Indústrias agem para encarar a turbulência

09 de Julho de 2012 às 09:15
por: Marta Vieira
A piora do ritmo de produção da indústria leva as empresas dos tradicionais polos produtores do interior de Minas Gerais a enxugar os custos e buscar saídas criativas para contornar e enfrentar o desaquecimento da economia. Os fabricantes de calçados de Nova Serrana e as confecções de Divinópolis, no Centro-Oeste, dão mais liberdade e apoio aos designers de produtos, para valorizar as peças, e reforçam a estratégia dos lançamentos de moda rápida, aqueles que duram pouco nas prateleiras, com o viés da novidade que agrada ao consumidor. No chamado Vale da Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, no Sul do estado, as fábricas reduzem as compras de matéria-prima importada, mais cara depois da elevação do dólar frente ao real, e correm atrás de ganhos de produtividade.

Beneficiado pelo Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido, o polo moveleiro da região de Ubá, na Zona da Mata, busca diversificar a produção e aplicar mais tecnologia na modelagem. Fornecedora do setor automotivo, também favorecido pela desoneração tributária, a indústria de fundição segura a mão de obra especializada e algumas empresas mantêm as exportações à espera de novas encomendas em agosto. As vendas externas dos produtores independentes de ferro-gusa, matéria-prima do aço, reagiram, da mesma forma, à apreciação cambial, no entanto, a queda dos preços no mercado internacional frustrou as expectativas dos guseiros.

Os levantamentos mais recentes da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) indicam um ritmo de atividade ao redor de 85%, em média, da capacidade instalada das fábricas em todo o estado. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor encerrou maio produzindo 80,5% do que é capaz de fabricar. A aposta das empresas, agora, está nos resultados deste semestre, período de vendas maiores no comércio e circulação de renda extraordinária na economia, observa Antônio Araújo Rodrigues Filho, presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário de Divinópolis. “É no segundo semestre que as indústrias faturam 60% a 70% da sua receita no ano. Elas estabeleceram como foco a valorização do produto e do atendimento e trabalham nos lançamentos, para ter peças diferentes a cada 15 dias ou até mesmo semanalmente”, afirma.
 

Estratégia idêntica de investir na moda rápida foi azeitada pelos calçadistas de Nova Serrana. O industrial Ramon Alves do Amaral, que preside o sindicato do setor, diz que as vendas caíram 30%, na concorrência desigual com os importados. “As empresas trabalham em baixa, mas correm atrás para atrair mais clientes, com moda rápida, tecnologia e medidas de redução de custos”, diz. O ânimo dos fabricantes arrefeceu depois de previsões no começo do ano de crescer 20%.
A sobretaxa de parte de calçados importados da China anunciada na quarta-feira pela Câmara de Comércio Exterior (Camex) ajuda, mas o principal para o setor, de acordo com Ramon Amaral, seria o aperto na fiscalização da entrada de partes e peças de calçados no Brasil, vendidos a preços subfaturados. No cenário morno de indicadores da economia, os produtores de Nova Serrana passaram a trabalhar com a perspectivas de empate com a produção do ano passado.

Compasso de espera Entre os segmentos atendidos por medidas recentes do governo federal para reanimar a economia, o polo moveleiro de Ubá manteve a projeção moderada de expansão de 5%, embora tenha sido ampliado o prazo da redução do IPI para os móveis até setembro. “No primeiro momento, a desoneração ajudou bastante, mas hoje não vemos mais os reflexos esperados da medida. O consumidor está comprando pouco”, afirma Michel Pires, presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias do Mobiliário de Ubá. A reação dos clientes estaria associada ao aumento da inadimplência. Em abril, quando foi anunciada a redução do IPI, o setor estimou aumento de 8% a 10% no faturamento. As empresas estão se movimentando, segundo Pires, para diminuir os custos, ao mesmo tempo em que agem nas linhas de produção.

Mesmo com o benefício indireto da redução do IPI, já que 60% da sua produção atende às montadoras de veículos e autopeças, a indústria mineira da fundição se deparou com um corte de 30% das encomendas no mês passado, conta o presidente do sindicato do setor (Sifumg), Afonso Gonzaga. As fábricas estão em compasso de espera para retomar a produção, no entanto, já rebaixaram a expectativa de crescer de 9% para 6% frente à produção de 1,170 milhão de toneladas de 2011. “É uma situação de apreensão e muitas dúvidas. Há medidas que ajudam o setor anunciadas pelo governo, mas a burocracia adia a sua implantação”, afirma.

enquanto isso...
...Expectativa é de mais incentivos


Mais dois indicadores importantes para avaliar os rumos da economia brasileira serão divulgados esta semana. Amanhã é a vez da Pesquisa Industrial Mensal: Emprego e Salário referente a maio e na quarta-feira a instituição publica os dados também de maio dos negócios do comércio. Para os representantes dos sindicatos das indústrias ouvidos pelo Estado de Minas, são necessárias novas medidas no sentido de reanimar a indústria.

Os fabricantes de roupas de Divinópolis querem que seja estendida às compras dos governos municipais e estaduais a recente medida tomada pelo Palácio do Planalto que ampliou o percentual de compras federais que dá preferência aos tecidos e confecções nacionais, inclusive com preços até 20% maiores que o produto estrangeiro. A redução da carga tributária incidente sobre as cadeias de produção é pedido praticamente unânime. Em Santa Rita, os empresários querem a simplificação e o aumento do crédito para capital de giro. O instrumento mais abrangente é requerido pela indústria de fundição, uma ampla política industrial para o país.

 

Fonte: Estado de Minas

 

 

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