Reclamações de moradores contra focos da doença aumentam mais de 200% em BH

09 de Abril de 2013
por: Valquiria Lopes

 

 (MARCOS MICHELIN/EM DA PRESS)  

O aumento dos casos de dengue em Belo Horizonte se reflete nas denúncias de focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. As 4.282 reclamações feitas pela população nos primeiros três meses deste ano cresceram 212% sobre as 1.372 do mesmo período de 2012. Mais que isso, as informações repassadas pela população à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) pelo Disque 156 (BH Resolve), pessoalmente ou por e-mail já ultrapassam também todo o volume de 2012, quando foram registradas 3.259 denúncias.

 

Apesar do empenho do cidadão em informar os endereços dos focos, o esforço pode estar sendo em vão. O prazo estipulado pela administração pública para que as providências sejam tomadas é de até 10 dias úteis ou no mínimo 12 dias corridos, tempo suficiente para que o ciclo de vida do mosquito seja completado. Para passar de larva à fase adulta são necessários de 3 a 15 dias, tempo que varia de acordo com as condições climáticas. Já na fase adulta, apenas uma fêmea pode pôr de 400 a 600 ovos entre os 30 a 35 dias que vive, em média.

A exigência do poder público tem sido alvo de queixa de moradores da capital, que se sentem frustrados com a demora e até mesmo com as providências tomadas. Um exemplo é a piscina da antiga sede da Associação Mineira de Paraplégicos (AMP), no Bairro Santa Efigênia, Região Leste da capital. Segundo a engenheira Rosana de Oliveira da Costa Lyra, responsável pela reclamação sobre a imóvel, o problema se arrasta há três anos. “Pediram 10 dias úteis para vir aqui. Achei um absurdo porque a piscina já estava cheia d’água. Vieram na tarde do último dia do prazo. Na última terça-feira, fizeram a limpeza da piscina e retiraram a água. Assim que saíram, choveu novamente”, lamentou.

 
A situação atual, segundo a engenheira, é a mesma. E o pior: sem previsão de mudança. O imóvel foi devolvido pela AMP à prefeitura em 6 de março. Após a denúncia, algumas medidas foram tomadas além do esvaziamento da piscina, como recolhimento do lixo, cobertura de quatro caixas-d’água e aplicação de larvicidas. Mas o aterramento da piscina permanece sem data.

“Isso nos assusta. Trabalhamos aqui do lado. De que adianta fazer a prevenção em casa e denunciar os focos se a prefeitura não toma medidas para realmente resolver o problema?”, critica.

Até a última quinta-feira, 8.193 casos de dengue foram confirmados na capital, número muito superior aos 151 casos dados como certos no mesmo período do ano passado e também maior que o total de 585 de 2012 inteiro.

Reduzir o tempo de atendimento às denúncias e pôr fim aos possíveis focos do mosquito poderia ser uma das medidas para frear o avanço do número de casos, na avaliação de especialistas. Segundo o vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling, quanto mais ágil for a resposta da administração pública, melhor será o resultado no controle da doença. “Esse prazo certamente poderia ser menor. Quanto menor, melhor, já que em 10 dias a larva pode chegar à fase adulta”, garante. Ele avalia o aumento no número de denúncias feitas neste ano como um sinal positivo, um avanço. Por outro lado, acredita que a população ainda está muito desatenta em relação aos cuidados para prevenir a doença. “Percebe-se pelo aumento de reclamações que a conscientização aumentou, mas certamente a prevenção ainda não é suficiente”.

Basta sair à porta de casa para o aposentado José Maria da Silva, de 60 anos, constatar tal descuido. No cruzamentos das ruas Bom Jesus da Penha e Ressaca, no Bairro Santa Terezinha, onde mora, um lote vago passou a ser ponto para despejo de lixo, móveis e animais mortos. “Já fiz várias denúncias. De vez em quando a prefeitura manda fazer a capina. Esse ano foi apenas uma vez”, disse.

PERIGO NA ESCOLA
Na Faculdade de Arquitetura da UFMG, uma fonte vazia na entrada do câmpus tem incomodado a população. De acordo com o vice-diretor da unidade, Paulo Gustavo von Krüger, a faculdade faz o escoamento da água com frequência no local e pretende fazer a cobertura da fonte, que é tombada, com vidro ou policarbonato.

Em um dos pontos mais movimentados da Savassi, no cruzamento das avenidas do Contorno e Nossa Senhora do Carmo, o mato alto em um terreno do Pátio Savassi incomoda quem passa pelo local. “Estamos preocupadas com a epidemia. Conhecemos várias pessoas que já adoeceram. Ficou comum as pessoas sumirem uma semana porque estavam com a doença. A possibilidade de ter um foco por perto incomoda”, afirma a bióloga Luiza Fonseca, de 25 anos. A amiga dela, a terapeuta ocupacional Letícia Gazzinelli, de 24, também está preocupada: “O problema da dengue não é só culpa da população. É um problema de saúde pública. A situação fugiu do controle do poder público”, diz

A assessoria de imprensa do shopping informou que a PBH faz fiscalizaão periódica no local. A última ocorreu em fevereiro e o órgão não constatou nenhuma irregularidade. Este ano, até março, foram feitas 698.809 visitas de controle de dengue em Belo Horizonte. Em 2012, foram 4.372.150 visitas.

ENQUANTO ISSO...
 
..FUNED RECEBE REFORÇOS

Dois técnicos da sede Belo Horizonte da Fundação Oswaldo Cruz reforçaram ontem o quadro de funcionários da Fundação Ezequiel Dias (Funed) que trabalham na análise das amostras de sangue para constatar casos de dengue. O material biológico tem sobrecarregado a Funed. São cerca de 3 mil amostras acumuladas. E 700 são recebidas por dia. “Éramos quatro funcionários no laboratório. Passamos para 10 e depois reforçamos para 24. Com a chegada de mais dois técnicos chegamos a 26. Ainda assim, não temos previsão de quando a situação será normalizada”, afirmou o chefe do Serviço de Virologia da Funed, Glauco de Carvalho Pereira.
 
Fonte: Estado de Minas

Avenida Amazonas, 491, sala 912, CEP: 30180-001, Belo Horizonte/MG - Telefone: (31) 3110-9224 | (31) 98334-8756