Quase 50% dos brasileiros com mais de 25 anos não têm o ensino fundamental

20 de Dezembro de 2012
por: Victor Martins, Paula Takahashi -e Paulo Henrique Lobato

Índice derruba a produtividade do país

 

 

 
Adir da Silva deixou os estudos para trabalhar e passou pela construção civil, mas hoje, aos 60 anos, engraxa sapatos (Alexandre Guzanshe/EM/D.A/Press)  
Adir da Silva deixou os estudos para trabalhar e passou pela construção civil, mas hoje, aos 60 anos, engraxa sapatos
Sem condições de impulsionar o ensino no Brasil, o país vive uma crise na educação que tem refletido fortemente na produtividade dos nossos trabalhadores e colaborou para jogar a indústria na recessão. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 49,3% da população de 25 anos ou mais não concluiu o ensino fundamental ou não tem qualquer instrução. É uma multidão que mal sabe ler e escrever, mas que tem de operar computadores, máquinas e que, por menos que tenha estudado, ocupa cargos de chefia. Esses números explicam ainda porque são necessários cinco brasileiros para produzir o que apenas um norte-americano fabrica no chão da fábrica.

Os dados apresentados pelo IBGE fazem parte do Censo 2010 e foram divulgados ontem. A pesquisa mostra ainda que o baixo nível de educação está enraizado em quase todos os ramos de atividade. Entre os diretores e gerentes que estão à frente de empresas, 15,03% deles não terminaram o ensino fundamental. Entre os trabalhadores do agronegócio classificados como qualificados, esse percentual é de 77,20%. Nos serviços domésticos esse número ficou em 60,80%.


A auxiliar de serviços gerais Rosângela Santos Souza reconhece que não se empenhou nos estudos, mas não vê a escolaridade como fator determinante para sua condição social. “Não conseguia mais estudar e abandonei a escola na 4ª série. Aos 17 anos tive minha primeira filha e fui trabalhar para sustentar a família”, conta. O engraxate Adir da Silva parou de estudar no dia em que deixou Nanuque, no Vale do Mucuri, em direção a Belo Horizonte. “Deixei a escola na 4ª série, quando tinha 10 anos, e nunca mais voltei”, conta ele, hoje com 60 anos. Adir passou pela construção civil, área de transportes e atualmente é engraxate e também acredita que a falta de escolaridade nunca foi preponderante para sua condição social. “Acho que a idade atrapalha mais a busca de outras vagas do que a falta de estudo”, garante.

O segmento que apresenta o melhor desempenho é o militar. O índice das forças armadas, policiais e bombeiros militares é de 5,21, um número que deve permanecer baixo em função dos cursos de formação oferecidos pelas corporações e que em alguns são cursos superiores ou de capacitação técnica. Na indústria de transformação, que tem sofrido com a concorrência imposta. sobretudo pelos asiáticos, essa taxa é de 34,07%.

Renda


A tendência de desconcentração da renda entre os brasileiros é clara, mas dados do Censo 201 mostram que ainda há um caminho longo para ser percorrido no Brasil. A pesquisa revela que, em 2010, os 10% dos trabalhadores melhor remunerados ficaram com 45,3% de todos os rendimentos pagos no país, enquanto os 10% ocupados com menor renda responderam por uma fatia de 1,3% dos ganhos. Em 2000, os 10% que recebiam mais concentravam 50,5% da renda, enquanto os 10% que recebiam menos, totalizavam juntos meros 1,0%.

Entre as categorias de trabalhadores, o destaque foram os militares e funcionários públicos estatutários, que tiveram um ganho real de 40,9% no rendimento médio mensal. A renda média dos empregados aumentou em 15,8%, de R$ 1.018 em 2000 para R$ 1.179 em 2010. Como resultado, no total do país, o valor do rendimento médio real mensal de todos os trabalhadores ocupados passou de R$ 1.234 em 2000 para R$ 1.292 em 2010, alta de 4,7%. A maior contribuição para o avanço veio da parcela da população com os menores rendimentos, em que os sucessivos reajustes do salário mínimo foram fundamentais para que a remuneração crescesse 35,9% entre 2000 e 2010.

Emprego formal na corda bamba

O emprego formal em Minas Gerais gerou 200 mil vagas nos 11 primeiros meses de 2012 (alta de 4,97%), ficando atrás apenas do indicador apurado em São Paulo (515 mil carteiras assinadas), mas, quando levado em conta apenas novembro, o indicador no estado ficou negativo: 4.435 postos foram eliminados (recuo de 0,11%). Nesse caso, foi o terceiro pior resultado do país, abaixo apenas do de Goiás (queda de 8.649 vagas) e do de Mato Grosso (5.910 postos). No Brasil, foram criados 46 mil empregos em novembro. O número é maior do que o do mesmo mês de 2011 (42,7 mil), porém, o dado perde um pouco da graça ao ser comparado com o de outubro (67 mil) e o de setembro (150 mil), pois é o terceiro recuo seguido.

Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O relatório da pasta justificou a queda das vagas em Minas, em novembro, da seguinte forma: “A redução decorreu principalmente dos setores da construção civil (-9.917 empregos) e da agropecuária (-6.225 postos), cujos saldos superaram principalmente a geração de emprego do setor de comércio (13.278 postos)”. Para Minas, este foi o pior novembro desde 2008, no auge da crise internacional, quando quando foram fechados 33,9 mil vagas. O resultado tanto em Minas quanto em Belo Horizonte só não foi pior em razão do grande número de vagas abertas pelo varejo, que recorre a trabalhadores temporários para as festas de fim de ano. Em BH, o comércio gerou quase 3 mil vagas. No estado foram 13,2 mil postos de trabalho.

 

Fonte: Encontro

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