Teles vão investir R$ 70 bi para melhorar qualidade do serviço
País já tem 131 linhas de telefone celular para cada 100 habitantes
São Paulo. As operadoras de telefonia móvel devem abrir mão da rápida expansão da base de usuários para concentrar os esforços em clientes mais rentáveis em 2013. A desaceleração do ritmo de crescimento do setor e as preocupações com a qualidade dos serviços devem levar as teles a priorizar a retenção de clientes, tentando agregar serviços que gerem maiores receitas, segundo especialistas do setor de telecomunicações.
"O mercado de telefonia passa por um momento de maturidade na penetração de linhas de celulares, o que limita o crescimento da base de clientes", avalia o sócio diretor da área de consultoria de negócios em telecomunicações da KPMG, Diogo Eloi de Souza. A estratégia das empresas, de agora em diante, segundo ele, será acrescentar clientes que tragam maior valor à base, seja pela migração de usuários pré-pago para pós-pago ou pelo acréscimo de serviços de internet móvel de 3G.
"Acredito na melhoria dos serviços, mas isso não se dará da noite para o dia", afirma a analista de telecomunicações da Tendências Consultoria, Camila Saito. Ela ressalta que as teles precisarão, como contrapartida, seguir ampliando seus investimentos para conseguir entregar uma efetiva melhoria. Um levantamento da Tendências estima que as teles devem investir R$ 70 bilhões até 2015. Os gastos serão destinados à qualidade dos serviços e à construção, modernização e expansão das redes de infraestrutura, com foco no 3G, 4G e fibra ótica. "As empresas vão ter que cumprir os planos de investimentos, sob o risco de uma nova intervenção da Anatel", ressalta Camila, referindo-se à suspensão de vendas de planos de algumas operadoras que a agência promoveu em 2012 em função do grande número de reclamações dos clientes nos órgãos de defesa do consumidor.
O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, vem declarando ter confiança de que as teles devem apresentar melhores serviços a partir de 2013. Um relatório preliminar preparado pela Anatel avaliando os serviços de telecomunicações, após o episódio da suspensão das vendas, demonstrou que seguem "insatisfatórios". "Estamos consolidando normas sobre a qualidade nesse momento. Com certeza, no próximo relatório, as teles vão avançar mais", disse o ministro, em referência ao resultado da primeira avaliação. Bernardo acrescentou, porém, que a Anatel vai seguir "monitorando" de perto os serviços.
Em novembro, segundo dados da Anatel, o país atingiu 260 milhões de linhas móveis ativas em uso, frente a uma população estimada pelo IBGE em cerca de 197 milhões. Dessa forma, o Brasil já conta com uma teledensidade de 131 linhas para cada 100 habitantes. No Distrito Federal essa teledensidade é ainda maior, de 218,9, o que representa mais de duas linhas para cada habitante. No Estado de São Paulo, essa proporção chega a uma linha e meia para cada habitante.
A alta penetração de celulares reflete a estratégia das operadoras de telefonia dos últimos anos, que priorizou a rápida expansão da base de clientes. No entanto, esse crescimento não foi acompanhado dos investimentos necessários para atender o aumento do tráfego de voz e serviços de dados. Isso acabou resultando na perda da qualidade dos serviços, levando o órgão regulador do setor (Anatel) a suspender a venda de novos chips de TIM, Claro e Oi, durante 11 dias no final de julho. "Desde a suspensão as empresas estão mais cautelosas no aumento da base a qualquer custo. Agora o foco será oferecer um serviço de melhor qualidade e, se possível, com um receita média por usuário maior", disse a analista Camila Saito.
Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia (SindiTelebrasil), que representa as operadoras de telefonia, a nova lei das antenas dará um ordenamento jurídico ao tema, sem alterar a responsabilidade constitucional dos municípios. "O projeto vai trazer facilidades para a implantação da infraestrutura de telefonia móvel, permitindo a expansão dos serviços e a melhoria na cobertura dos sinais", prevê o presidente do sindicato, Eduardo Levy.
A diretora da área de telecomunicações da Deloitte, Katia Braga Moreira, diz acreditar que o risco de uma nova intervenção por parte do órgão regulador "já passou". "Haverá riscos se os planos não forem cumpridos", ponderou, acrescentando que a demanda pelos serviços de telecomunicações, principalmente de dados, crescem de forma acelerada. "O grande desafio das empresas será manter a qualidade com o aumento do uso de smartphones, que consomem muita capacidade de rede", diz.