Mulheres em "trabalhos de homens" na construção civil

04 de Janeiro de 2013
por: Juliana Gontijo

Empresas oferecem cursos e criam estrutura para as novas profissionais

 

 
FOTO: DANIEL PROTZNER
Realizada. Marta Maria Moreira disse que o diferencial das mulheres na construção é o capricho na execução das tarefas

A necessidade de mão de obra está fazendo com que áreas até bem pouco tempo exclusivamente masculinas, como é o caso da construção civil, comecem a receber cada vez mais mulheres. Antes pouco comum, hoje nas obras já há serventes, carpinteiras, ajudantes de obras, pedreiras, soldadoras, técnicas em segurança do trabalho e engenheiras. E a tendência, segundo especialistas em recursos humanos (RH), é que a participação delas no setor continue aumentando.

Segundo os últimos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego, o número de mulheres atuantes na construção civil aumentou 65% em oito anos. Em 2000, elas eram pouco mais de 83 mil entre 1,094 milhão de pessoas empregadas. Já em 2008, elas ocupavam 137.969 vagas em um estoque de trabalhadores de quase 2 milhões.

A analista de RH da Masb, Milécia Santos de Oliveira, ressalta que hoje o que interessa para as construtoras são profissionais que saibam fazer o serviço, independente do sexo. "O que importa é que a pessoa tenha força de vontade, queira trabalhar. Afinal, a mão de obra ainda é escassa", diz. Ela conta que hoje há 90 vagas operacionais abertas na empresa.

Ela observa que a tecnologia também está ajudando a inserir mais mulheres na atividade. "Ainda há áreas que dependem mais da força física, só que a construção está cada vez mais utilizando maquinário. As mulheres se destacam em áreas relacionadas ao acabamento. Afinal, elas são mais detalhistas", analisa.

Marta Maria Moreira, 27, trabalha como rejuntadora há três anos. "Antes eu trabalhei como operadora de produção numa fábrica, mas eu sempre tive interesse pela área, que é boa, promissora", diz. Ela conta que a Masb a treinou para o serviço durante três meses. Para ela, um dos diferenciais das mulheres na construção é o capricho na execução das tarefas. "É muito bom você ver o resultado do seu trabalho", frisa.

Hoje, Marta trabalha numa das obras da Masb, no bairro Jardim América, na região Oeste de Belo Horizonte. "O salário, ganhar hora-extra e o horário das 7h às 17h é um dos atrativos da área. Afinal, preciso de tempo para poder cuidar do meu filho, que tem três anos e nove meses", conta.

O analista de recursos humanos da MIP Edificações, Fabrício Antônio Bicalho, afirma que o aumento de mão de obra feminina nas obras começou a se intensificar nos últimos dois anos, em razão da dificuldade de conseguir mão de obra. "Há muitos casos de mulheres que deixaram de ser empregadas domésticas", diz.

O diretor de operações da MIP Edificações, Márcio Afonso Pereira, conta que a contratação de mulheres na empresa surgiu para suprir a falta de mão de obra masculina e o resultado superou as expectativas. "As mulheres são atenciosas, detalhistas, cuidadosas ao manusear os equipamentos", ressalta.

 

 
Qualificação
Cresce a procura por capacitação no público feminino
Claudinea da Silva Alves, 28, acabou de ingressar num mercado ainda dominado pelos homens. Ela concluiu no dia 7 de dezembro o curso de soldadora da Cidade da Solda de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, coordenada pela instituição social Ramacrisna, que tem o objetivo de formar soldadores e maçariqueiros para atender a demanda do mercado.

Em 2009, seis mulheres fizeram o curso, passando para nove no ano seguinte e para oito em 2011. No ano passado, foram 11. Claudinea conta que trabalhava como auxiliar de produção e que decidiu fazer o curso para conseguir uma remuneração melhor. "Uma amiga ficou sabendo do curso pelo jornal O TEMPO e me disse. Aliás, eu sempre me interessei pela área, pois meu marido trabalha nela. É um ramo em expansão. Já fiz algumas entrevistas e estou otimista", diz.
De acordo com o instrutor de processos de soldagem da Cidade da Solda, Marcos Vinícius da Silva, a procura das mulheres pelo curso de soldagem cresceu e a participação delas nas salas varia de 40% a 50%. Para ele, a escassez de profissionais soldadores é muito grande e as empresas não fazem distinção de sexo. Algumas inclusive têm mudado a estrutura como vestiários e banheiros para receber a mulheres.

A gerente de engenharia civil de sistemas elétricos da Leme Engenharia, Guilhermina Drumond, há 12 anos na empresa, acompanhou o crescimento das mulheres no quadro de profissionais "Quando entrei eram poucas comparado com hoje", conta. (JG)
 
Perfil
Não há diferenciação nas tarefas
O número de mulheres na Leme Engenharia, tanto em cargos gerenciais como nos canteiros de obras, vem aumentando nos últimos anos, conforme a diretora de RH, Tatiana Villefort. "O que importa para a empresa é o melhor perfil do profissional. Não existe discriminação", diz.

Ela ressalta que o crescimento de contratações de mulheres na empresa vem crescendo ano a ano. Em 2007 eram 135 mulheres e, em 2012, foram 278, alta de 48,5%.

A gerente de engenharia civil de sistemas elétricos da empresa, Maria Guilhermina Drumond, afirma que hoje para uma pessoa ingressar numa construtora, o que importa é preencher os requisitos necessários para determinado cargo. "Não há diferenciação pelo sexo. Há vagas para todos", ressalta a engenheira. (JG)
Fonte: O TEMPO
 

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