Preço do tomate igual a 1 kg de pernil assusta consumidor

04 de Abril de 2013
por: Paulo Nascimento
Com um preço médio de R$ 7,20 por quilo no varejo, o tomate está custando mais que a maioria dos itens da cesta básica. No entanto, esse preço chega a R$ 8,98 em duas grandes redes de supermercado da capital, refletindo a especulação do comércio na venda do produto. O valor do quilo do tomate já está igual a 1 quilo de pernil suíno, que também é comercializado por R$ 8,98, em média, nos frigoríficos das redes de supermercado de Belo Horizonte.

Vilão da cesta básica da capital mineira no mês de março, o tomate é, proporcionalmente, mais caro que itens como um pacote de café 500g (R$ 6,73), 1 quilo de feijão (R$ 5,88) e 1 litro de óleo de soja (R$ 3,57). Até mesmo aves e peixes estão mais baratos que o tomate. O frango congelado está com preço médio de R$ 6,98 e peixes como a corvina estão saindo a R$ 7,78.

"O produto está mais caro devido à entressafra, que começou em janeiro e vai até o final de maio", explica o orientador da seção de informação de mercado das Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (Ceasa Minas), Douglas Costa. "O tomate é muito representativo na alimentação, por isso o susto das pessoas quando o preço oscila", reforça.

Outros legumes que também estão no período de entressafra - como a beterraba, a cebola e a cenoura - acumulam altas moderadas. "A cenoura, por exemplo, está 45% mais cara, saindo por R$ 1,59 no atacado, quando o preço normal no período de safra é de R$ 0,86", exemplifica.

Ele ainda conta que Minas Gerais não só passa por um período de alta nos preços, como também perde mercado para os produtores, que preferem vender para as redes dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo devido aos valores que esses públicos oferecem pelos produtos - lá, esses itens estão ainda mais caros.

Inflação. "A alimentação tem tudo para ser a vilã da inflação deste ano. Para este primeiro semestre, o setor hortifrutigranjeiro segue como o principal agente desta alta", aponta o diretor adjunto da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG), Wanderley Ramalho.

Com a desoneração dos impostos federais da cesta básica, o diretor adjunto da fundação reforça que "o consumidor tem papel decisivo para inibir a especulação das redes de varejo, que devem aplicar o repasse nos preços, contribuindo para o controle da inflação".
 
Cantina
Macarrão, só sem molho vermelho
 
São Paulo. Com a alta no preço do tomate, até a tradição da comida italiana foi afetada. É o caso da cantina Nello’s, de São Paulo, que resolveu banir o ingrediente de pratos como o filé à parmegiana e a pizza de mussarela.

A mudança radical no menu está explicada em um cartaz na porta da loja, onde o proprietário, Augusto Melo, manifesta seu protesto contra a inflação. "Em respeito à nossa história, nos recusamos a aceitar a alta exagerada de preços do tomate", protesta.

A caixa de tomates de 20 kg comprada pelo restaurante custa normalmente entre R$ 20 e R$ 35, mas na semana passada chegou a R$ 180 no atacado. A cantina costuma comprar 1 tonelada de tomates por semana para servir cerca de 200 refeições por dia de segunda a sexta, e 400 aos sábados e domingos. Os clientes, por sua vez, estão trocando o filé à parmegiana pela milanesa.
 
 
Repercussão
Desoneração da cesta motiva audiência na ALMG
 
Motivada pela publicação da reportagem intitulada "Após desoneração, 65 produtos da cesta básica encarecem", na edição do jornal O TEMPO do último dia 2 de abril, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) levará o assunto para discussão em audiência pública nos próximos dias.

O requerimento já foi protocolado pelo deputado Rômulo Veneroso (PV), presidente Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte (CDCC). O evento pretende reunir representantes do setor supermercadista para que expliquem a motivo do aumento nos preços de 65 dos 138 produtos pesquisados pelo site Mercado Mineiro, e mostrados pela reportagem.

O presidente da CDCC acredita que o debate do assunto é questão de interesse público. "O consumidor ainda não viu o reflexo da medida na prática. Pelo contrário, metade dos produtos da cesta ficou mais cara", atesta o deputado Rômulo Veneroso. A data para a audiência, no entanto, ainda não foi definida pela ALMG. (PN)
Fonte: O TEMPO

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