Mercado faz "promoção" para reduzir inadimplência no país

26 de Junho de 2012
por: Juliana Gontijo
O incremento nos índices inadimplência e o aumento do endividamento das famílias fizeram os varejistas, bancos e operadoras de cartão de crédito flexibilizarem as condições para recuperar o crédito em atraso. Para os especialistas, quem tem dívidas em atraso deve buscar renegociação. "É um momento ímpar para os consumidores endividados", observa o economista da Fecomércio Minas, Gabriel de Andrade Ivo.

E as opções oferecidas pelas instituições que oferecem crédito são as mais variadas, passando pelo prazo mais longo para o pagamento até a extinção da cobrança de multa ou de outras taxas, num movimento que só encontra paralelo na época do Plano Collor, quando a economia praticamente entrou em colapso após o confisco da poupança.

Conforme dados do Banco Central (BC), a taxa de inadimplência das pessoas físicas chegou a 7,64% em abril deste ano, percentual superior aos 6,12% registrados no mesmo mês de 2012. E o maior em 15 anos.

De acordo com profissionais de mercado, o parcelamento das dívidas, que antes era de no
máximo três meses, passou a ser, na média, de 12 vezes. Mas há casos em que o alongamento chega a 24 meses. E os juros de mora, de 10%, em alguns casos, podem ser zerados. A mesma regra funciona no caso das multas, que antes equivaliam a 2% sobre o valor do débito.

Segundo o presidente do Instituto Gestão de Excelência Operacional em Cobrança(Igeoc), que congrega 18 das maiores empresas de recuperação de crédito do país, Jair Lantaller, nem mesmo na crise de 2008 teve condições tão favoráveis, talvez porque a perspectiva era de melhora mais rápida na inadimplência naquela época. Ele afirma que esse movimento ganhou corpo nos últimos dois meses, com as notícias de novo repique dos índices de inadimplência.

As condições da renegociação variam de banco para banco. No Banco do Brasil, por exemplo, até meados de abril era cobrada taxa de 3% ao mês na renegociação a título de mora. Agora, essa taxa é de 2,4% mensais, conforme o gerente de reestruturação de ativos do banco, Rodolfo Scheidemantel Neto. Ele salienta que o percentual muda de cliente para cliente. "Mas conseguimos colocar essa taxa menor na renegociação por causa da nova conjuntura econômica e dos menores patamares da taxa básica (Selic)", diz.

Na Losango, financeira do HSBC e que também faz o serviço de cobrança, as regras de renegociação estão mais flexíveis de dois meses para cá. Se o motivo do atraso é a perda do emprego, a empresa promete oferecer melhor prazo ou taxa menos salgada.

O executivo-chefe da Losango, Hilgo Gonçalves, ressalta que a intenção da financeira é, cada vez mais, "buscar uma solução para cada tipo de cliente". Ele explica que a política de reparcelamento de dívidas pode ser feita em até 24 meses. Um consumidor em atraso de até 180 dias, na Losango, recebe desconto nos encargos de até 75% e o novo parcelamento em um prazo de até 18 meses, com taxa de 1% ao mês.

Em alta

Em BH. A taxa de inadimplência em maio ficou em 6,2%, em Belo Horizonte, acima da apurada pela Fecomércio Minas referente aos meses de março/abril, que ficou em 5,8%.

 

Análise
Situação está tranquila e não há risco de "bolha"
Apesar do aumento da inadimplência neste ano, especialistas não consideram a situação como alarmante. "Acho que acendeu a luz amarela", defende o professor de Finanças IBS/FGV, Ewerson Moraes. Para ele, a inadimplência está num patamar alto, mas não fora de controle. "Se o país estivesse em outras condições, talvez fosse preocupante, mas o Brasil ainda está crescendo. Vários setores ainda reclamam da dificuldade de encontrar mão de obra", diz.

O coordenador acadêmico da faculdade Ibmec, Paulo Henrique Cotta Pacheco, também afirma que a inadimplência acendeu o sinal amarelo. "Não é bolha, é controlável. Agora, tudo vai depender do comportamento do endividamento nos próximos meses. Afinal, ele interfere na inadimplência", observa.

O vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, afirma que a taxa de inadimplência no país não está em patamares assustadores. "No geral, o que leva as pessoas a terem dificuldades em realizar os pagamentos em dia é a falta de planejamento, além dos juros altos cobrados pelas operadoras de cartão de crédito e cheque especial", ressalta.

De acordo com a Fecomércio Minas, 55,3% dos compromissos financeiros se devem ao cartão de crédito.(JG)
 
Fonte: O TEMPO

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