Custo de vida é maior para os mais pobres

10 de Maio de 2013
por: Victor Martins e Geórgea Choucair

 

Vendedora, Rafaela Caldeira tenta equilibrar gastos com produtos baratos (GLADYSTON RODRIGUES/EM/D.A PRESS)  
Vendedora, Rafaela Caldeira tenta equilibrar gastos com produtos baratos
Além de sofrer com um aumento no custo de vida superior ao registrado para as famílias de renda mais alta, os brasileiros com menor poder de compra arcam com custos mais altos até mesmo quando têm alguma sobra e buscam uma aplicação financeira. Em um levantamento feito pelo Estado de Minas em um grande banco do país, essa diferenciação fica clara ainda nas taxas de administração cobradas pelos bancos. No caso de investimentos em fundos de renda fixa, por exemplo, o cliente comum paga uma taxa média de 1,83% ao ano. Para o de alta renda esse custo cai praticamente pela metade, para 0,98% ao ano.

Roque Pellizzaro, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), explica que essa diferença de classificação dos clientes é uma característica do mercado de crédito e do sistema bancário. “O banco ganha mais dinheiro com o cliente mais rico”, observa. “Além disso, a família de baixa renda vai comprometer um espaço grande da receita mensal com uma prestação e não pode esquecer que tem de comer, dormir, pagar água, luz e telefone. Se o comprometimento da renda é grande, o risco é maior”, diz. E, segundo especialistas, quanto maior o risco, maior o tamanho dos juros para fazer frente a um possível calote.

Com essa lógica, o impacto do aumento dos juros é maior no bolso de quem tem menos dinheiro. E as taxas de juros nas operações de crédito subiram em abril para pessoa física e interromperam quatro meses consecutivos de queda, segundo a Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A taxa de juros média geral para pessoa física apresentou alta de 0,03 ponto porcentual em abril, o que corresponde a uma elevação de 0,56% ao mês, passando de 5,40% ao mês – 87,97% ao ano – em março para 5,43% ao mês – 88,61% ao ano – em abril. A taxa é a maior desde dezembro.

 
No bolso

A combinação juros altos e inflação anula a capacidade de investir das pessoas de baixa renda. A família da doméstica Vanusa Lopes de Sá ganha, em média, R$ 1,57 mil por mês. Ela recebe um salário mínimo (R$ 678) e seu marido, que é pedreiro, R$ 900 por mês. O casal tem dois filhos, de 2 e 17 anos. Na sua avaliação, sacolão e as compras de supermercado são os que mais pesam no orçamento. “Mas tentamos economizar com a cesta básica que meu marido recebe. Minha patroa também ajuda com alguns mantimentos”, diz Vanusa.

Ela mora em casa própria e ainda gasta mensalmente cerca de R$ 200 com água, R$ 90 com luz, R$ 82 com telefone, R$ 72 com internet e R$ 120 com TV a cabo. “Eu cortei a compra de tomate e alface do sacolão. As coisas mais saudáveis estão mais caras. No supermercado não há mais o que cortar, pois já compramos só o básico mesmo”, observa Vanusa. Quando sobra algum dinheiro do orçamento, ela aplica de R$ 50 a R$ 100 na caderneta de poupança. “É a aplicação que tem menos taxa para pagar”, diz.

Apesar da alta dos preços e da percepção do aumento do custo de vida pela população, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que a inflação em abril veio "um pouco acima do previsto", mas está "sob controle" e vai recuar nos próximos meses.
 
 
Fonte: Estado de Minas

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