Projeto pretende legalizar prostituição para evitar abusos durante a Copa
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Proposta polêmica é do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) |
Conhecido pela defesa dos direitos dos homossexuais e por ter vencido uma edição do programa Big Brother Brasil, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) apresentou, em julho de 2012, o Projeto de Lei 4.211/12, que pretende legalizar a prostituição no país. A proposta polêmica vem no escopo do debate propiciado pela Copa do Mundo, assim como ocorreu com os últimos países que receberam a competição. A África do Sul, que sediou o Campeonato Mundial em 2010, debateu com vigor o tema nos últimos anos da década de 2010, levando em conta principalmente o risco de disseminação da Aids no país, mas as propostas de legalização não foram aprovadas.
Na Alemanha, que realizou o Mundial em 2006, a legislação que trata do tema foi alterada poucos anos antes, aumentando os direitos das prostitutas e tornando a atividade legal. “O projeto pretende dar direitos trabalhistas aos profissionais do sexo e também combater a exploração sexual de crianças e adolescentes e o tráfico de mulheres”, afirma o deputado. Há ainda uma proposta tramitando no Senado no projeto do novo Código Penal que pretende descriminalizar as casas de prostituição.
Militante da causa e membro da direção executiva nacional da Marcha Mundial de Mulheres, Renata Moreno argumenta que a regulamentação pode legitimar e naturalizar um modelo de sexualidade opressor e que deve ser mais discutido. “Somos críticas a essa visão de que é preciso regulamentar a prostituição. Precisamos fazer um debate amplo sobre o que isso significa, e a Copa é um momento oportuno para isso. Mas precisamos discutir a prostituição não só no âmbito das cidades que vão receber a competição, mas também a prostituição nas rodovias, nas construções de hidrelétricas e nos rincões do país”, afirma.
Deputado estadual e pastor, Carlos Henrique (PRB) se diz contrário ao projeto de lei, não pela questão religiosa, mas pela questão sociológica, ele diz, pensando na condição de vida das prostitutas. “Esse é o caminho mais fácil para mostrar a incompetência de um governo. Agora querem liberar tudo. O Fernando Henrique Cardoso quer liberar as drogas. Acho que seria temerário legalizar uma profissão como esta, ligada ao submundo do tráfico de drogas e de mulheres. O Estado precisa de fato dar algum amparo e algum acompanhamento. Essas pessoas não devem ser marginalizadas e abandonadas pelo Estado. Mas não acredito que a legalização seja a saída”, afirma.
Ele defende que seja feito um amplo debate sobre o assunto e propõe até que seja feito um plebiscito para que a população opine sobre a questão. Segundo Carlos Henrique, do ponto de vista religioso, as prostitutas não devem ser condenadas. “Jesus defendeu a mulher adúltera, que seria apedrejada. Ele não permitiu que ela fosse mais agredida, mas quis dar a ela uma nova vida. ‘Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra’, foi o que ele disse”, conta.
Debates e ato político
Doutoranda pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a psicóloga Letícia Cardoso Barreto, de 31 anos, autora da tese Prostituição, gênero e sexualidade: hierarquias sociais e enfrentamentos no contexto de Belo Horizonte, acredita que o que mais aflige as prostitutas atualmente é a falta de direitos. “A violência é uma questão muito menos relevante para elas do que a questão dos direitos. Muitos grupos tendem a falar que existe muita violência contra as prostitutas, mas elas reclamam mais da questão de não poder se aposentar, por exemplo. De qualquer jeito, a violência é fato. Uma prostituta foi assassinada em um hotel aqui em Belo Horizonte em 2012”, afirma.
Cida Vieira confirma a constatação da acadêmica: “Fora do trabalho, temos todas as leis que nos amparam. Dentro, não há qualquer lei que nos proteja. Se o cara não me pagar, não posso acionar a Justiça. Se ele me bater, não posso fazer nada, porque chego lá na delegacia e o delegado está de pés e mãos amarrados”. Ela promete para o segundo semestre uma grande mobilização defendendo o projeto de lei do deputado Jean Wyllys. “Será um dia internacional pelos direitos dos profissionais do sexo. Vamos trazer cantores famosos e fazer debates e um ato político”, propagandeia.
Segundo Jean Wyllys, a regulamentação pode ajudar a combater a exploração sexual de menores e o tráfico de mulheres. Ele defende que seu projeto tornaria mais dignas as condições de trabalho de uma prostituta. “Eu, você e toda a torcida do Flamengo já sabemos que existem casas de prostituição. A prostituição não é crime no Brasil, mas possuir uma casa de prostituição é. Isso abre brecha para a corrupção policial, tem ainda a ligação com o tráfico de drogas e o tráfico de mulheres. O projeto combate isso”, arremata.
Fonte: Estado de Minas