Custo de vida é maior para os mais pobres
10 de Maio de 2013
por: Victor Martins e Geórgea Choucair
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Vendedora, Rafaela Caldeira tenta equilibrar gastos com produtos baratos |
Roque Pellizzaro, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), explica que essa diferença de classificação dos clientes é uma característica do mercado de crédito e do sistema bancário. “O banco ganha mais dinheiro com o cliente mais rico”, observa. “Além disso, a família de baixa renda vai comprometer um espaço grande da receita mensal com uma prestação e não pode esquecer que tem de comer, dormir, pagar água, luz e telefone. Se o comprometimento da renda é grande, o risco é maior”, diz. E, segundo especialistas, quanto maior o risco, maior o tamanho dos juros para fazer frente a um possível calote.
Com essa lógica, o impacto do aumento dos juros é maior no bolso de quem tem menos dinheiro. E as taxas de juros nas operações de crédito subiram em abril para pessoa física e interromperam quatro meses consecutivos de queda, segundo a Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A taxa de juros média geral para pessoa física apresentou alta de 0,03 ponto porcentual em abril, o que corresponde a uma elevação de 0,56% ao mês, passando de 5,40% ao mês – 87,97% ao ano – em março para 5,43% ao mês – 88,61% ao ano – em abril. A taxa é a maior desde dezembro.
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A combinação juros altos e inflação anula a capacidade de investir das pessoas de baixa renda. A família da doméstica Vanusa Lopes de Sá ganha, em média, R$ 1,57 mil por mês. Ela recebe um salário mínimo (R$ 678) e seu marido, que é pedreiro, R$ 900 por mês. O casal tem dois filhos, de 2 e 17 anos. Na sua avaliação, sacolão e as compras de supermercado são os que mais pesam no orçamento. “Mas tentamos economizar com a cesta básica que meu marido recebe. Minha patroa também ajuda com alguns mantimentos”, diz Vanusa.
Ela mora em casa própria e ainda gasta mensalmente cerca de R$ 200 com água, R$ 90 com luz, R$ 82 com telefone, R$ 72 com internet e R$ 120 com TV a cabo. “Eu cortei a compra de tomate e alface do sacolão. As coisas mais saudáveis estão mais caras. No supermercado não há mais o que cortar, pois já compramos só o básico mesmo”, observa Vanusa. Quando sobra algum dinheiro do orçamento, ela aplica de R$ 50 a R$ 100 na caderneta de poupança. “É a aplicação que tem menos taxa para pagar”, diz.
Apesar da alta dos preços e da percepção do aumento do custo de vida pela população, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a inflação em abril veio "um pouco acima do previsto", mas está "sob controle" e vai recuar nos próximos meses.
Fonte: Estado de Minas