Análise: Agora é preciso focar no investimento para manter o consumo das famílias

20 de Fevereiro de 2013
por: Pedro Rossi

Os dados do IBGE sobre o comércio varejista contrastam frontalmente com o dinamismo da economia brasileira em 2012.

Enquanto o crescimento real da renda nacional foi em torno de 1%, o volume de vendas do comércio varejista apresentou uma alta um pouco acima de 8%.

Varejo decepciona e tem retração de 0,5% em dezembro

Há algumas variantes que podem explicar essa discrepância, mas o fator principal pode ser atribuído a uma característica estrutural da economia brasileira dos últimos anos: o aumento do poder de compra do trabalhador.

O modelo de crescimento nos últimos anos tem se apoiado fundamentalmente no consumo de massa turbinado por aumentos de salários e expansão do crédito.

A entrada de novas classes de consumo no mercado tem sido fundamental para o crescimento, pela ótica da demanda, do consumo das famílias e, pela ótica da oferta, dos setores de serviços e de comércio.

Essa dinâmica, quando conjugada com uma alta taxa de investimento, gera taxas de crescimento robustas como as que ocorreram em anos recentes.

Do ponto de vista estrutural, o investimento alimenta esse ciclo virtuoso ao permitir a continuidade dos aumentos de salários, do ciclo de crédito e da expansão da renda.

No entanto, em 2012 houve desaceleração do investimento macroeconômico que, paradoxalmente, não afetou de forma importante as vendas do comércio varejista.

Isso porque essas respondem de forma lenta e continuada ao ganho de renda dos trabalhadores nos últimos anos, que implica um crescimento do consumo das famílias sistematicamente maior do que a renda nacional.

Contudo, o grande desafio se refere à sustentabilidade desse modelo. Sem a expansão da oferta pela via dos investimentos, o crescimento do consumo das famílias perderá oxigênio e seu dinamismo se mostrará efêmero.

Ou seja, a mudança de eixo da economia brasileira do consumo para o investimento é fundamental para a própria continuidade do modelo de distribuição de renda e de consumo de massa.

Com isso, o crescimento do comércio varejista brasileiro deverá se tornar mais afinado com o crescimento da renda nacional.

PEDRO ROSSI é professor doutor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon/Unicamp).

Fonte: Folha de SP

Avenida Amazonas, 491, sala 912, CEP: 30180-001, Belo Horizonte/MG - Telefone: (31) 3110-9224 | (31) 98334-8756