Taxa de juros devem subir; mercado aposta em 8,50%
Diante da desaceleração da economia chinesa, atualmente o principal parceiro comercial do Brasil, o medo tomou conta do mercado financeiro. O país avançou 7,7% no primeiro trimestre enquanto as expectativas eram de uma taxa de 8%. As ações da Vale, empresa altamente dependente dos asiáticos, derreteram. Os papéis ordinários perderam 6,13%; os preferênciais, 6,47%. A Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa), além de prejudicada pelo desempenho da mineradora, foi afetada ainda pelo atentado terrorista em Boston, nos Estados Unidos, e encolheu 3,66% – fechou o dia a 52.949 pontos, o pior resultado em 18 meses. O atentado derrubou também as principais bolsas norte-americanas e da Europa.
Esse avanço menor da economia chinesa preocupou os analistas brasileiros e trouxe à lembrança falas do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que alertaram para o problema que seria para o Brasil se o país asiático avançasse abaixo de 8%. Essa, segundo informações do Escritório Nacional de Estatísticas da China, o equivalente chinês do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi a oitava desaceleração consecutiva. Em 2012, o Produto Interno Bruto (PIB) do país registrou alta de 7,8%, o menor resultado em 13 anos e, o governo da China tem, para 2013, uma meta relativamente modesta de 7,5%.
O órgão de estatística chinês afirmou em um comunicado que “o complicado e volátil entorno econômico dentro e fora da China” explica o dado trimestral. “É provável que a primeira reação dos mercados com os indicadores chineses não seja positiva em função da desaceleração. Essa frustração com o desempenho do crescimento da China deve predominar negativamente também nos preços dos ativos”, analisou Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners em referência à desvalorização de ações de empresas e à queda de índices de bolsas no Brasil e no mundo.
Com a desaceleração chinesa, parte dos economistas critica uma possível alta da taxa básica de juros (Selic) no Brasil amanhã, dada como certa no mercado futuro e pela maioria dos economistas. “O mundo desacelera e a atividade por aqui patina e mesmo assim se exige do Banco Central uma atitude austera. Subir a Selic é uma tentativa banal de tentar ser mais realista que o rei”, criticou André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimentos.
Apostas
Para o mercado futuro, não há dúvidas: os juros básicos (Selic) sobem amanhã, quando acaba a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Os operadores, porém, se dividem quanto ao tamanho do aperto. Até a semana passada, predominava a aposta de um ajuste de 0,25 ponto percentual. Agora, 0,50 ponto ganha força. Apesar da proximidade da elevação, os analistas argumentam que o processo será de menor duração e deve levar a Selic a 8,50% ao ano depois de duas altas de 0,50 ponto percentual em abril e maio e mais uma de 0,25 em julho.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco WestLB do Brasil, está entre os que acreditam que a palavra cautela, usada na ata da última reunião Copom, ainda vale e, por isso, o BC deve elevar a Selic amanhã em 0,25 ponto percentual. “A que parece, o Banco Central se frustrou com os dados mais recentes de inflação, que indicaram pouca eficácia até o momento das medidas de desoneração tributária no combate à inflação, levando-o a acelerar o processo de ajuste das condições monetárias”, argumentou.
Para Fernando Montero, economista-chefe da Tullet Prebon Brasil, a alta deve ser maior, de 0,50 ponto percentual, como forma de retomar a credibilidade arranhada após declarações da presidente Dilma Rousseff, na África do Sul, que criticavam a um possível aperto monetário. “O BC já avisou que os juros vão subir. Definida a estratégia, e já que o BC está buscando credibilidade, faz pouco sentido adiar o ciclo de alta dos juros”, afirmou. Ele afirma, porém, que há possibilidade de a diretoria do Banco Central começar com um ajuste mais brando, de 0,25 ponto percentual.
Segundo Montero, o BC se encontra em uma situação complexa e se vê obrigado a desacelerar uma economia que não cresce. Ele destaca que a autoridade monetária lida com um país onde há falta mão de obra e, ao mesmo tempo, os trabalhadores têm pouca qualificação. “Com tudo isso, a renda do trabalho cresce e o investimento cai.”
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Mercado vê preços em baixa
Frente às avaliações de que o Banco Central deve elevar a taxa básica de juros amanhã, o mercado financeiro, no boletim Focus divulgado ontem, revisou para baixo a previsão de inflação para 2013. A projeção de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 5,70% para 5,68%. Há quatro semanas, a estimativa estava em 5,73%. Para 2014, a projeção segue em 5,70%. Em em um mês, estava em 5,54%. Nas estimativas do grupo dos analistas consultados que mais acertam as projeções, o chamado top 5 da pesquisa Focus, a previsão para o IPCA em 2013 no cenário de médio prazo caiu de 5,84% para 5,73%.
Os economistas consultados pela pesquisa do BC mantiveram a previsão para a taxa básica de juros (Selic) no fim de 2013 em 8,50% ao ano. Para o fim de 2014, a mediana das projeções também segue em 8,50% ao ano. Há quatro semanas, as projeções estavam em, respectivamente, 8,25% e 8,50% ao ano. A previsão para a reunião do Copom de amanhã segue em 7,25% ao ano, o que indica manutenção da taxa Selic.
Fonte: Estado de Minas