Estudo mostra que 44% da população de MG sofrem ao menos de duas doenças crônicas

13 de Dezembro de 2012
por: Flávia Ayer e Pedro Ferreira

Quase 20% dos mineiros têm hipertensão e mais de 5% enfrentam problemas cardíacos

 



'Não abro mão da cerveja e bebo todos os dias depois das 17h.A cerveja é social demais.Acompanha o papo', Rogério Fábio Belo, comerciante (E), ao lado de Antônio Silva e Alan Parkeson (Gladyston Rodrigues/EM/D.A)  
"Não abro mão da cerveja e bebo todos os dias depois das 17h.A cerveja é social demais.Acompanha o papo", Rogério Fábio Belo, comerciante (E), ao lado de Antônio Silva e Alan Parkeson

 

 Hipertensão arterial, dor na coluna, problemas no coração, diabetes, artrite e reumatismo, depressão, câncer, bronquite e asma, tuberculose, insuficiência renal. É bom ficar atento a essa lista de doenças, que atacam quase um em cada três pessoas em Minas (29%). Entre adultos e adolescentes, o percentual chega a 33,9%. Se consideradas apenas as pessoas com mais de 60 anos, essa média sobe para quase oito a cada 10 mineiros (77,2%). E não se trata de hipocondria, mas de dados divulgados ontem no levantamento Hábitos de vida saudável, que integra a Pesquisa por Amostra de Domicílios (PAD-MG), da Fundação João Pinheiro (FJP). É a primeira vez que o estudo investiga a incidência de doenças crônicas no estado.

A principal vilã da saúde é a hipertensão arterial, diagnosticada em 19,7% da população acima de 14 anos, sendo que, entre os idosos, o índice sobe para 58,3%. Segundo lugar no ranking, doenças de coluna atingem quase 2 milhões de mineiros, o equivalente a 12,4% da população. Entre os mais velhos, o percentual é de 30%. Doenças cardíacas, diabetes, depressão e artrite ou reumatismo atingiram, cada uma, aproximadamente 5% da população acima dos 14 anos. “Se a população continuar a ter maus hábitos, a tendência é que 90% das pessoas com mais de 55 anos tenham pressão alta”, afirma o integrante da Comissão de Prevenção da Sociedade Mineira de Cardiologia Evandro Guimarães.

A associação desses males crônicos também é frequente. De acordo com o estudo, 44% dos mineiros têm pelo menos duas dessas doenças. “A hipertensão, por exemplo, é fator de risco para doenças cardíacas, assim como o diabetes. A associação entre elas é extremamente perigosa”, ressalta o especialista. O levantamento sobre hábitos de vida saudável mostrou que há maior prevalência de doenças crônicas entre aqueles com menor escolaridade. Enquanto 21,5% das pessoas com ensino superior completo e incompleto tem alguma doença crônica, o índice é de 66,7% entre aqueles sem instrução.

Apesar do diagnóstico da doença, os pacientes mineiros não conseguiram abandonar os maus hábitos de vida, como mostra a pesquisa. Quase um quinto dos portadores de hipertensão arterial assumiram que bebem, sendo que 11,4% desse total tomam bebida alcoólica todos os dias – entre a população o consumo diário de álcool é de 7,5%. Além disso, 14,7% são fumantes, índice superior à média da população mineira (13,5%). No caso das doenças cardíacas, 14,3% bebem e 12,6% fumam. “O cigarro pode levar ao infarto do miocárdio ou a um derrame cerebral”, alerta Evandro.

FÉ NO REMÉDIO O comerciante Rogério Fábio Belo, de 44, tem pressão alta, mas confia na medicação e, por isso, não abre mão da cerveja e do torresmo no Mercado Central. “Tomou o remedinho, não tem perigo”, completa Rogério, que gosta de viver intensamente a vida. “Não abro mão da cerveja e bebo todos os dias depois das 17h. A cerveja é social demais. Acompanha o papo. A gente conta uma prosa, fala uma pataca daqui, outra dali, mas sempre tem de ter o torresmo acompanhando, uma porção de alguma coisa. Saco vazio não fica em pé, não é mesmo?”, brinca o comerciante.

