Consumidores buscam saldar débitos
Em outubro, diz Fecomércio, 17,3% dos entrevistados não planejavam gastar
ALISSON J. SILVA |
O principal compromisso financeiro para 58,4% dos consumidores ouvidos é pagar o cartão de crédito |
Faltando pouco mais de um mês para o Natal, o consumidor prioriza o pagamento dos débitos em atraso, além de evitar gastos supérfluos. A conclusão é de um levantamento divulgado ontem pela Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas). Em outubro, uma parcela menor, de 17,3%, afirmou não planejar os gastos, contra os 18,1%, apurados no mês imediatamente anterior. Simultaneamente, os entrevistados que adquiriram algum bem por impulso somaram 48,6%, retração de 1,7 ponto percentual, frente aos 50,3% de setembro.
No entanto, o levantamento identifica que as famílias ainda precisam disciplinar melhor os gastos, a fim de evitar o endividamento em excesso e a inadimplência. Isso porque, entre os 82,6% que afirmam planejar as despesas mensais, apenas 37,7% seguem à risca o que propuseram. A maior fatia, de 39,4%, cumpre parcialmente, enquanto que 5,5% nunca colocaram o plano em prática. "Os últimos anos foram marcados pela ascensão social de uma parcela significativa da população. Agora, o desafio é saber gerir os recursos que se têm em mãos", explica o supervisor de Pesquisa da entidade, Eduardo Gonçalves Dias.
Ele observa que a ampliação do crédito, aliado ao aumento da massa salarial, contribuem para que o consumidor hesite menos antes de contrair um novo débito. Ele recorda que, em setembro de 2009, em meio à crise financeira global que na época atingia principalmente os Estados Unidos, a diferença entre os consumidores que planejavam os gastos e os que compravam por impulso era de 0,2%. Hoje, o gap chega aos 31,3%. "Hoje, em decorrência das baixas taxas de desemprego, o consumidor se sente mais estável no emprego e confiante para gastar", acrescenta.
Com tantas tentações expostas pelas vitrines e um déficit de consumo provocado pela anterior situação socioeconômica do país, o salário de 53,8% dos entrevistados corresponde ao exato valor das despesas. Apenas 35,8% pagam o que devem e, ainda, conseguem destinar parte do salário a algum fundo de investimento, emergência ou outras atividades. Os 10,4% restantes se dizem altamente endividados, sendo que 8,9% recorrem a algum tipo de financiamento para eliminar os débitos pendentes.
Além de recorrerem aos financiamentos, os consumidores traçam a outras estratégias em períodos nos quais o mês é maior que o salário. A maioria, 30,2%, deixa de consumir produtos supérfluos, outros 23,7% deixam de pagar alguma conta ou prestação e 20,1% recorrem à poupança. Já aqueles que concluem o mês antes de a conta bancária entrar no vermelho empregam o excedente com lazer (33%); pagam contas em atraso (24,6%) ou aplicam na poupança (17,3%).
Cartões - Na era do crédito, nada mais natural que o principal compromisso financeiro seja o "dinheiro de plástico" para 58,4% dos consumidores entrevistados, seguido pelo financiamento de carro (8,3%). Embora permaneça na vice-liderança, foi observada queda de dois pontos percentuais frente a setembro, uma vez que, no nono mês do ano, o mercado automotivo estava mais aquecido. Em seguida, foi mencionado o carnê de loja, 5,5%.
Entre os consumidores que fazem uso recorrente do cartão de crédito, 78,2% optam pela modalidade parcelada, enquanto apenas 21,8% preferem pagar à vista. Dias, no entanto, enfatiza que a porcentagem poderia ser facilmente invertida, caso os lojistas oferecessem descontos mais generosos ao cliente que quitassem os produtos no ato da compra. "O comprador precisa entender que é vantajoso optar pelo desconto, por menor que ele pareça, em vez de observar apenas se o valor da prestação é compatível com o salário e desconsiderar os juros embutidos nelas", alerta.
Os dados da pesquisa estão de acordo com a visão do especialista. Isso porque, 84,5% afirmaram que pagariam à vista, caso fosse concedida redução nos preços. A Fecomércio Minas entrevistou, entre os dias 23 e 26 de outubro, 400 pessoas. O intervalo de confiança da amostra é de 95% e a margem de erro é de cinco pontos percentuais, para a amostra como um todo.
Fonte: Diário do Comércio