Analistas preveem temporada de inflação elevada no primeiro semestre
Analistas preveem uma temporada de pelo menos cinco meses de inflação elevada, perto do limite fixado pelo governo, apesar do corte do preço da energia e do adiamento dos reajustes das tarifas de ônibus.
Aumentos de alimentos e de serviços pressionaram a inflação em janeiro. O dado oficial sai na próxima quinta-feira, e a expectativa é que a inflação acumulada em um ano, encerrado em janeiro, tenha superado 6%.
A previsão de analistas é que permaneça nesse patamar pelo menos até maio.
Para Fábio Romão, economista da LCA Consultores, a temporada deve se estender até agosto, e a inflação alcançará o limite da meta (6,5%) em junho.
Além de retirar poder de compra dos consumidores, a inflação mais elevada por meses pode gerar especulações sobre possíveis reações do governo e do Banco Central.
"Será necessário sangue-frio no governo. Mais medidas, em vez de incentivo, podem aumentar a imprevisibilidade, e isso não é bom", diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual.
A temporada de inflação mais pressionada deve perder fôlego no segundo semestre, preveem economistas, e a inflação deve fechar o ano ao redor de 5,5%.
Analistas ouvidos na pesquisa semanal Focus, do BC, contudo, vêm elevando suas expectativas para o fechamento do ano há cinco semanas. Na medição divulgação ontem, a maioria projetava inflação de 5,68%.
Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress | ||
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INFLAÇÃO ESPALHADA
Para Adriana Molinari, da consultoria Tendências, essa correção vem sendo feita devido a sinais de que a inflação está mais espalhada.
Se os alimentos subiram 10% nos últimos 12 meses, segundo a prévia da inflação oficial de janeiro, outros itens também ficaram mais caros.
Molinari ressalta que 73% dos preços que compõem o IPCA (índice de preços da inflação oficial) subiram na prévia de janeiro --o mais elevado percentual desde 2003.
Despesas pessoais, grupo no qual estão serviços como empregada doméstica, são um dos que aceleraram.
O IPC-Fipe --índice de preços que monitora a inflação na cidade de São Paulo-- mostrou aumento de 2,42% do grupo em janeiro ante dezembro --a maior alta para o mês desde 2002.
Segundo André Perfeito, a alta é resultado do mercado de trabalho apertado. Mas a projeção para os serviços ao longo do ano é de moderação. Fábio Romão, da LCA, ressalta que o salário mínimo subiu menos em 2013 do que em 2012, e a renda deve crescer menos. "Muitos serviços corrigem seus preços em janeiro, há um efeito sazonal", diz.
Outro fator de pressão de alta da inflação é a retirada dos descontos do IPI sobre eletrodomésticos e veículos, que terão alíquota do imposto recomposta até julho.
Isso já afetou os preços de itens como automóveis em janeiro (alta de 0,70% na prévia da inflação oficial) e deverá retirar a contribuição de baixa da inflação que ocorreu em 2012.
ENERGIA AJUDA
Mas a antecipação do corte de energia elétrica para janeiro (era previsto para fevereiro) ajudou.
Como começou a vigorar no último dia 24, a redução fez analistas que tinham projeções de inflação acima de 0,9% no mês recuar as apostas para 0,85%. Em fevereiro, haverá nova contribuição de baixa, mas parte será anulada pelo reajuste dos preços dos combustíveis.
Ainda assim, analistas contam com a ajuda do câmbio para que a inflação volte para a casa dos 5%.
"O governo tem que evitar uma nova desvalorização do câmbio [alta do dólar em relação ao real]. No ano passado, isso afetou os preços. Se neste ano o câmbio não se mexer, já ajuda", diz Romão.
Fonte: Folha de SP