Aprendizado na velhice é pior porque idosos dormem mal
15 de Fevereiro de 2013
por: Benedict Carey
Nova York, EUA. Os cientistas sabem há décadas que a habilidade de se lembrar de informações recém-aprendidas diminui com a idade, mas os motivos para isso ainda não eram claros. Agora, um novo estudo pode dar parte dessa resposta.
Relatório publicado na última edição do periódico especializado "Nature Neuroscience" sugere que as mudanças estruturais no cérebro que ocorrem com o tempo interferem na qualidade do sono, o que por sua vez, atrapalha a habilidade de guardar memórias a longo prazo.
Pesquisas anteriores descobriram que o córtex pré-frontal - região cerebral localizada atrás da testa - tende a perder volume com a idade, e a parte perdida dessa região é a que auxilia na sustentação da qualidade do sono, que é crítica na consolidação das novas memórias. Mas o novo experimento é o primeiro a ligar diretamente essas mudanças estruturais aos problemas de memória relacionados ao sono.
As descobertas sugerem que uma forma de frear a perda de memória em idosos é melhorar a qualidade do sono, especificamente a chamada fase de ondas lentas, que constitui cerca de um quarto de uma noite de sono normal.
Experiências.Os médicos não conseguem reverter as mudanças estruturais que ocorrem com o envelhecimento, mas pelo menos dois grupos estão fazendo experiências com estimulação elétrica como uma forma de melhorar o sono profundo nas pessoas mais velhas. Colocando eletrodos no couro cabeludo dos idosos, os cientistas podem fazer passar uma corrente elétrica na região pré-frontal, imitando a forma de ondas lentas do sono de alta qualidade.
O resultado dessas experiências é uma melhora na memória, pelo menos em alguns estudos. "Há, também, um grande número de outras formas de melhorar o sono, incluindo exercícios físicos", afirma o professor de psicologia e diretor do programa de neurociência cognitiva da Universidade Northwestern, Ken Paller. Mas a pesquisa "conta uma história convincente: que a atrofia cerebral está ligada ao sono de ondas lentas, que sabemos estar ligado à performance da memória. Então, é um fator de contribuição".
Depois de realizar testes com adultos aposentados e com jovens na faixa dos 20 anos, "as análises mostraram que as diferenças eram causadas não por mudanças na capacidade de memórias, mas pelas diferenças na qualidade do sono", afirma o pós-doutor da Universidade da Califórnia e principal autor do estudo, Bryce A. Mander.
As descobertas não querem dizer que a atrofia média pré-frontal seja a única mudança relacionada à idade que causa os problemas de memória, segundo o professor de psicologia e neurociência da Universidade da Califórnia, Matthew P. Walker, que é coautor do estudo. "Mas essas coisas estão relacionadas. Essencialmente, com o passar do tempo, quanto menos tecido na região pré-frontal você tem, menos qualidade de sono profundo se consegue e menos você se lembra do conteúdo que você acabou de aprender", relaciona.
Traduzido por Raquel Sodré
Relatório publicado na última edição do periódico especializado "Nature Neuroscience" sugere que as mudanças estruturais no cérebro que ocorrem com o tempo interferem na qualidade do sono, o que por sua vez, atrapalha a habilidade de guardar memórias a longo prazo.
Pesquisas anteriores descobriram que o córtex pré-frontal - região cerebral localizada atrás da testa - tende a perder volume com a idade, e a parte perdida dessa região é a que auxilia na sustentação da qualidade do sono, que é crítica na consolidação das novas memórias. Mas o novo experimento é o primeiro a ligar diretamente essas mudanças estruturais aos problemas de memória relacionados ao sono.
As descobertas sugerem que uma forma de frear a perda de memória em idosos é melhorar a qualidade do sono, especificamente a chamada fase de ondas lentas, que constitui cerca de um quarto de uma noite de sono normal.
Experiências.Os médicos não conseguem reverter as mudanças estruturais que ocorrem com o envelhecimento, mas pelo menos dois grupos estão fazendo experiências com estimulação elétrica como uma forma de melhorar o sono profundo nas pessoas mais velhas. Colocando eletrodos no couro cabeludo dos idosos, os cientistas podem fazer passar uma corrente elétrica na região pré-frontal, imitando a forma de ondas lentas do sono de alta qualidade.
O resultado dessas experiências é uma melhora na memória, pelo menos em alguns estudos. "Há, também, um grande número de outras formas de melhorar o sono, incluindo exercícios físicos", afirma o professor de psicologia e diretor do programa de neurociência cognitiva da Universidade Northwestern, Ken Paller. Mas a pesquisa "conta uma história convincente: que a atrofia cerebral está ligada ao sono de ondas lentas, que sabemos estar ligado à performance da memória. Então, é um fator de contribuição".
Depois de realizar testes com adultos aposentados e com jovens na faixa dos 20 anos, "as análises mostraram que as diferenças eram causadas não por mudanças na capacidade de memórias, mas pelas diferenças na qualidade do sono", afirma o pós-doutor da Universidade da Califórnia e principal autor do estudo, Bryce A. Mander.
As descobertas não querem dizer que a atrofia média pré-frontal seja a única mudança relacionada à idade que causa os problemas de memória, segundo o professor de psicologia e neurociência da Universidade da Califórnia, Matthew P. Walker, que é coautor do estudo. "Mas essas coisas estão relacionadas. Essencialmente, com o passar do tempo, quanto menos tecido na região pré-frontal você tem, menos qualidade de sono profundo se consegue e menos você se lembra do conteúdo que você acabou de aprender", relaciona.
