Panfleto homofóbico provoca indignação no condomínio JK
Folhas com o teor ofensivo foram entregues nos cerca de 440 apartamentos
Um panfleto com conteúdo homofóbico distribuído no condomínio JK, no centro da capital, gera polêmica entre moradores do bloco B do edifício. Na última semana, o comunicado trazendo uma mensagem ofensiva e palavrões foi deixado sob a porta dos cerca de 440 apartamentos do prédio. Alguns condôminos classificaram o texto como preconceituoso e, apesar de ele ser assinado pelo Movimento de Proteção dos Moradores do JK, acreditam que o material foi distribuído pela própria administração do edifício.
Para o advogado Ângelo Moura, 38, o recado foi direcionado a ele e veio como resposta a uma página criada no Facebook. Intitulada "Reage, JK", a comunidade virtual tem o objetivo de expor as falhas na gestão do prédio. "Estou aqui há dois anos e comecei a questionar algumas coisas que estavam erradas. Mas tentam acabar moralmente com todas as pessoa que contestam", diz Moura, que é homossexual assumido e diz já ter passado por inúmeros problemas com a síndica. Além da mensagem anônima, cartazes chamando o advogado de bandido teriam sido afixados em corredores e em elevadores.
O designer Rafael Maia, 27, também recebeu o comunicado e diz ter se sentido ofendido. "Sou morador do condomínio há cinco anos, e esse movimento nunca tinha dado as caras. Na verdade, o prédio já tem um jornal interno com conteúdo bastante preconceituoso", afirma.
Maia destaca que os papéis distribuídos teriam sido pagos com a verba do próprio condomínio, já que as folhas foram impressas no escritório da administração. "Essa questão da homossexualidade é frequente. Depois da reforma da praça Raul Soares, falam que os bares estão perdendo dinheiro por causa dos homossexuais. Mas isso não é verdade".
Procurações. Os moradores do JK ainda reclamam que, para conseguir uma vaga de garagem, são obrigados a assinar uma procuração concedendo o voto para a síndica nas próximas eleições do condomínio. Além do advogado Ângelo Moura, o publicitário Guilherme Albuquerque, 32, foi obrigado a assinar o documento. "Esperei por um ano e meio. Até que eles disseram que a vaga tinha saído, mas que eu tinha que assinar", conta.
Uma aposentada de 72 anos, que preferiu não ser identificada, reconhece ter dado a procuração à síndica, mas acredita que ela não seja a responsável pela mensagem. "Eles dizem isso porque ela é mão de ferro. Mas isso traz segurança. Não acredito que seja coisa da administração".
O advogado Kênio Pereira, especialista em direito imobiliário, diz que o condomínio não pode proibir a entrada de visitante. As assinaturas das procurações também seriam ilegais. "Nenhum síndico pode condicionar uma reivindicação à assinatura de uma procuração. Se isso acontecer, deve ser denunciado na assembleia". (JHC)
Outros problemas já aconteceram? A síndica me chamou para conversar. Aos gritos, ela me chamou de pedófilo e advogado de porta de cadeia. Isso é um absurdo.
O que o senhor achou da mensagem? É uma violação da minha residência. A homofobia é recorrente aqui. Já tivemos vários casos.
O senhor pretende denunciar ou processar o condomínio? Não pretendo fazer nada. Mas estou reunindo documentos e pretendo lutar até o fim contra essa administração. (JHC)
Fonte: O TEMPO