Brasileiros viajam mais e de carro novo

21 de Janeiro de 2013
por: Zulmira Furbino

Dados das concessionárias de rodovias do país mostram que, enquanto a massa salarial saltou 57,3% entre 2003 e 2012, fluxo de carros subiu 52,3%, aquecendo negócios à beira do caminho

 

Balcões lotados nas lanchonetes de beira de estrada refletem crescimento da renda e os recordes consecutivos nas vendas de veículos novos no país (FOTOS: RENATO WEIL/EM/D.A PRESS - 26/12/11)  
Balcões lotados nas lanchonetes de beira de estrada refletem crescimento da renda e os recordes consecutivos nas vendas de veículos novos no país
Com mais dinheiro no bolso, carro zero na garagem e disposição para viajar, os brasileiros estão engordando o caixa dos negócios à beira das rodovias. Índice criado pela Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), que relaciona o movimento de automóveis nas estradas pedagiadas ao comportamento da atividade econômica no país, elaborado pela Tendências Consultoria, aponta que em 2012 o fluxo de carros de passeio cresceu 5,5% nas estradas operadas pelas concessionárias em comparação com 2011. Enquanto isso, o movimento de veículos pesados avançou apenas 2,2%.

“Esses números explicam o comportamento da economia. A renda apresenta trajetória de alta no Brasil, com crescimento muito expressivo, acima da atividade industrial, que está mais fraca”, explica Rafael Baciotti, da Tendências Consultoria, responsável pela elaboração do índice ABCR. De 2003, ano em que a classe média brasileira começou a crescer, até novembro 2012, a massa salarial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cresceu 57,3%. No mesmo período, o fluxo de veículos leves nas estradas, que reflete o aumento da renda e o nível de emprego, aumentou 52,3%. Entre 2009 e 2012 (novembro), a massa salarial cresceu 19,6% e o fluxo de veículos leves 19,5%.

Esse movimento já é sentido à beira das rodovias, na forma de investimentos e aumento do faturamento. Na BR-040, no sentido do Rio de Janeiro, Adilson José Tonholo, sóprio-proprietário do Roselanche, atende, em média, 3 mil pessoas por dia. De 2011 para 2012, o movimento cresceu 10%. Mas, nestas férias, ele precisou contratar 15 temporários. “As pessoas estão viajando mais porque o poder aquisiivo melhorou. Estamos sempre investindo. Em 2012, aumentamos a área do estacionamento e mudamos a floricultura de lugar”, diz.

No outro sentido da rodovia quem lucra é Edna Fernandes Amorim, mais conhecida como Bete da Linguiça. Ela tinha um açougue e uma pequena lanchonete em Paraopeba, na Região Central de Minas Gerais. Há dois anos, a BR-040 no sentido Brasília foi desviada e deixou de passar na porta de seu estabelecimento. Assim, ela foi levada a investir em duas novas lanchonetes, uma de cada lado do novo traçado da rodovia.

“Só o terreno custou R$ 180 mil e as lojas, R$ 1,2 milhão”, explica. Com isso, o número de funcionários saltou de oito para 36. “Em dois anos, a clientela aumentou 30%”, contabiliza a empresária. “Minha fabriqueta de linguiças é pequena. Estou pensando em investir em uma maior”, diz. A venda de carros novos no país vem crescendo há 9 anos. Entre 2004 e 2012, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o avanço foi de 150%, saindo de 1,57 milhão de veículos para 3,08 milhões em 2012. Para este ano, a expectataiva é chegar a 3,97 milhões de unidades.

Entre março e dezembro de 1996, quando a Concer começou a contabilizar o tráfego na BR-040, passaram pelo trecho entre Juiz de Fora e o Rio de Janeiro, 4.394.597 veículos, nas três praças de pedágio. Um ano depois, o número saltou para 14.373.296. Em 2011, foram 18.477.214. Somente na praça de Simão Pereira, no KM 816 da BR-040, foram 4.101.477 veículos em 2011, contra 3.034.195 em 1997.

No trecho da MG-050/ BR-265/BR-491, a Concessionária Nascentes das Gerais informa que, em 2012, o tráfego total cresceu 3,48% em comparação com o ano anterior, atingindo 12.198.783 veículos. Nesse período, o número de automóveis de passeio sofreu acréscimo de 6,03%. Na autopista Fernão Dias, que liga Belo Horizonte a São Paulo, entre 2009 e 2010 o tráfego de veículos de passeio aumentou 5,83% e, no ano seguinte, mais 5,03%. Em 2012, a elevação foi de 5,55%.

