Preço da comida a quilo sobe 8,41% em BH
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O representante comercial Bruno Costa calcula gastar R$ 900 por mês com alimentação fora de casa |
Os aumentos dos preços médios apurados no levantamento ganham maior peso quando comparados com a inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na capital, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fechou o acumulado de 2012 em 6,03%. Nos 12 meses encerrados em fevereiro, o percentual foi de 6,37%. Ainda não é possível comparar o IPCA no acumulado de maio de 2012 a abril de 2013, como fez o Mercado Mineiro com o custo da refeição fora de casa, porque o IBGE só divulgará amanhã a inflação referente ao mês passado.
De qualquer forma, a alimentação longe do lar preocupa tanto os donos de restaurantes, que temem subir ainda mais os preços e perderem a clientela, quanto os consumidores, que comprometem boa parte do salário com as refeições. Há casos em que o trabalhador gasta quase 65% da renda com a alimentação fora do lar. O percentual foi calculado na mesma pesquisa do Mercado Mineiro, que simulou os gastos de lanches e almoço de uma pessoa que recebe um salário mínimo (R$ 678).
O gasto fica claro nas contas do diretor-executivo do site, Feliciano Abreu: “Pela manhã, a pessoa consome uma vitamina (preço médio de R$ 2,38) e um salgado (R$ 2,10, em média). No almoço, um PF (preço médio de R$ 9,79) e um refrigerante em lata (preço médio de R$ 3,09). Já à tarde, um refresco (preço médio de R$ 1,19) e um pão de queijo (preço médio de R$ 1,25). Somando todos esses valores, a pessoa teria um gasto médio de R$ 16,71 por dia. Multiplicando a cifra pela média de 22 dias trabalhados no mês, ela teria um gasto de R$ 435,60. Portanto, um assalariado que ganha R$ 678 estaria comprometendo 64,25% da renda com a alimentação fora de casa”.
Conta gorda O ajudante de distribuição Márcio da Silva Campos, de 40, sente no bolso o peso de almoçar e lanchar todos os dias longe da família. Mas ele não tem opção. “Gasto, em média, R$ 12 com o almoço e R$ 3 com o lanche da tarde. Faça as contas. No fim de abril, mês em que terei trabalhado 25 dias, de segunda-feira a sábado, terei desembolsado R$ 375. O valor corresponde a 53,5% do meu salário líquido (R$ 700). Comer fora afeta muito o orçamento das famílias. Mas fazer o quê? Ficar com fome? Não dá, né?”. Sua situação é amenizada com o tíquete-refeição pago pela empresa em que ele trabalha.
Feliciano simulou também esse tipo de despesa para quem recebe três salários mínimos (R$ 2.034,00): “Vamos supor que a pessoa consome, pela manhã, um suco natural de laranja (R$ 2,43, em média), um misto quente (preço médio de R$ 3,10). No almoço, 500 gramas num self service (valor médio de R$ 15,52) e um refrigerante em lata (preço médio de R$ 3,09). No final do dia, um café (preço médio de R$ 0,76) e um pão de queijo (preço médio de R$ 1,25). Portanto, o gasto médio diário é de R$ 26,15. Sendo assim, em 22 dias de trabalhado, o gasto é de R$ 575,30, comprometendo 28,29% daqueles três salários”.
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Sócia do Casa Cheia, Eliana Luzia está aflita com alta dos alimentos |
A alta da refeição preocupa também os donos de restaurantes. Diante da disparada dos preços dos alimentos, sobretudo do quilo do tomate, muitos optaram por reduzir a margem de lucro na esperança de os valores voltarem ao normal. Outros substituíram alguns ingredientes.
Eliana Batista Luzia, sócia do Casa Cheia, um dos estabelecimentos mais tradicionais do Mercado Central da capital mineira, está aflita: “O quilo da vagem, que custava R$ 4,99, foi para R$ 16. O do tomate nem se fala. Para fazer almoço para os clientes, eu costumava gastar, há um mês, R$ 130 no sacolão. Agora não saio de lá sem deixar pelo menos R$ 200. Mas não dá para repassar a diferença aos clientes”.
A estratégia, conta ela, foi trocar a vagem pela abobrinha. No caso do tomate, que não pode ficar ausente do self service, a fórmula adotada foi, como ela explica, “laminar” o produto: “É cortá-lo o mais fino possível, além de aproveitar o miolo para fazer o molho usado no macarrão”.
O empresário Manoel Penido Drumond, dono de um restaurante com seu nome, também torce para a normalização dos preços: “O feijão também está nas alturas. Paguei, há seis meses, R$ 50 num fardo de 30 quilos. Agora, comprei a mesma quantidade por R$ 160. O quilo da cebola, que estava a menos de R$ 3, está perto de R$ 5. Não sei o que vou fazer, pois não posso repassar a diferença para os clientes”.