Analistas descartam PIB de 4%

11 de Dezembro de 2012
por: Andréa Rocha

A infraestrutura precária é um dos gargalos que prejudicam o ritmo dos investimentos no país

Saturação do modelo de incentivo ao consumo dificulta uma expansão maior em 2013

 

Apesar dos esforços do governo federal, será muito difícil reverter a queda do crescimento econômico apurada em 2012, em tempo de alcançar um Produto Interno Bruto (PIB) entre 4% e 5% no ano que vem. Esta é a avaliação de especialistas, tendo em vista a saturação do modelo de incentivo ao consumo e, ainda, ao tempo mínimo necessário para maturação de pacotes de incentivo aos investimentos da iniciativa privada, sobretudo em infraestrutura. A burocracia, o excesso de tributação, a baixa qualificação da mão de obra e a infraestrutura precária são gargalos que prejudicam os investimentos.

" preciso investir em produtividade", aponta o professor do Ibmec Guilherme Hamdan, para quem "as perspectivas não são nada boas para o ano que vem". Em sua avaliação, a julgar pelo esgotamento do modelo pautado no consumo, adotado há pelo menos uma década; ao crescimento econômico abaixo do previsto este ano, de cerca de 1,5% do PIB, e as medidas anunciadas nos últimos seis meses, de incentivo à participação da iniciativa privada no setor de infraestrutura e de desoneração tributária, ele entende que "não serão suficientes para alavancar os investimentos".

Hamdan oberva que o governo federal não tem mostrado muita capacidade de responder de forma inovadora aos desafios econômicos. Segundo ele, a desoneração da folha de pagamento para alguns setores, incluindo o da construção civil, na última semana, de fato contribui para a redução de custos das empresas e, assim, para o aumento de sua competitividade. A questão, ponderou, é que existem verdadeiros empecilhos para o desenvolvimento da economia brasileira, que se arrastam por anos a fio, sem que haja algum indicativo de efetiva mudança.

"A questão trabalhista é um grande problema, assim como a carga tributária", repete o especialista, lembrando que a educação de má qualidade continua a afetar os índices de produtividade do empresariado brasileiro. "O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é sempre otimista. Mas um crescimento do PIB da ordem de 4% será mesmo muito difícil de se atingir. Talvez entre 2% e 2,5%, pois vai ser difícil que 2013 seja ainda pior do que 2012, desastroso". E ainda que os indicadores como o de emprego e de renda estejam positivos, ele lembra que o endividamento das famílias também tem crescido.


Energia - E quanto ao anúncio feito há poucos dias, de que o governo federal vai mesmo pressionar os preços da energia elétrica para baixo, reduzindo os custos das empresas e beneficiando a população, Hamdan mostra-se reticente. A começar pela energia termelétrica, que será usada para compensar a recusa de três concessionárias, dentre elas a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), de renovar as concessões em troca da redução de suas margens.

" uma decisão muito arriscada", adverte, lembrando que as termelétricas geram uma energia muito suja, com alto passivo ambiental. E, além disso, os investimentos em energia são muito caros, é preciso muita programação é planejamento neste setor. Com as mudanças das regras, perde-se em estabilidade", adverte.

O contador e administrador Norival de Souza Resende Filho também vê com cautela esse momento de ajustes quanto aos valores de energia. Se por um lado, é uma mensagem positiva por desonerar os custos para a indústria e consumidor final, significa, também alguma estabilidade, pois "as regras foram modificadas repentinamente". Em sua avaliação, a não renovação das concessões estará "comprometendo determinadas empresas como a Cemig, que investiu considerando as regras em vigor e, que no entanto, pode ser penalizada. Será uma grande perda para este segmento", conclui.

Para Resende Filho, a concessão de linhas de financiamento para determinados setores, como para compra de bens de capital ou para a construção civil, em tese é muito positiva. No entanto, adverte, "não adianta o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) ter um caixa expressivo com recursos para oferecer. As empresas estão passando por muitas dificuldades e praticamente não têm acesso ao crédito".

Medidas como a unificação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) podem contribuir para simplificar os procedimentos e, assim, promover o desenvolvimento econômico do país. "Na qualidade de contador, devo dizer que há muita divergência e dificuldade para se trabalhar com o ICMS. Se simplificar, ajuda", resume. Em sua avaliação, falar sobre reforma tributária seria o mesmo que "chover no molhado", tamanha a espera por uma revisão profunda. De todo modo, Resende Filho insiste: precisamos de um "choque tributário".

 

Fonte: Diário do Comércio

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