Inflação pesa na projeção de juros
Com o Banco Central sinalizando mais preocupação com o custo de vida, o mercado financeiro mudou suas apostas para os juros básicos da economia (Selic). Segundo o boletim semanal Focus, no qual a autoridade monetária reúne as expectativas de mais de 100 instituições, as projeções para a taxa passaram de 8,25% ao ano para 8,50% ao ano – a terceira mudança consecutiva da previsão. A taxa atual é de 7,25% ao ano. Diante do posicionamento mais duro do presidente do BC, Alexandre Tombini, que em discurso feito na semana passada indicou que pode aumentar juros em breve, o mercado passou a esperar uma primeira alta já na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio, uma elevação de 0,25 ponto percentual.
De acordo com os dados coletados pelo BC, o mercado estima que um segundo ajuste, em julho, pode ser mais forte que o primeiro – aperto de 0,50 ponto percentual. O último movimento do BC, de acordo com essas previsões, seria em outubro, quando finalmente a taxa chegaria a 8,50% ao ano. Para André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o mercado tem exagerado e pode ser muito cedo para mexer na taxa ou exigir isso do BC. Na avaliação dele, pode ser um erro em um cenário mundial de juros baixos, no qual as principais economias do planeta trabalham com taxas reais negativas, promover um aperto monetário.
“Subir a Selic agora é querer ser mais realista que o rei”, disse. “O Banco Central está correto em pedir calma ao mercado, mas cabe ao governo criar um clima mais sereno. Jogar a Selic para o menor nível da história não aconteceria sem soluços no caminho”, observou Perfeito. A visão dele, porém, não é compartilhada por todo o mercado, que tem se mostrado receoso com o ritmo do custo de vida. Além de uma inflação maior, a pesquisa do BC traz estimativas de que o país deve crescer um pouco menos que o projetado até a semana anterior. A previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 caiu de 3,03% para 3%.
CARESTIA Com uma expansão menor da atividade, os especialistas calculam também uma inflação menos intensa. A projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 5,73% para 5,71%. Na avaliação de Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora, esse recuo é um reflexo da desoneração dos produtos da cesta básica, que tem potencial de reduzir a carestia do ano entre 0,2 e 0,4 ponto percentual. “O percentual de repasse da desoneração sobre os alimentos para o consumidor final ainda é incerto, tendo em vista outros fatores que pressionam a inflação, como o reajuste do diesel, restrição do número de horas trabalhadas dos caminhoneiros e a valorização do dólar frente o real”, argumentou. Entretanto, a inflação a curtíssimo prazo preocupa. Os analistas ouvidos no Focus elevaram a projeção para o IPCA de março, de 0,45% para 0,50%.
Dívida pública sobe 1,34%
A dívida pública federal total, incluindo a interna e a externa, subiu 1,34%, em fevereiro, para R$ 1,95 trilhão, sobre o R$ 1,92 trilhão de janeiro. Esse montante está abaixo dos R$ 2,1 trilhões a R$ 2,24 trilhões previstos pelo Plano Anual de Financiamento (PAF) estimado para este ano. Os fazem parte de relatório divulgado ontem pelo Tesouro Nacional.
O coordenador-geral de operações da dívida pública do Tesouro, Fernando Garrido, destacou que os títulos pré-fixados e os indexados ao IPCA e os indexados ao IGP-M foram os que tiveram maior rendimento, de 11,7%, 30,1% e 21,6% ao ano, respectivamente. Já papéis os remunerados pela Selic pagaram 8% ao ano, ou seja, abaixo da média de 14,9% ao ano. De acordo com o órgão, o custo médio da dívida pública acumulado em 12 meses passou de 11,77%, em janeiro, para 11,78% ao ano em fevereiro. O prazo médio total caiu de 4,16 anos para 4,13 anos, no mesmo período. Para Garrido, essa queda foi pequena e as condições da dívida permaneceram “estáveis” e estão dentro da margem de 4,1 a 4,3 anos estipulada pelo PAF de 2013.
CHIPRE Já a turbulência inesperada causada pela ilha de Chipre nos mercados internacionais desde a semana passada deixou o governo brasileiro em compasso de espera para realizar novos lançamentos de títulos públicos no exterior. Ainda não há um consenso entre os técnicos se a janela de oportunidade foi fechada, entretanto eles admitem que a atenção em relação à forte oscilação dos mercados atualmente está elevada. “Há qualquer momento, esse cenário pode mudar e o governo emitirá novos papéis”, revelou uma fonte do governo.
O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, vem afirmando, desde o início do ano, que o governo ia fazer “logo” uma nova emissão no exterior. A última ocorreu em 5 setembro de 2012, de papéis Global 2023, com vencimento em 10 anos e que somaram US$ 1,35 bilhão.
Fonte: Estado de Minas