Traduzido por Raquel Sodré
Comparação
Jovens aprendem 25% mais
Nova York. No estudo, uma equipe de pesquisadores da Califórnia fez imagens cerebrais de 19 pessoas em idade de aposentadoria e de 18 na faixa dos 20 anos. A pesquisa descobriu que a área do cérebro chamada córtex médio pré-frontal era, em média, 33% menor no grupo mais velho do que nos mais jovens - uma diferença devido a uma atrofia natural que acontece com o tempo.
Antes de dormirem, os grupos estudavam uma longa lista de palavras associadas a sílabas que não faziam nenhum sentido, como "ação e siblis" e "braço e reconver". Essas sílabas foram usadas porque um tipo de memória que diminui é a relacionada às informações totalmente novas. Depois do treinamento de cerca de uma hora, os participantes faziam um teste sobre os pares. O grupo de jovens teve um acerto 25% maior do que os mais velhos.
Então, todos iam dormir - e diferenças ainda maiores apareciam. O grupo mais velho só teve um quarto da quantidade de sono de ondas lentas de alta qualidade em relação ao alcançado pelo grupo de mais novos - a comunidade científica crê que as memórias temporárias são movidas para o arquivo de longo prazo do cérebro durante esse tipo de sono.
Em um segundo teste, dado para os participantes pela manhã, os jovens acertaram 55% a mais do que os mais velhos. O encolhimento estimado em cada pessoa, de forma geral, previu a diferença entre os acertos da noite e os da manhã. Até mesmo os aposentados que apresentaram um sono muito pesado mostraram uma diminuição no número de acertos depois de dormirem. (BC/NYT)
Antes de dormirem, os grupos estudavam uma longa lista de palavras associadas a sílabas que não faziam nenhum sentido, como "ação e siblis" e "braço e reconver". Essas sílabas foram usadas porque um tipo de memória que diminui é a relacionada às informações totalmente novas. Depois do treinamento de cerca de uma hora, os participantes faziam um teste sobre os pares. O grupo de jovens teve um acerto 25% maior do que os mais velhos.
Então, todos iam dormir - e diferenças ainda maiores apareciam. O grupo mais velho só teve um quarto da quantidade de sono de ondas lentas de alta qualidade em relação ao alcançado pelo grupo de mais novos - a comunidade científica crê que as memórias temporárias são movidas para o arquivo de longo prazo do cérebro durante esse tipo de sono.
Em um segundo teste, dado para os participantes pela manhã, os jovens acertaram 55% a mais do que os mais velhos. O encolhimento estimado em cada pessoa, de forma geral, previu a diferença entre os acertos da noite e os da manhã. Até mesmo os aposentados que apresentaram um sono muito pesado mostraram uma diminuição no número de acertos depois de dormirem. (BC/NYT)
Testes
Acumular memórias deixa menos espaço para novos fatos
Nova York.O aprendizado se torna mais difícil à medida que ficamos mais velhos não porque temos problemas para absorver informações novas, mas porque falhamos em esquecer coisas mais antigas, de acordo com algumas pesquisas.
Estudos realizados com ratos na Faculdade de Medicina da Geórgia, nos EUA, revelam que, à medida que as cobaias entraram na idade adulta, elas se mostraram menos capazes de enfraquecer as conexões que já existiam, e isso tornou mais difícil para elas formar memórias a longo prazo mais robustas.
"Pense nisso como escrever em um pedaço de papel em branco contra uma página de jornal. A diferença não é quão preta é a caneta, mas, sim, o fato de o jornal já ter coisas escritas nele", ilustra o principal autor do estudo, Joe Z. Tsien.
Os pesquisadores focaram duas proteínas conhecidas por serem importantes na formação de novas conexões no cérebro. Antes da puberdade, a mente produz mais uma do que outra. Na idade adulta, essa proporção se inverte.
Fazendo os ratos produzirem mais da NR2A - normalmente, em menor quantidade nos adultos - e efetivamente imitando o cérebro de alguém que já passou da puberdade, os cientistas esperavam que os sujeitos pesquisados tivessem problemas em formar conexões fortes.
Em vez disso, os ratos não apresentaram problemas na criação de memórias de curto prazo, mas ressonâncias do cérebro mostraram que eles se esforçavam mais para enfraquecer as conexões que haviam formado memórias de longo prazo mais antigas. (Douglas Quenqua/NYT)
Estudos realizados com ratos na Faculdade de Medicina da Geórgia, nos EUA, revelam que, à medida que as cobaias entraram na idade adulta, elas se mostraram menos capazes de enfraquecer as conexões que já existiam, e isso tornou mais difícil para elas formar memórias a longo prazo mais robustas.
"Pense nisso como escrever em um pedaço de papel em branco contra uma página de jornal. A diferença não é quão preta é a caneta, mas, sim, o fato de o jornal já ter coisas escritas nele", ilustra o principal autor do estudo, Joe Z. Tsien.
Os pesquisadores focaram duas proteínas conhecidas por serem importantes na formação de novas conexões no cérebro. Antes da puberdade, a mente produz mais uma do que outra. Na idade adulta, essa proporção se inverte.
Fazendo os ratos produzirem mais da NR2A - normalmente, em menor quantidade nos adultos - e efetivamente imitando o cérebro de alguém que já passou da puberdade, os cientistas esperavam que os sujeitos pesquisados tivessem problemas em formar conexões fortes.
Em vez disso, os ratos não apresentaram problemas na criação de memórias de curto prazo, mas ressonâncias do cérebro mostraram que eles se esforçavam mais para enfraquecer as conexões que haviam formado memórias de longo prazo mais antigas. (Douglas Quenqua/NYT)
Fonte: The New York Times