BC pode elevar projeções do IPCA para 2013
São Paulo - No comunicado divulgado pelo Copom no final da reunião de anteontem, que manteve a Selic estável em 7,25%, o Banco Central reconheceu que a inflação piorou nos últimos dois meses de 2012 e pode alterar suas projeções do IPCA para cima neste ano no relatório de inflação que será divulgado em março, ponderou o diretor de pesquisas para a América Latina da Goldman Sachs, Alberto Ramos.
Segundo ele, a projeção de alta do índice de 4,8% do Banco Central, de acordo com o cenário de referência, pode subir para 5%. Na avaliação dele, o comunicado de anteontem pode estar sinalizando que, caso a inflação piore num horizonte de seis a 12 meses, o BC poderá elevar os juros.
Além disso, Ramos acredita que a visão de piora do balanço de riscos para a inflação, para efeito de política monetária, acaba sendo anulada pela constatação do BC de que o nível de atividade está mais fraco do que o esperado. "Se anulam as avaliações de que piorou o balanço de riscos para a inflação, com nível de atividade mais fraco do que o esperado", disse.
Segundo Ramos, o reconhecimento da piora no cenário de inflação pelo BC é um reconhecimento implícito de que o relatório de inflação de dezembro não foi eficiente para coordenar as expectativas dos agentes econômicos em relação ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Isto teria ocorrido porque o tom das ponderações do documento teriam sido "otimistas demais" em relação a um quadro desfavorável para a inflação, cuja projeção oficial para 2013 e 2014 (alta de 4,9%) indicam que o índice está mais próximo de 5% do que da meta de 4,5%.
"O sistema de metas de inflação precisa de uma âncora nominal para orientar as expectativas. Mas algumas posições do Banco Central talvez não estivessem atendendo essa função", comentou. "O mercado hoje acredita que a inflação fechará 2013 e 2014 ao redor de 5,5%. Ou seja, poucos acreditam que na meta de 4,5%", ponderou. Para o executivo da Goldman Sachs, o fato de o Copom ter dado ênfase à piora da inflação indica que o BC estaria tentando retomar a coordenação de expectativas do mercado.
O economista afirma que, além de ver os números altos do IPCA em novembro, dezembro e muito provavelmente janeiro, para o qual Ramos espera alta de 0,8%, o BC avalia que o balanço de riscos para a inflação neste ano é mais negativo em função de outros fatores: as projeções do cenário de referência do relatório de inflação de dezembro não levam em consideração aumento da gasolina para 2013; não há nenhum impacto das dificuldades de geração de energia, que pode levar ao aumento de custos, com o uso de usinas térmicas; as expectativas de inflação para este ano são mais elevadas do que a previsão do BC e a autoridade monetária considera que o superávit primário neste ano alcançará a meta de 3,10% do PIB, hipótese vista com grande descrença pela maioria dos economistas de mercado. (AE)