Novas apostas para a cotação do dólar chegam a R$ 2,30

03 de Dezembro de 2012
por: Deco Bancillon

Com o crescimento do PIB em apenas 0,6% no terceiro trimestre, analistas dizem que cotação da moeda pode chegar aos R$ 2,30

 

 

Novo teto para a divisa norte-americana é visto como forma para estimular o crescimento da economia no próximo ano, segundo especialistas (GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS - 21/9/11)  
Novo teto para a divisa norte-americana é visto como forma para estimular o crescimento da economia no próximo ano, segundo especialistas
 
Brasília – Soou o sinal de alerta na Esplanada dos Ministérios. Com a raquítica expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,6% no terceiro trimestre e a constatação de que as medidas de incentivo ao consumo tiveram um fracasso retumbante, o Palácio do Planalto determinou à equipe econômica que encontre novas soluções para garantir a retomada da economia. Nesse cenário, já há quem defenda dentro do governo que o câmbio será o novo instrumento a ser usado ao estímulo do crescimento. Especialistas já chegam até a fazer apostas de que o dólar pode chegar à casa dos R$ 2,30.
Até sexta-feira vigorou no mercado a tese de que o governo trabalhava com uma banda informal para a cotação do dólar. Esse intervalo seria algo entre R$ 2 e R$ 2,10. Sempre que a moeda ultrapassava esse limite, o Banco Central (BC) atuava no mercado vendendo dólares para trazer a cotação da divisa para abaixo dos R$ 2,10.

Essa foi a regra geral até a divulgação, também na sexta-feira, do resultado pífio do PIB. Com o governo ainda juntando os cacos da economia, o mercado viu uma brecha para testar um novo limite de alta do dólar. Sem a ação do BC, a divisa encerrou o pregão no maior patamar desde maio de 2009, cotada a quase R$ 2,13. Para analistas, essa nova marca alimenta a discussão sobre qual o limite para a alta do dólar no país. “Todos estão se perguntando até onde vai essa política mais intervencionista do governo Dilma”, dispara o economista sênior do BES Investimento, Flávio Serrano. “No fundo é isso o que vai definir o ano de 2013”, devolve o economista da Tendências Rafael Bacciotti.

Não é preciso muito esforço para enxergar os objetivos do governo com o câmbio desvalorizado. O economista-chefe da Votorantim Wealth Management, Fernando Fix, entrega o jogo. “Dada a fraqueza do setor industrial brasileiro, que é muito sensível à variação do dólar, a sinalização que temos hoje é que o governo deverá usar o real mais fraco para dar competitividade à indústria em 2013”, diz.

 
Prejuízo Tido como o maior beneficiado dessa medida, o setor produtivo tem observado com cautela a disparada do câmbio. Ainda que, em tese, um dólar mais forte ajude a indústria a ganhar competitividade, grandes empresas que possuem dívidas em moeda estrangeira contabilizam prejuízos devido à disparada da divisa norte-americana.
Essa alta de custos já apareceu nos balanços divulgados pelas empresas no segundo e terceiro trimestres, quando, após uma série de intervenções do BC, a divisa pulou de R$ 1,72, em fevereiro, para R$ 2,03, em outubro. Como consequência, o endividamento das empresas não financeiras aumentou 3,6% no período, chegando a US$ 103,5 bilhões. Em valores, significou um aumento de US$ 3,6 bilhões no passivo das companhias.

 
Inflação limita estímulos

A maior disposição do governo em usar a alta do dólar para estimular o crescimento coloca o Banco Central (BC) em uma encruzilhada. Quanto mais a autoridade monetária permitir que o dólar suba para ajudar o crescimento econômico, maior será a sua dificuldade de controlar uma inflação já galopante ao consumidor. Economistas são enfáticos ao afirmar que uma alta de 10% na cotação da moeda norte-americana provocará uma elevação que pode variar entre 0,3 e 0,5 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

“Não será tarefa fácil administrar um impacto dessa magnitude em uma inflação que, em 2013, deverá encerrar o ano em torno de 5,5%”, diz o economista Rafael Bacciotti, da consultoria Tendências. O governo tem como meta entregar uma inflação de 4,5% ao ano, com uma tolerância de dois pontos para cima ou para baixo.

Em 2012, mesmo com todas as desonerações dadas pelo governo, que resultaram em preços menores para carros, material de construção, geladeiras e outros eletrodomésticos, esse índice já acumula alta de 5,64%, em 12 meses encerrados até meados de novembro. “Por isso, a não ser que o BC abandone o regime de metas de inflação, o que não parece o caso, acho pouco provável que essa alta do dólar vá para muito acima de R$ 2,20, estourando R$ 2,30”, reflete o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno.

Para alguns analistas, além da disposição do governo, há espaço para que a divisa ganhe ainda mais força em 2013. Parte dessa avaliação se baseia no cálculo da chamada taxa de equilíbrio para o câmbio — uma correlação entre os fundamentos da economia e o poder de compra da moeda. Um relatório produzido pelo banco norte-americano J.P. Morgan mostrou que, dadas as condições do Brasil, a cotação ideal para o dólar seria de R$ 2,45.

Por essa conta, mesmo a valorização de 23,8% do dólar nos últimos 10 meses ainda não conseguiu evitar uma sobrevalorização prejudicial à moeda brasileira e à indústria brasileira. Para o economista Flávio Serrano, do BES Investimento, não será o câmbio o salvador da pátria brasileira. (DC)

 

Fonte: Correio Braziliense

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