Custo Brasil não deve ter redução neste ano, dizem especialistas

23 de Janeiro de 2013
por: Tatiana Lagôa

Estímulos não terão efeito no curto prazo

 

Menor preço de energia, desoneração da folha de pagamentos e taxas de juros decrescentes. As mudanças, apesar de representarem boas intenções do governo e animarem o empresariado, não deverão significar, nem de longe, uma redução significativa do custo Brasil já em 2013. Para alguns especialistas, as medidas são insuficientes para eliminar um problema que se arrasta há anos e, portanto, as medidas ainda não representam nada mais que um início. Para outros, um pouco mais otimistas, os impactos podem começar a ser sentidos neste ano, mas sem grandes alterações nos resultados das empresas.

Para entender o pessimismo dos especialistas é preciso, em primeiro lugar, relembrar alguns itens que compõem o custo Brasil. Alto preço da energia, carga tributária elevada, infraestrutura precária, burocracia exagerada e mão de obra cara são algumas das variáveis que tiram a competitividade do país frente aos demais. Uma série de medidas do governo federal visa reduzir esse entrave ao crescimento, porém, nem todas têm a eficácia esperada.

A energia elétrica, por exemplo, teve como estímulo a Medida Provisória 579, que objetiva reduzir em média 20,5% o custo do insumo. Porém, conforme lembram especialistas ouvidos pela reportagem, a não adesão de algumas concessionárias às regras, aliada ao alto custo de acionamento das térmicas e à possibilidade de racionamento de energia, coloca dúvidas quanto à eficácia e proporção dessa queda.

A mão de obra também recebeu uma ajuda do governo para pesar menos no bolso dos empresários, com a desoneração da folha de pagamentos em alguns setores. Porém, a falta de profissionais qualificados tem elevado os valores pagos àqueles que estão no mercado. Além disso, a baixa produtividade do trabalhador brasileiro também impacta nessa variável.

Diante desse quadro, o economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) Paulo Casaca não tem uma visão otimista. "Acredito que não vá ocorrer alguma mudança substancial no custo Brasil neste ano. Não dá, pois muitos dos entraves precisam de anos para serem eliminados". Um deles seria o problema da infraestrutura. Apesar de o governo já ter sinalizado investimentos nesse sentido, todas as obras são de longo prazo. Duplicação de rodovias, melhorias de portos e aeroportos dependem não somente de vontade política, mas também de recursos e tempo para se tornarem realidade.

Outro fator que ainda não tem dado sinal de mudança é a burocracia, conforme lembra o professor do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Pedro Paulo Pettersen. Ele explica que a demora para aprovação de certos documentos onera as empresas, principalmente porque no mundo dos negócios tempo é dinheiro. "Uma ação simples que poderia reduzir essa ineficiência do Estado é o investimento em recursos humanos. Muito da demora tem ligação com a carência de profissionais para dar vazão aos documentos que aguardam aprovação", afirma.

Mas, mesmo apontando questões que não podem ser alteradas em apenas um ano, o professor tenta ser menos pessimista. "Há chances de haver uma pequena redução do custo Brasil, sim. Mas isso não é certeza de crescimento econômico porque depende também da confiança do empresário para investir", afirma.


Juros - O economista da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas), Gabriel Andrade Ivo, acredita em uma redução "tímida" do custo, pautada na queda dos juros. Ele acredita que a baixa da Selic verificada no último ano comece a impactar, por exemplo, no cartão de crédito, o que para o comércio seria ótimo. Além disso, ele ressalta que uma redução de taxas poderia facilitar os investimentos.

Porém, o pesquisador da faculdade Ibmec Cláudio Shikida não vê a menor possibilidade de mudança no custo Brasil. Além de ressaltar os problemas com energia, mão de obra, burocracia e carga tributária, o especialista aponta a inflação como outro entrave. Assim como no ano passado, quando a inflação ficou acima do centro da meta proposto pelo governo de 4,5%, neste ano ela também deverá ficar em alta. Na prática, isso significa que tudo ficará mais caro, o que afetaria também o empresariado.

O professor e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, Fernando de Holanda Barbosa Filho, acredita que as medidas que o governo tem tomado são importantes e sinalizam que a longo prazo poderá haver uma redução do custo Brasil. Mas, de imediato, as alterações não deverão ser percebidas.

 

Fonte: Diário do Comércio

 

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