Em 2012, mais de 1,3 mil pessoas morreram em acidentes nas estradas mineiras

05 de Abril de 2013
por: Guilherme Paranaiba e Valquiria Lopes

Publicação: 05/04/2013 06:00 Atualização: 05/04/2013 06:42

Acidente com envolvimento de ônibus e moto matou pedestre que esperava coletivo na MG-010 (Maria Tereza Correira)  
Acidente com envolvimento de ônibus e moto matou pedestre que esperava coletivo na MG-010

“As pessoas são muito violentas no trânsito. Meu primo perdeu a vida pela falta de educação e pelo excesso de velocidade”, desabafa o motorista Valdinei Pereira Sandes, de 39 anos. Ainda chocado, ele se refere ao desastre de ontem na MG-010, que matou o também motorista Claudino Nunes Brandão, de 40, atropelado por uma motocicleta. Segundo testemunhas, o homem foi atingido enquanto aguardava um ônibus às margens da Linha Verde pelo veículo, que seguia em alta velocidade. O desfecho trágico do acidente de Claudino se repete com frequência nas rodovias estaduais e federais delegadas em Minas Gerais. No no passado, mais de 1,3 mil pessoas morreram em acidentes nessas estradas, número 80% maior que o de 2006, quando foram 752 óbitos.

Apesar de em 2013 os números de janeiro e fevereiro não acompanharem a tendência de crescimento, o ano passado foi recordista de acidentes, feridos e mortos nas rodovias de responsabilidade da Polícia Militar Rodoviária (PMRv) em Minas Gerais. No acidente de ontem, de acordo com o sargento Anderson Correia, um ônibus também se envolveu e duas versões foram apresentadas no local. “O motorista do coletivo disse que estava parado quando a moto o acertou de lado e depois pegou o pedestre. Já o motoqueiro contou que o ônibus fez uma conversão brusca à direita para entrar no ponto e que acabou atingindo-o”, disse o militar. A única certeza é que mais uma morte está computada na conta das rodovias estaduais. Claudino deixa mulher e três filhos, completamente transtornados com a notícia, segundo contou o primo.

O aumento do número de mortes nas rodovias estaduais e federais delegadas pode estar associado ao tamanho da manha viária gerida pelo estado e pela ineficiência da fiscalização nesses pontos. De acordo com o doutor em planejamento de transportes e logística Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral, muitos motoristas optam pelas rotas feitas por MGs para evitar o rigor das federais, considerado por ele um pouco maior. “Além desse movimento de fuga da fiscalização, as estradas estaduais padecem com baixo efetivo e com a falta de aparelhamento técnico”, critica Resende, lembrando que a situação é ruim nos dois tipos de estradas, mas ainda pior nas estaduais.

Mais tráfego, mais desastres

Segundo o chefe do setor de Trânsito da Diretoria de Meio Ambiente e Trânsito da Polícia Militar (Dmat), major Gibran Condé Guedes, os principais fatores que contribuem para o aumento das mortes nas estradas policiadas pela PMRv são a expansão da frota, a evolução dos carros, que estão cada vez mais potentes, e a conduta dos motoristas. “Com o aumento da intensidade do tráfego nas rodovias a tendência é aumentar os acidentes. Com os veículos correndo cada vez mais, a chance das batidas também é maior”, avaliou.

Ainda segundo ele, são 1,3 mil policiais para dar conta de quase 27,5 mil quilômetros de estradas estaduais, além de 4,7 mil quilômetros de rodovias federais delegadas à fiscalização estadual. Mesmo assim, o militar não acredita que o efetivo seja pouco para a demanda atual. “Com o quadro que temos, conseguimos fazer muito no que diz respeito à fiscalização. Acho que o retorno seria muito maior se houvesse investimento maciço na educação dos motoristas. Não adianta aumentar o número de policiais se a cabeça das pessoas não mudar”, completa o militar.

Investimento em Infraestrutura
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que investe hoje mais de R$ 1 bilhão em obras de conservação rotineira, revitalização e restauração de pavimento em praticamente toda a malha. Nos corredores federais, segundo o órgão, serão concedidas à iniciativa privada as BRs 040, 050, 116, 153 e 262. A BR-381 tem promessa de duplicação entre BH e Governador Valadares, com recursos de aproximadamente R$ 4 bilhões. Em nota, o Dnit diz que continua investindo na manutenção de 4,5 mil quilômetros de rodovias federais delegadas, apesar de o governo do estado ter assumido a responsabilidade por cerca de 6 mil quilômetros deste tipo de via. Já na malha rodoviária estadual, segundo a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas foram investidos cerca de R$ 2,18 bilhões no biênio 2011/2012, em programas de pavimentação, manutenção de estradas, desenvolvimento econômico, prevenção de acidentes, concessão de vias, entre outros. Para 2013/2014, o investimento previsto é de R$ 6,4 bilhões, com recursos assegurados, segundo o governo do estado.

As vidas que o trânsito roubou (E ainda vai roubar)
Em 28 de janeiro, um desastre comoveu o país: depois do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), 241 pessoas morreram. O episódio resultou em investigações e providências que repercutem até hoje. Longe do Sul, no trânsito mineiro, uma outra tragédia se repete todos os dias. Silenciosa e mais grave. Desde o início do ano, mais de 560 pessoas morreram em ruas e rodovias do estado. É como se a catástrofe gaúcha tivesse ocorrido duas vezes em menos de quatro meses. O quadro é assustador, mas não gera a mobilização que se seguiria à queda de dois aviões em 90 dias, por exemplo. Porém, o tráfego mineiro sozinho tirou mais vidas que a soma dos acidentes com os voos 3054, da TAM – com 199 óbitos em São Paulo, em 2007 –, e 447, da Air France, que matou os 228 ocupantes que seguiam do Rio para Paris, em 2009. E o pior: mantido esse ritmo, quase 2.180 pessoas terão morrido vítimas de carros, motos, caminhões e ônibus até o fim de 2013.
 
 
Fonte: Estado de Minas

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