Próprio negócio é opção para a classe C
A maioria dos jovens brasileiros ainda prefere investir em carreiras dentro das grandes empresas. Estudo da Page Talent em São Paulo indica, por exemplo, que apenas 11% dos estudantes que estão finalizando o curso universitário querem abrir o próprio negócio. Longe desse universo, rapazes e moças da nova classe média, cuja renda familiar é de R$ 1.091 per capita, que não tiveram a mesma oportunidade de estudo, estão empreendendo cada vez mais.
Segundo Mirela Malvestiti, gerente de Capacitação de Empreendedores do Sebrae, jovens da classe C, que têm menor poder aquisitivo e formação educacional mais baixa, assim como aqueles oriundos dos cursos técnicos, preferem investir no setor de serviços. A área de beleza é das mais disputadas, assim como da construção civil. Na primeira, pipocam os salões, na segunda, pequenas empresas que prestam serviços de eletricistas, encanadores, pintura, entre outros, para as grandes construtoras ou a particulares.
É o caso de Deane Pereira da Silva, 21 anos, feliz proprietária de um salão de beleza. Aos 13 já estava na batalha, trabalhando como babá para ajudar no sustento da família – mãe e três irmãos. Foi em casa, treinando nas mãos da mãe, que aprendeu a ser manicure. Em pouco tempo, passou a atender as mulheres da vizinhança e a patroa, que deixou de frequentar o salão para usufruir do talento de Deane. A renda adicional animou Deane a trocar os cuidados dedicados às crianças por cadeira em salão de beleza. Arrumou emprego nessa área, mas não recebia salário, apenas comissão por serviço prestado.
Em pouco tempo percebeu que para conseguir progredir teria que dar passos mais largos. Ao saber que uma microempresária havia colocado um de seus salões à venda, não pensou duas vezes. Sem poupança, capital de giro ou crédito, fechou o negócio por R$ 10 mil, para pagar em 10 vezes. “No início ficava pensando será que vou conseguir? Mas no fundo eu sabia que daria conta”, diz, orgulhosa de si. Menos de dois anos depois, contas pagas, resolveu ampliar os empreendimentos para ter renda maior. Montou, no fundo do estabelecimento, uma loja de roupas e acessórios femininos. Investiu cerca de R$ 6 mil em mercadorias e mais R$ 4 mil nas divisórias de vidro, balcão e objetos de decoração do espaço.
Tino Ela conta que decidiu vender apenas roupas femininas porque as mulheres compram mais. A freguesia da loja é a mesma do salão. “Elas entram para fazer as unhas e acabam levando alguma coisinha.” Avalia que as vendas vão bem e os lucros serão suficientes para cumprir seu próximo objetivo, que é comprar um carro. Mesmo não tendo curso superior ou treinamento específico de gestão, Deane conseguiu analisar as carências do mercado local e explorar as potencialidades. O que é raro. O mais comum é que empresas nascidas por impulso, com gestores inexperientes, tenham pouca longevidade. Essa é uma das preocupações do Sebrae, diz Mirela, que oferece cursos e orientação para os que desejam empreender. (SC)
Fonte: Estado de Minas