Crescimento de 3% do PIB é desafio, diz economista
A expectativa para que 2013 seja um exercício mais positivo para a economia frente ao ano passado se reflete, principalmente, na projeção de avanço do Produto Interno Bruto (PIB). Conforme o último Boletim Focus divulgado pelo Banco Central (BC), o PIB deve crescer 3,26% neste ano. Embora a variação seja bastante superior à média de 1% obtida em 2012, especialistas frisam que ela ainda está muito aquém do potencial do país. Já os menos otimistas acreditam que em função de um conjunto de fatores, como receio dos investidores e baixa competitividade, o crescimento pode ser revisto para baixo.
O diretor de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Roberto Vertamatti, é um dos que considera a média de crescimento de 2%, registrada nos últimos anos, insatisfatória. Para ele, a expansão, considerada pífia, deve ser atribuída ao baixo índice de investimentos. "Hoje, o investimento é da ordem de 18%. Para termos avanços superiores a 4%, ele deveria variar entre 23% e 25%".
Vertamatti acrescenta que a chegada de poucos aportes ao Brasil está relacionada a uma desconfiança do investidor, em parte causada por determinados posicionamentos adotados pelo governo, como a Medida Provisória 579, que reduz as tarifas de energia. Eembora seja positiva em um primeiro momento, diz o economista, a medida pode acarretar em uma diminuição dos investimentos no setor elétrico em longo prazo. Outro exemplo é a não-elevação do preço dos combustíveis, que impacta diretamente os investimentos da Petrobras.
Apesar de acreditar que muitos são os desafios a serem enfrentados, não apenas no que se refere aos investimentos, mas também quando o assunto é a simplificação de tributos, processos, melhoria da infraestrutura e qualidade do sistema educacional, ele está confiante no crescimento em torno de 3% do PIB. "A conjuntura é mais favorável no início deste ano, na comparação com o mesmo período do passado. Os Estados Unidos estão reduzindo o déficit fiscal e a situação na Europa é menos incerta. Além disso, medidas que começam a vigorar neste ano ajudam a dar um novo fôlego à economia doméstica".
Para o professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBS), Mauro Rochlin, a concretização da meta está condicionada a fatores externos e internos. Sobre o cenário internacional, Rochlin aposta que, neste ano, o patamar de crescimento chinês será superior aos 7,5% de 2012, assim como a Europa, que também começar a emitir sinais de recuperação, registrando crescimento, mesmo que modesto. A situação na Argentina, por sua vez, merece ser observada com olhos atentos. "O país é um grande parceiro e a retração nas exportações para lá foi acentuada, o que pesou no resultado da balança".
Rochlin ressalta que no cenário interno o papel do governo é crucial neste momento. Isso porque, é necessário tirar do papel os investimentos prometidos, sobretudo para obras de infraestrutura. Isso pode ter como conseqüência a atração de novas inversões da iniciativa privada. "Se o governo for sábio em suas decisões de investimento, ele pode conseguir atrair novas empresas para o país", relaciona.
Embora a meta de 3% esteja longe de ser considerada ideal, o especialista ressalta que, caso ela se confirme e não for concentrada em alguns setores específicos, como resultado de alguns incentivos pontuais e paliativos, ela pode animar os investidores, que podem começar a vislumbrar um cenário ainda mais positivo ao longo de um período mais extenso. "Se a recuperação for consistente, é como se a chance dela ser mais expressiva no futuro aumentasse", esclarece.
Pessimismo - O professor da Universidade Fumec, Fernando Nogueira, dá um tom mais pessimista à questão. Ele prevê que, neste ano, a variação do PIB não deve ultrapassar os 2,5%. De acordo com ele, a manutenção da taxa básica de juros, Selic, em 7,25%, deve gerar impactos mais perceptíveis ao longo deste ano. Porém, ele ressalta que medidas já adotadas ano passado, como manutenção da taxa de câmbio e redução da alíquota de alguns encargos, que não surtiram o efeito almejado, não devem vingar em 2013.
Na visão do professor de Economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Márcio Salvato, os gastos governamentais podem auxiliar a concretização da meta, a exemplo do que ocorreu em 2012. "O governo deve acelerar obras, ampliando gastos em infraestrutura", estima. Em contrapartida, ele não é tão confiante em relação ao aumento do consumo das famílias, outro alicerce do crescimento do PIB no ano passado. "A população está endividada e o IPI também começa a aumentar a partir deste mês", ressalta.
Fonte: Diário do Comércio