Nove pontos de alagamento vão rodear nova rodoviária
Especialistas temem uma tragédia com a mistura de fluxo intenso e temporais
A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) reconhece o problema e afirma que o que há até agora são estudos sobre obras que podem acabar com os alagamentos, mas não há recurso ou projeto para elas.
Já o diretor de planejamento da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), Célio de Freitas, garantiu que o novo terminal não irá aumentar o fluxo na região e que as enchentes não devem trazer transtornos, pois "o principal acesso será o Anel Rodoviário".
"O usuário da atual rodoviária já adota um caminho alternativo quando há inundação (quem precisa passar pela Cristiano Machado). Ele terá que adotar esse hábito para o novo terminal também", disse. O representante da BHTrans sugeriu os bairros São Paulo e Universitário como rotas alternativas.
O fluxo na região, segundo Freitas, também não deve aumentar. Ele disse que 70% dos usuários vão usar o metrô - com só uma linha, de 28 km, de Venda Nova ao Eldorado, em Contagem. Ele também não demonstrou preocupação com a possibilidade de a água subir em meio a um congestionamento nas vias próximas ao terminal. "O volume de tráfego já é grande. Se tem um carro ou dez na via, a situação é a mesma".
Perigo. "Isso pode acabar mal. Vai aumentar o fluxo de carros na região, e, em véspera de feriados e sextas-feiras, o trânsito já fica caótico. O risco de uma tragédia com a combinação de chuva e engarrafamentos é muito grande", afirma o especialista em trânsito e assuntos urbanos José Aparecido Ribeiro. Ele ressalta também que a velocidade da subida da água é alta e que os estragos na região são relevantes e se repetem todos os anos.
"A cidade tem que se preparar porque a época de maior demanda, com férias e fim de ano, é a de chuva", completou o especialista em trânsito Ronaldo Gouvêa.
Cursos d’água como os córregos do Onça, Cachoeirinha e Gorduras fazem da região Nordeste da capital uma área delicada, com pontos que oferecem riscos à população em épocas de chuva. Para o comerciante Valmir Antônio da Silva, 55, que mora e trabalha às margens da Cristiano Machado, os alagamentos já deixaram marcas profundas. A maior delas, a morte da irmã, que depois de perdeu tudo em uma enchente no ano passado, acabou entrando em depressão. "Ela tinha comprado vários móveis e perdeu tudo", contou.
Neste ano, uma outra irmã de Silva deixou a casa, com medo de perder seus pertences. A loja do comerciante ainda traz a marca da água na parede.
Para o especialista em trânsito José Aparecido Ribeiro, a tendência é que os problemas piorem. "É uma região densamente povoada e próxima a um corredor que liga Belo Horizonte ao aeroporto de Confins. Em breve, aquilo estará impraticável". (JHC)
Fonte: O TEMPO