Quem não bebe socialmente pode se dar mal no trabalho

24 de Outubro de 2012
por: Douglas Quenga

Hábito de participar de happy hour já foi tema da campanha de Obama nos EUA

 

 
FOTO: BEATRICE DE GEA/THE NEW YORK TIMES
Dica. Uma alternativa para quem não bebe álcool, mas tem de participar de happy hours etílicos, é pedir a água em um copo diferente

Nova York, EUA. Mesmo com o número de almoços regados a martínis e as reuniões de equipe abastecidas com uísque diminuindo, muitos dos rituais de negócios norte-americanos continuam se desenvolvendo ao redor do álcool. Assim, para os profissionais que se abstêm da bebida - por motivos de saúde, religião, recuperação ou simplesmente por preferência pessoal - pode, algumas vezes, parecer difícil progredir se você não está disposto a tomar pelo menos uma dose.

"Se você fala que não bebe, você precisa lidar com as suspeitas de que não sabe jogar o jogo", afirma o diretor de um programa especial de tratamento para profissionais do direito, Link Christin.
Como executivo de vendas de anúncios da revista "Forbes", Terry Lavin trabalhou muito para conquistar sua reputação como um bom companheiro de copo. "Basicamente, eu tinha uma cadeira cativa no bar. Sempre era o último a sair", lembra.

Em um negócio baseado em afinidades, esse papel o ajudou a obter sucesso. Até 2010, quando ele decidiu dar um tempo para seu corpo e parou de beber por seis meses. "Eu ligava para os caras com quem tinha uma boa relação e que tinham um grande orçamento para investir em anúncios para chamá-los para um happy hour ou para comer alguma coisa, e eles falavam ‘você está bebendo? Não? Então deixa pra lá’", ele recorda.

Política. Para ver esse comportamento na prática, basta observar as eleições presidenciais nos Estados Unidos. Como parte de seu discurso para os eleitores de que Mitt Romney - um mórmon abstêmio que é diferente da maior parte dos norte-americanos -, o presidente Barack Obama ostentou seu gosto de "cara normal" por uma cerveja. "Ontem fui à Feira Estadual, comi um espetinho de porco e tomei uma cerveja. E estava ótimo", ele declarou para uma audiência lotada em Iowa. Foi ovacionado pela multidão.

Para figuras menos públicas, a noção de que pessoas que não bebem não conseguem uma boa performance nos negócios - ou, pior, não são dignas de confiança - pode impedir o progresso profissional.

"Há uma percepção de que você é impotente", afirmou um abstêmio, editor de uma revista voltada para o público que bebe. Ele pediu para não ser identificado na matéria, já que muitos de seus colegas não sabem que ele acabou de entrar para um programa de desintoxicação do álcool.

Naturalmente, a abstemia e o sucesso não se excluem mutuamente. Warren Buffett, Donald Trump, Joe Biden e Larry Ellison levaram uma vida abstêmia, e o sucesso também não faltou na vida de Mitt Romney. Além disso, as mulheres sóbrias podem até mesmo se beneficiar de um velho padrão. "Espera-se que os homens se juntem e fiquem insanos, mas as pessoas ainda olham torto quando as mulheres fazem o mesmo", afirma o terapeuta John Crepsac. "Há diversas coisas pelas quais as mulheres são discriminadas no mundo do trabalho, mas essa não é uma delas", complementa.

Traduzido por Raquel Sodré

 
Rotina
Abstemia tem suas vantagens
Nova York. Diversas pesquisas comprovam a ideia de que os abstêmios têm mais dificuldade para subir os degraus da escada corporativa. Essa pressão para mostrar resultados pode, às vezes, fazer com que profissionais em recuperação do alcoolismo tenham recaídas. Esse é um dos motivos que levaram a rede de centros de reabilitação de álcool e drogas Hazelden a criar, nos Estados Unidos, um grupo de apoio especial para advogados que estão tentando ficar sóbrios.

Os abstêmios tendem a desenvolver estratégias para socializar profissionalmente sem o álcool. Alguns pedem um drinque no bar e simplesmente não o bebem. Outros apelam para o humor. "Eu digo para as pessoas que estou grávido", brinca um corretor de ações de Wall Street que pediu para não ser identificado.

O executivo de vendas de anúncios da revista "Forbes" Terry Lavin - que está escrevendo um livro - aconselha a pedir o drinque em um copo que disfarce a falta de álcool. "As pessoas ficam mais tranquilas se você beber sua água tônica em um copo de uísque", revela.

Mas, justiça seja feita, parar de beber também tem suas vantagens sociais. O ex-diretor de finanças e proprietário de uma clínica de reabilitação para executivos em Nova York Joe McKinsey afirma que levou somente uns meses para passar do "ridículo" para o "respeitável" depois de sua própria reabilitação. "Algumas pessoas te agarram, perguntando ‘você acha que eu tenho um problema?’ Eu acabei virando o conselheiro oficial quando as pessoas precisam de uma conversa em particular". (DQ/NYT)
Fonte: New York Times
Minientrevista
"A empresa observa os extremos prejudiciais"
No Brasil se tem a mesma noção norte-americana de que quem não bebe socialmente pode não se dar bem no trabalho?Não ouço falar muito disso em nosso país, mas a empresa observa os extremos prejudiciais que possam atingir o indivíduo ou afetar sua produtividade. Eu percebo que querer ser mais social, sempre em ambientes informais e que possam ajudar a ampliar uma rede de relacionamentos, resulta em um maior convívio e na abertura das pessoas. Mas não deve ser nada exagerado ou desagradável.

Do ponto de vista do RH, o que significa beber socialmente? Aceitar convites, estabelecer convívios, fazer amigos. Pois, assim, se pode criar laços que muitas vezes ajudam profissionalmente ou até mesmo trazem ganhos para o negócio, falando do contexto publicado na matéria.

Para a empresa, há algum benefício? Depende da organização, do negócio. Em alguns ambientes, como almoços e jantares, é, sim, proveitoso no sentido profissional. Mas isso não é regra para todas situações.

O que é importante observar em um encontro de negócios regado a bebida? Devemos avaliar o contexto em que isso acontece. Se, nos EUA, essa "abertura" dá certo, deve-se pensar que, no Brasil, nem todos agem assim. (Da Redação)
Fonte: O TEMPO

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