Brasileiros já chamam dívidas de investimentos planejados
Apenas 7% das pessoas dizem não ter condições de pagar seus débitos
Seis em cada dez famílias brasileiras têm dívidas, mas apenas duas estão com contas em atraso. As outras consideram as linhas de financiamento como investimento, já que são utilizadas para compra de imóvel, carro e outros bens duráveis. Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Como encaram os financiamentos como investimento, as famílias não se classificam como alto seu nível de endividamento. Em outubro do ano passado, 15,9% dos entrevistados se diziam muito endividados, percentual que caiu para 11,7% nestes mês, o menor nível já verificado na pesquisa. "O brasileiro está num processo de aprendizagem, ficando mais consciente e se programando melhor para usar o crédito", acredita o coordenador do curso de economia da Newton Paiva, Adriano Miglio.
Ele explica que o alto nível de concessão de crédito no Brasil não é um problema. "Os problemas são o alto custo e o uso errado do crédito", diz. Em agosto, segundo Banco Central, a concessão de crédito no país atingiu R$ 2,211 trilhões, o equivalente a 51% do Produto Interno Bruto (PIB). O percentual é um recorde histórico. Em dez anos, a carteira de crédito dobrou no país.
A pesquisa mostra ainda que apenas 7% das pessoas dizem não ter condições de pagar suas dívidas. Há um ano, o percentual era de 8,2%. Miglio lembra que, muitas vezes, a inadimplência é provocada por um descontrole financeiro, e agravada pelos juros e encargos cobrados do devedor. "As pessoas estão aprendendo a trocar uma dívida mais cara, como a do cartão de crédito, por uma mais barata, para conseguir pagar’, afirma.
É o caso da secretária Luciana Barbosa, que pegou um empréstimo há dois anos, não conseguiu pagar e agora está renegociando para encaixar a dívida no orçamento e limpar o nome. "Peguei um empréstimo no banco e acabei me descontrolando. Às vezes, o que a gente ganha não dá pra segurar as contas. Eu não consegui pagar nos prazos e, agora, devo duas vezes o valor do meu salário", explica.
Ela diz que, hoje, não faria uma dívida tão grande. "Meu nome está sujo. Hoje eu não assumiria uma dívida como essa, nem perderia o controle dos pagamentos", diz. A secretária espera renegociar os pagamentos e sair da inadimplência dentro de um ano.
Já o financiamento de imóvel foi mencionado por 5,7% das famílias, ante um montante de 3,3% em outubro de 2011. "O aumento no endividamento com carros foi provocado pelos incentivos do governo, como redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e taxa de juros. No financiamento imobiliário também há toda uma política de incentivos, como o programa Minha Casa Minha Vida. Há um crescimento grande no mercado imobiliário, acompanhado pela queda nos juros e aumento no poder de compra das famílias", justificou a economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Marianne Hanson.
Ela lembrou que as famílias brasileiras estão se comprometendo mais com financiamentos de longo prazo para comprar bens e não apenas com dívidas.