Mínimo favorece consumo das famílias
Remuneração do piso no país deverá injetar cerca de R$ 33 bilhões na economia ao longo de 2013
O aumento de R$ 56, ou 9%, no valor do salário mínimo, que passou de R$ 622 para R$ 678 desde 1º de janeiro, promete aquecer ainda mais o consumo das famílias e, com isso, ajudar o país a alcançar a meta de expansão de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013. Estima-se que, no total, o crescimento no piso da remuneração do brasileiro injete cerca de R$ 33 bilhões na economia, ao longo deste exercício. Em contrapartida, o maior poder de compra pode resultar em uma alta da inflação, que mais uma vez corre o risco de fechar o ano acima da meta.
O crescimento do salário mínimo, acima da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 5,53% no acumulado de 12 meses até novembro, foi calculada com base no avanço de 2,73% do Produto Interno Bruto (PIB), de 2011, e na variação de 6,1% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), em 2012. A matemática atende à lei de valorização do salário mínimo.
"O aumento da renda acarreta, naturalmente, em aumento do consumo, o que pode impactar a inflação. Em 2012, ela deve ter variação de 5,71%, mais uma vez acima da meta estipulada, de 4,5%. No entanto, é preciso esperar antes de mensurar o tamanho do impacto, que depende do comportamento da população", afirma a professora de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBS) Virene Roxo Matesco. Para ela, o aumento dos preços tem mais chances de incidir sobre bens essenciais e de menor valor agregado, como alimentos e produtos de limpeza.
No entanto, a especialista ressalta que os reflexos não devem ser perceptíveis ao longo do primeiro trimestre. Isso porque, a remuneração recebida no primeiro mês do ano se refere a dezembro, quando estava em vigor o valor de R$ 622. Além disso, ela acredita que, de janeiro até o fim de março, as famílias devem empregar o montante adicional no pagamento de débitos contraídos ainda no ano passado ou na liquidação de despesas típicas de início de ano.
Preços - Outro economista, o também professor da FGV/IBS Raul Gomes Duarte Neto, também acredita que se todo o aumento fosse revertido em consumo, poderia ser observada "certa repercussão nos preços". Porém, ele pondera que os R$ 56 incorporados à renda de grande parte dos brasileiros não têm como destino apenas a aquisição de novos bens, mas também à eliminação de dívidas antigas, gastos com lazer e outros serviços, tratamentos médicos e odontológicos.
De acordo com ele, o setor produtivo deve ser sentir pouco ou nenhum efeito em função do avanço do salário mínimo. "O aumento, por si só, não deve impactar diretamente a indústria, que há algum tempo é afetada negativamente, em decorrência de vários motivos", argumenta. Ele frisa que a demanda por automóveis e eletrodomésticos, sobretudo de linha branca (fogão, geladeira, máquina de lavar e tanquinho), foi suprida em 2012, em decorrência da redução na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). "Com isso, o impacto maior deve mesmo se restringir ao comércio e serviços", prevê.
O economista da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas) Gabriel de Andrade Ivo, não estabelece relação direta entre a alta do salário mínimo e o aumento da inflação. Ele ressalta que, pela primeira vez, o BC consegue manter certo nível de estabilidade da inflação mesmo com a taxa básica de juros, Selic, em 7,25%, menor patamar da série histórica iniciada em 2006.
Para ele, a elevação no consumo não deve acontecer imediatamente, sendo observada ao longo do ano. Há também um risco em torno do aumento dos índices de endividamento e inadimplência, desencadeados por um poder de compra, que pode parecer, em um primeiro momento, maior. "Portanto, antes de começar a gastar mais as pessoas precisam considerar que, outras despesas, como as passagens de ônibus, também encareceram", salienta.
Na avaliação de Duarte Neto, a possibilidade de crescimento significativo de tais indicadores é tida como remota. "O sistema financeiro está atento, restringindo o crédito a aquelas famílias extremamente endividadas ou inadimplentes. Assim, as mais conscientes devem utilizar o dinheiro para quitar os seus débitos e assim voltar a ter acesso aos financiamentos", complementa.
Fonte: Diário do Comércio