se manter por algum tempo, uma vez que o governo facilitou o acesso a bens duráveis, aqueles normalmente financiados em um grande número de prestações. Mesmo assim, Garcia prevê que os estímulos devem continuar a ser concedidos, sobretudo ao setor automotivo, devido ao peso que o segmento tem para o Brasil.
Quem está de acordo com ele é o professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Reginaldo Nogueira. "Se o crédito se torna muito fácil e o consumo tem uma ascensão forte, a taxa de inadimplência, mesmo que agora esteja controlada, pode voltar a subir, o que talvez impacte o custo de novos empréstimos no futuro. Assim, os juros podem aumentar novamente, o que inibe novos investimentos, sobretudo externos", avalia.
Preços - Para ele, a postura do governo em relação à continuidade das medidas de estímulo ao consumo depende do comportamento dos índices de preços, que medem a inflação. Caso eles não recuem, não há espaço para que os incentivos fiscais continuem a vigorar. "Pode ser que seja preciso frear a demanda, para que ela cresça conforme a oferta", afirma. Na visão do especialista, estimular o PIB unicamente pelo lado da demanda demonstra sinais de esgotamento. Portanto, a tendência é que mais esforços sejam feitos no sentido de ampliar o investimento privado e a oferta.
Nogueira tece elogios às medidas que beneficiam o setor produtivo, como a redução em até 28% das tarifas de energia elétrica para o consumidor industrial, que começa a valer a partir do início de 2013. Porém, este é apenas um primeiro passo e não elimina a necessidade de reformas tributárias e trabalhistas, que se tornam mais urgentes a cada dia e que para começarem a surtir efeito deveriam, conforme Nogueira, começar a ser implantadas antes do próximo ano eleitoral, em 2014.
Apesar de o consumo hoje parecer alto demais para alguns, outros apontam que o crescimento aconteceria mais cedo ou mais tarde, como forma de cobrir um déficit observado há décadas. Para o professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBS), Robson Ribeiro Gonçalves, o consumo das famílias é exagerado apenas quando comparado ao investimento produtivo, que ficou estagnado em 2012.
Fonte: Diário do Comércio