O empresário Ricardo de Andrade Silva, dono do Posto Juá, confirma o avanço: venda de gasolina e etanol subiu 50% em dois anos  
O empresário Ricardo de Andrade Silva, dono do Posto Juá, confirma o avanço: venda de gasolina e etanol subiu 50% em dois anos
 
 
COMBUSTÍVEL No Posto Juá, em Juatuba, na BR 262, Região Central do estado, 85% das vendas de combustível estão concentradas em óleo diesel. Mesmo assim, de acordo com o sócio-proprietário do estabelecimento, Ricardo de Andrade Silva, o número de veículos de passeio aumentou tanto nos últimos dois anos que a venda mensal de álcool e de gasolina saiu de 80 mil litros para 120 mil litros, um salto de 50%. “O poder de consumo creceu. Todos os meus frentistas, por exemplo, compraram carro. Antes, eles tinham motos.”

Vicente Paulo Resende, prefeito de Três Marias, também na Região Central de Minas, é dono de um posto de combustíveis e de dois hotéis no município. Também para ele, com o aumento da renda, o número de pessoas que viajam de carro aumentou, incrementando as vendas de álcool e gasolina. O perfil do turismo na região também é outro. “Vem muita gente de passagem, a caminho de outro lugar. Os hotéis estão cheios.”

Dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que em 2003, foram vendidos 76,1 bilhões de litros de combustível no Brasil. Em 2012, esse número chegou a 118,4 bilhões. A elevação no volume comercializado em oito anos foi de 55%.

Pacotes terrestres ganham espaço

A alta no preço dos bilhetes aéreos – impulsionada principalmente pelo fim da Webjet, em novembro do ano passado – começa a refletir nas empresas de transporte rodoviário, o que também faz crescer o fluxo de pessoas nas rodovias. Algumas delas chegam a registrar crescimento de até 15% no movimento, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Na rodoviária de Belo Horizonte, a evolução dos embarques também é positiva. Em dezembro do ano passado, eles somaram 536,95 mil pessoas, alta de 3,5% em relação ao mesmo mês de 2011, quando 518,76 mil pessoas deixaram a capital de ônibus.

Na primeira quinzena de janeiro, houve alta de 1,5% no volume de passageiros embarcados no terminal. “Acredito que esse crescimento ocorra em função da alta de preço do bilhete aéreo”, afirma Ricardo Coutinho, gerente do terminal rodoviário. Além disso, diz, há maior concorrência entre as próprias empresas de transporte rodoviário, que passaram a lançar mais promoções, principalmente para o Rio de Janeiro e São Paulo. A rodoviária conta hoje com 44 empresas intermunicipais e interestaduais. As promoções acontecem principalmente no horário de 12h às 14h, com chegada dos ônibus ao destino programada para a madrugada. A rodoviária de BH transportou 17,2 milhões de passageiros em 2012. Para este ano a expectativa é que esse número alcance os 18 milhões.

A operadora de viagens rodoviárias São José transportou, em dezembro, 15% a mais de passageiros em relação ao mesmo período de 2011. “Quando cai o preço do transporte aéreo, o nosso também cai. Mas agora que a passagem de avião voltou a subir, nosso movimento cresceu também”, diz Joseane Borges Queiróz, responsável pela comunicação da São José. Antes de fechar janeiro, a empresa já transportou 10% mais passageiros que em todo o mês de 2011.

O incremento de demanda leva a São José a retomar um roteiro terrestre que estava parad o havia quatro anos: 24 dias pelo Nordeste e Norte do país, passando por Salvador (BA), Recife (PE), Caruaru (PE), Fortaleza (CE), São Luís do Maranhão (MA), Barreirinhas (PA), Belém (PA), Lençóis Maranhenses (MA), Ilha do Marajó (PA), entre outros. O valor do pacote, com meia pensão incluída, é de R$ 6,39 mil. “Todo ano a gente lançava o pacote, mas ntinha procura suficiente para confirmar a viagem. Este ano já confirmamos”, afirma Joseane.

VANTAGEM A ABC Turismo tem os pacotes terestres como carro-chefe da agência. “A procura tem melhorado nos últimos meses. As pessoas migram automaticamente para o rodoviário quando há alta de preço das passagens aéreas”, enfatiza Adrienne Gratarolli, gerente de vendas. Ela afirma que, no passado, era frequentemente questionada sobre o motivo de o preço de algumas passagens de avião serem mais baixos do que o das de ônibus. “Hoje isso não acontece mais”, afirma.

O pacote de avião de Belo Horizonte para Porto Seguro (BA), com sete noites de estadia, por exemplo, custava cerca de R$ 1,2 mil há pouco tempo. “Hoje, o mesmo pacote está entre R$ 1,5 mil e R$ 1,6 mil”, diz Adrienne. Enquanto isso, com o transporte rodoviário, ele fica entre R$ 890 e R$ 900, com oito dias de hospedagem”, diz Adrienne. Ela diz que muitas vezes consegue reservar hotel por bom preço, mas, quando inclui o trecho aéreo, o pacote fica inviável. “Nos outros anos, o preço estava equiparado. A diferença ficava em torno de 10%. Hoje chega a 40%”, ressalta.
 
 
 
Fonte: Estado de Minas

 

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