FMI se diz inseguro sobre retomada do PIB brasileiro
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, disse ontem à Folha que se sente insegura a respeito das perspectivas para a economia brasileira, apesar de a previsão oficial da instituição que dirige seja a de crescimento de 3,5% para este ano.
"Não entendo por que a demora em retomar o ritmo de crescimento", afirmou, em conversa no Centro de Congressos de Davos, o QG tradicional do anual Fórum Econômico Mundial.
A insegurança se reflete no fato de que Lagarde evita definições claras sobre o país. Prefere usar o "talvez" para dizer, por exemplo, que o baixo crescimento "talvez se deva a uma fase de ajuste".
A diretora do Fundo não é a única com interrogações a respeito do crescimento brasileiro. Também Charles Dallara, porta-voz do Instituto da Finança Internacional, o conglomerado dos maiores bancos planetários, manifestou suas dúvidas à Folha, pelos mesmos motivos.
Dallara acha que o Brasil está crescendo abaixo do seu potencial e chega a sugerir "reformas estruturais" para destravar o crescimento.
É uma expressão que serve de guarda-chuva para medidas em geral liberalizantes, que não combinam com o intervencionismo de que a presidente Dilma Rousseff é frequentemente acusada.
De todo modo, Dallara duvida de que de fato se façam reformas, porque, "em ano eleitoral ou pré-eleitoral [como é o caso de 2013]", nenhum país do mundo as faz.
Às incertezas sobre as perspectivas do Brasil some-se uma avaliação de Mario Monti, primeiro-ministro em funções da Itália, de que o baixo crescimento em seu país e na Europa em geral continuará por um bom tempo. Uma das razões apontadas para o desaquecimento brasileiro é exatamente a anemia da economia europeia, um dos principais mercados do Brasil.
Lagarde, na conversa com a Folha, concordou com Monti, citando as previsões oficiais do Fundo: a Itália teve um retrocesso de 2,15% no ano passado, terá outro neste ano (1,1%) e, mesmo em 2014, registrará apenas um "pibinho", crescimento de 0,5%, a metade do "pibinho" brasileiro de 2012.
Para o conjunto dos 17 países que usam o euro, o retrocesso previsto para 2012 é de 0,4%, e, para 2013, de 0,2%. Só em 2014 "a Europa decola", exagera Lagarde (o PIB europeu crescerá apenas 1%).
Monti, em todo o caso, exibiu em Davos um relativo otimismo, a ponto de dar por encerrada a crise financeira: a perspectiva de que a Itália tivesse que dar um calote por causa dos juros altíssimos cobrados para rolar sua dívida.
O premiê brincou: "É a primeira vez em muitos meses em que, até essa hora, ainda não olhei o 'spread' que estão cobrando da Itália" (eram 13h30, 10h30 em Brasília, quando Monti conversou com os jornalistas).
A Folha quis saber se Monti achava justo dizer que era mais popular entre dirigentes europeus e agentes de mercado do que em seu país.
"Empiricamente, é justo. Mas o fato de despertar simpatias no plano internacional acaba sendo negativo na Itália, porque muita gente diz que sou apenas executor das ordens da Merkel [Angela Merkel, a chanceler alemã]."
Fonte: Folha de SP