Juro em queda não evita pessimismo

04 de Julho de 2012 às 09:52
por: Angela Bittencourt

Dadas as defasagens das pesquisas de indicadores econômicos, o segundo semestre começou com notícias que mais atrapalham do que ajudam o governo. São inevitáveis, previsíveis no calendário, mas confirmam que os primeiros meses do ano foram decepcionantes, apesar da queda contínua dos juros. E não será mais uma redução da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na semana que vem que promoverá uma reversão de cenário ou das expectativas e essa discussão está na pauta das autoridades monetárias.

A produção industrial só aumentou o pessimismo de instituições que não conseguem ver o Brasil decolando rapidamente, como deseja o governo. E, paralelamente ao retrocesso da indústria, trazem preocupação os rumos da inadimplência no crédito e a desaceleração da criação de vagas no mercado de trabalho. Essa é a avaliação de Paulo Carneiro, responsável pela mesa de volatilidade de juro da Icap Brasil, que projeta expansão de 1,5% para o PIB este ano, abrindo espaço para o BC testar o menor patamar de juros possível.

Carneiro lista razões que justificam pessimismo quanto à reação da atividade e não explicam, na sua opinião, o otimismo manifestado pelo governo com o vigor do segundo semestre. "A inadimplência demora mais a cair do que o previsto e limita a expansão do consumo, e essa demora frustra os planos oficiais de obter arrancada mais forte da atividade com pacotes de incentivo ao consumo, como ocorreu em 2008", comenta.

Além disso, diz, a elevação das vendas da linha branca é inferior a 2009, quando também houve corte de IPI; bancos rebaixam estimativas para o crédito; a criação de vagas está se desacelerando e montadoras abrem planos de demissão voluntária. "É muito difícil acreditar num discurso otimista, embora o mesmo BC tenha antecipado uma crise que foi subestimada, mas dados recentes mostram que isso pode ser uma mera propagação de otimismo. Interlocutores da presidente Dilma Rousseff esperam que esse sacrifício de baixo crescimento traga benefícios à população. O principal seria jogar a taxa Selic a patamar abaixo de 7%", afirma o especialista em juro, que considera muito cedo para dizer que o ciclo de alívio monetário está chegando ao fim.

Além dos dados do IBGE, de ontem, outros indicadores atrapalharam o começo do segundo semestre. O PMI Industrial/ HSBC caiu de 49,3 pontos em maio para 48,5 em junho, na menor graduação em oito meses, em função de demanda fraca - queda de pedidos. O volume de novos pedidos para exportação também caiu ao longo do mês, tornando ainda mais emblemático o resultado da balança comercial de junho, com superávit pouco superior a US$ 800 milhões. O pior desempenho em dez anos acendeu um sinal de alerta no governo.

O desânimo do consumidor tampouco passa despercebido. Como apurou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a expectativa do consumidor caiu 1,7% de maio para junho, reflexo da maior preocupação com o desemprego e uma condição financeira mais desfavorável.

 
Fonte: Valor Econômico

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