O advogado Luiz Cláudio Álvares, de 41, pelo contrário, se esforça para ter uma vida saudável. Ele corre todos os dias, desde 2006, mesmo debaixo de chuva. “Corro uma hora por dia; ao todo são 12 quilômetros numa corrida atrás de saúde. Saio da Avenida Bandeirantes, subo a Agulhas Negras, vou até o antigo Hospital Hilton Rocha, Parque das Mangabeiras, desço a Agulhas Negras de novo, volto para a Bandeirantes e termino na Praça JK”, conta o advogado.

 

Fonte: Estado de Minas




Retrato de Minas

A segunda edição da Pesquisa por Amostra de Domicílios (PAD-MG) entrevistou moradores de 18 mil domicílios, em 428 municípios mineiros. A maior parte reside na zona urbana (83%), sendo que 17% estão na zona rural. Esta foi a primeira vez que a pesquisa investigou o tema doenças crônicas. A PAD-MG foi desenvolvida pela Fundação João Pinheiro, ligada ao governo de Minas, com apoio do Banco Mundial e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

300 mil bebem todos os dias

Juventude e liberdade sempre foram o lema do representante comercial aposentado Geraldo Nogueira, de 72 anos. Hoje, ele diz que não tem mais juventude, mas mantém a liberdade de fazer o que quer. “Faço tudo errado: fumo 30 cigarros por dia; bebo 30 cervejas por semana; tomo duas garrafas de cachaça e como 40 ovos por mês, como muita gordura, bacon, feijoada, rabada. É disso que eu gosto”, diz. “A última vez que estive casado foi há 24 anos e tinha mais ou menos uma disciplina. Depois, fiquei solteiro e soltei o freio”, completa Geraldo, que acredita que já atingiu a média de vida do brasileiro e, por isso, está no lucro.

Geraldo não está sozinho. Assim como ele, 7,5% da população mineira acima de 14 anos bebe todos os dias, o que equivale a 300 mil pessoas, de acordo com o levantamento “Hábitos de vida saudável”, da Pesquisa por Amostra de Domicílios (PAD-MG), elaborada pela Fundação João Pinheiro (FJP). O estudo aponta também que 42% dos mineiros que bebem ingerem álcool uma ou duas vezes por semana. A quantidade também foi investigada. Mais de um quarto de quem toma bebida alcóolica (26,5%) consome mais de 21 doses por mês, quantidade considerada alta.

Para se ter ideia, uma lata de cerveja ou uma taça de vinho é considerada uma dose. “Mesmo quem bebe poucos dias na semana pode ser um abusador, pois quando bebe toma álcool em grandes quantidades. Isso não é beber socialmente”, afirma o integrante da Comissão de Controle do Tabagismo, Alcoolismo e Outras Drogas da Associação Médica de Minas Gerais, Valdir Campos, que alerta sobre as doenças associadas ao álcool. “As principais são as do fígado, mas também estão associadas doenças como hipertensão arterial, diabetes, doenças cardíacas”, alerta o médico.

Geraldo também faz parte da parcela de 13,5% de mineiros fumantes. Desse total, 10,2% da população consome mais de 21 cigarros ao dia e a maior parte (52,8%) fuma até 10 cigarros diariamente. Em relação ao tabagismo, a pesquisa mostra também que é no Noroeste do estado onde o hábito prevalece – com 17,1% da população fumante. “O tabaco está ligado a mais de 50 tipos de doença. São 4,7 mil substâncias tóxicas liberadas por cigarro. E não tem essa de fumante social. Quem na vida já fumou pelo menos 100 cigarros é considerado fumante e está correndo riscos decorrentes desse uso”, alerta Campos.

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