Rentabilidade dos bancos é a menor desde 1990
Balanço negativo ajudou a afundar a Bovespa ontem, que caiu 1,72%
SÃO PAULO. A rentabilidade dos dois maiores bancos privados do país, Itaú e Bradesco, atingiu o pior nível observado desde a década de 90 no terceiro trimestre deste ano, segundo análise da consultoria Economatica. A análise foi feita com base no índice de Rentabilidade sobre o Patrimônio (ROE), que é a capacidade que a empresa tem de gerar lucro e fazer novos investimentos e aquisições apenas com o patrimônio que já possui.
Segundo a Economatica, o ROE do Itaú no semestre passado ficou em 17,8% - porcentagem próxima aos 17,1% registrados no quarto trimestre de 1997. No caso do Bradesco, o índice atingiu 18,4% - nível próximo aos 16,2% observados no quarto trimestre de 1999. O cálculo do ROE feito pela Economatica leva em consideração o lucro acumulado e o patrimônio médio das empresas nos últimos quatro trimestres. A pressão do governo federal para os bancos reduzirem seus spreads (ganhos nas operações de crédito) é apontada como principal fator nessa queda na rentabilidade.
O Itaú Unibanco, maior banco privado do Brasil, divulgou ontem lucro líquido recorrente de R$ 3,41 bilhões no terceiro trimestre, valor 13% menor do que os R$ 3,94 bilhões registrados no mesmo período do ano passado. Na relação com o segundo trimestre, o recuo foi menor, de 4,8% (R$ 3,58 bilhões).
A inadimplência para débitos com atraso acima de 90 dias ficou em 5,1% em setembro, acima dos 4,7% do terceiro trimestre de 2011 e leve redução, de 0,1% na relação com junho de 2012. As provisões (dinheiro que o banco tem de ter em caixa para se precaver de calotes de clientes) cresceram 19,7% no trimestre, na comparação com o terceiro trimestre de 2011. "Esse nível de provisionamento é atribuído, principalmente, à alta inadimplência verificada nas carteiras de veículos e ao aumento de volume das carteiras de crédito pessoal", informou o banco.
No balanço, o banco cita os efeitos da redução da margem financeira em decorrência dos cortes da taxa básica de juros, a Selic, entre outros fatores. A margem financeira da instituição recuou para R$ 12,82 milhões, ante os R$ 13,46 milhões registrados no segundo trimestre.
O Itaú Unibanco está próximo de ultrapassar a marca de R$ 1 trilhão em ativos, de acordo com o diretor Corporativo de Controladoria do banco, Rogério Calderón. "Devemos atingir esta marca nos próximos meses", disse.
O resultado do Itaú ajudou a derrubar a Bolsa de Valores de São Paulo Ontem. O principal índice da Bolsa paulista encerrou com declínio de 1,72%, aos 57.690,24 pontos - menor pontuação desde 5 de setembro. As ações PN do Itaú e da holding Itaúsa figuraram entre os destaques de queda do Ibovespa, com recuo de 3,17% e 3,20%, respectivamente
Bradesco. O Bradesco abriu a temporada de balanços dos bancos na segunda-feira e reportou um lucro praticamente estável, de R$ 2,89 bilhões no terceiro trimestre, com a expansão dos empréstimos e das receitas com serviços ofuscadas por provisões para crédito na comparação anual. O lucro do segundo maior banco privado do país cresceu cerca de 1% sobre um ano antes e também ante o segundo trimestre.
Seu filho, Luis Octavio, foi preso na noite de anteontem. Ele é suspeito de crimes contra o sistema financeiro e contra o mercado de capitais, além de lavagem de dinheiro, segundo a PF. Caso seja indiciado pela polícia, o banqueiro pode pegar entre um e 12 anos de prisão se condenado.
Na noite de segunda-feira, após a divulgação da prisão de Luis Octavio, o advogado dele, Roberto Podval, disse que ainda não tinha tido acesso ao pedido de prisão de seu cliente. Segundo a PF, também foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro contra dois altos executivos do banco.
A Justiça não determinou a prisão dos administradores, mas fixou fianças de R$ 1 milhão e R$ 1,8 milhão e decidiu, como medida preventiva, proibi-los de viajar para o exterior e de exercer atividades no mercado financeiro.