Presas aprendem ofício e vão da cadeia para a construção
As mãos que muitas vezes seguraram armas agora empunham pás, empurram carrinhos de areia, erguem paredes e constroem sonhos de um futuro melhor. "Lá fora, eu cometia assaltos. Agora, minhas armas serão essas, que eu vou usar para gerar renda e trazer um bom futuro para os meus filhos", conta Girlaine Rodrigues da Silva, 30, presa há dois anos e dez meses, enquanto mostra ferramentas de construção.
Ela e outras 35 detentas do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto (Piep), em Belo Horizonte, fazem parte da primeira turma de pedreiras (iniciação profissional de alvenaria) que o projeto Escola Móvel do Sesi/Senai desenvolveu para mulheres presas. Elas concluíram o curso, e a formatura está prevista para o mês que vem. Entre prática e teoria, foram quatro horas diárias durante 20 dias úteis.
A chance de contratação por construtoras é grande. "Hoje, 60% das empresas que contratam egressos do sistema prisional são da construção civil", afirma o cientista social do instituto Minas pela Paz, Ronalte Vicente da Silva.
Esse instituto, uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), encaminha egressos do sistema prisional para o mercado de trabalho. "Fazemos a articulação entre o governo do Estado e a iniciativa privada. Desde 2009, cerca de 2.500 detentos em Minas Gerais foram qualificados em parceria com a indústria, e 70% conseguiram acessar o mercado de trabalho", afirma o cientista social do instituto.
Demanda.A construtora Atrium tem hoje quatro ex-presidiários em sua equipe. "Se o candidato vem encaminhado pelo instituto Minas pela Paz, já sabemos que existe uma estrutura por trás e nos sentimos respaldados. Está muito difícil contratar e é importante eles chegarem qualificados", afirma a gerente de recursos humanos, Brenda de Souza.
Na construtora Masb, são 72 egressos. "É superinteressante contar com esse público. Eles são, no geral, dedicados, e a vontade de recomeçar faz a diferença. Como a dificuldade de mão de obra está em todo o mercado, é bom contar com pessoas comprometidas", diz a gerente de desenvolvimento humano Milecia de Oliveira.
Para a pedagoga do projeto Escola Móvel, Larissa de Oliveira, a contribuição de um curso vai além da recolocação profissional. "Quando a pessoa sai da prisão, ela não precisa, necessariamente, ser contratada por uma empresa, mas pode usar o que aprendeu para gerar renda", diz.
A diretora de atendimento do Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, Ana Cristina Cesário, destaca a importância dos cursos. "É uma porta que se abre. É muito mais fácil a sociedade aceitar uma pessoa capacitada", afirma. (APP e QA)