Uma mulher é assassinada no Brasil a cada duas horas
Indicador serve para apontar que crescimento da violência é geral
Segundo a cientista política Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais (Nepem/UFMG), o femicídio - assassinato de mulher - é um indicador do aumento geral da violência. "O homicídio é a ‘ponta do iceberg’. Outros crimes ligados à violência contra a mulher estão crescendo ainda mais. Isso é o ponto final de um processo de desabrigação social que não começa com um tiro, mas com uma agressão verbal, uma limitação no uso da roupa, um tapa, um constrangimento na frente dos filhos", afirma.
Segundo a especialista, as barreiras para impedir esse cenário ainda são insuficientes, mas são de grande importância, como a Lei Maria da Penha. "Devem ser produzidas outras ações. O Estado e a sociedade têm papel nisso. Há um descrédito na luta (pelos direitos da mulher). Os movimentos não são fortes como no passado. As pessoas acreditam que as mulheres já conquistaram seus diretos, mas elas continuam sendo vítimas do processo de dominação", comenta.
Em Belo Horizonte, o levantamento mostra que, em 2000, 86 mulheres foram assassinadas, contra 78 em 2010 - queda de 9,3%. Porém, isso não é um motivo de comemoração, na visão de Marlise. "Não houve alteração nas políticas públicas. É preciso discutir, problematizar por que homens continuam exercendo poder sobre as mulheres por meio de violência", sugere.
Cultura. Na opinião do jurista Luiz Flávio Gomes, diretor-presidente do IAB, esse cenário de violência reflete o fato de muitas vítimas demorarem a denunciar seus agressores. "Há o lado da cultura, da educação. Esse tipo de violência está presente em todas as classes sociais", explica.
O especialista revela que, em uma pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU) com 84 países, o Brasil ocupa a sétima posição entre os que mais matam mulheres. "Os países mais violentos que o Brasil são praticamente todos da África. Os europeus são os últimos. Onde tem menos educação tem mais violência", fala.
"É preciso introduzir isso (o tema) na escola. E temos que dar mais estrutura para as polícias, que são procuradas, com psicólogos, assistentes sociais, além de não deixar essas mortes impunes, pois a impunidade gera o estímulo para a delinquência", afirma.
São Paulo. Quase um mês antes de matar o marido, a bacharel em direito Elize Araújo Kitano Matsunaga ligou para a Polícia Militar (PM) e disse que estava sendo ameaçada por ele. Na ligação, que foi gravada pela central da polícia, Elize diz ao policial que seu marido, Marcos Kitano Matsunaga, saíra de casa após ameaçá-la e ela pergunta se poderia trocar a fechadura de casa.
A resposta do PM foi de que Marcos, então herdeiro da fábrica de alimentos Yoki, tinha o direito de entrar em sua própria residência. A ligação para a PM foi feita no dia 24 de abril. No dia 19 de maio, após uma discussão, Elize matou Marcos com um tiro na cabeça e esquartejou o corpo dele.
O áudio da chamada telefônica foi anexado ao processo pela defesa de Elize. "Queremos demonstrar que ela não vivia no mar de rosas que a acusação diz", afirmou o advogado da acusada, Luciano Santoro. Hoje, Elize e duas testemunhas deverão ser ouvidas em uma audiência de instrução do processo.
A acusada admite que matou o marido e diz que agiu sob forte emoção por conta da situação em que vivia. Segundo sua defesa, ela estava sendo traída por Marcos e tinha constantes discussões com ele.
Já a acusação sustenta que ela agiu por motivações financeiras, pois tem uma filha com o executivo e temia que ele a abandonasse. Esquartejado, o corpo de Marcos foi encontrado dentro de uma mala em um matagal no dia 27 de maio. Elize está presa preventivamente desde o dia 5 de junho.
Fonte: O TEMPO