Retomada do crescimento deverá levar mais tempo

15 de Maio de 2013
por: Andra Rocha

A antecipação da agenda política, o aumento da inflação e a demora do governo federal em adotar medidas de incentivo ao setor produtivo são fatores que podem adiar, para os próximos três anos, a retomada do crescimento econômico do país. Na avaliação de especialistas, entre 2013 e 2015 o brasileiro viverá "tempos difíceis". O Produto Interno Bruto (PIB) deve apresentar ligeira expansão, variando entre 2% e 3%, mas a inflação ainda se manterá em patamares elevados, entre 5% e 6%, afetando principalmente quem tem menor poder aquisitivo.

Para o professor de Contabilidade Pública do Ibmec, Thiago Bernardo Borges, os próximos três anos terão "uma situação bem restrita". Em sua avaliação, o país perdeu a oportunidade de mais ganhos e investimentos, tendo em vista a crise que desestabilizou a Europa e os Estados Unidos a partir de 2008. "Poderíamos ter captado mais recursos", analisa.

Iniciativas como a Medida Provisória 595/2012 para a privatização dos portos podem estimular fortemente a economia brasileira, assim como a unificação das alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) nas operações interestaduais, que não deixa de ser um passo para a tão desejada reforma tributária. No entanto, nenhum desses projetos, caso sejam mesmo aprovados, conseguirá dar algum retorno nos próximos três anos. "A curto prazo, a perspectiva não é das melhores", indica o economista.

Enquanto os projetos e programas de incentivo à participação da iniciativa privada não avançam no Congresso Nacional (que já funciona em ritmo eleitoral), a tendência é que o governo "intensifique seus gastos", o que seria uma temeridade. Borges observa que o endividamento interno e externo está em níveis muito altos, principalmente se comparado a períodos anteriores à crise internacional, como 2007, o que inviabiliza investimentos do setor público em áreas estratégicas como a de infraestrutura.

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Para especialistas, a aprovação da MP dos Portos pelo Congresso deve estimular a economia brasileira
Para especialistas, a aprovação da MP dos Portos pelo Congresso deve estimular a economia brasileira

"A dívida externa brasileira já está na casa do trilhão. E como todo ano o governo paga juros da dívida, sobra pouco para investimento, o que influencia todo o ciclo econômico", analisa Borges, para quem a contenção dos gastos públicos deve ser prioridade. O agravante é que, embora as eleições majoritárias aconteçam somente a partir de outubro de 2014, o movimento político começou muito antes disso, e já se faz notar desde os primórdios de 2013.

Segundo Borges, estudos acadêmicos demonstraram que antes do meio do ano eleitoral os gastos públicos são elevados. O que, na atual conjuntura, não favorece em nada o Brasil. Pois quanto mais se distribui em cargos e recursos de última hora, menos sobra para investimentos em infraestrutura. Para o economista, o movimento feito recentemente pelo governo federal, de incentivo à participação da iniciativa privada em programas de concessão de aeroportos e rodovias, é o caminho acertado para o desenvolvimento econômico sustentável.


Barganhas - No entanto, a hora não parece a mais propícia. "Será muito difícil passar reformas agora, já na segunda metade do governo", opina Borges, para quem o momento adequado é justamente nos primeiros anos do governo, mais distante das próximas eleições. Ele observa que o governo federal forma um grupo de coalisão muito robusto, "com partidos muito díspares", o que favorece as barganhas e dificulta a aprovação de projetos cruciais para o país.

Na avaliação de Borges, diante da atual conjuntura e já em movimento eleitoral, as perspectivas para os próximos três anos são de um crescimento modesto do PIB. Para 2013, ele projeta um aumento de 1,5% e, para 2014, uma variação entre 2% e 3%, quando haverá "maturação dos investimentos e movimentos realizados pelo governo federal no ano passado".

Fanfarra - Já o economista Roberto Luis Troster prevê um crescimento do PIB em 2013 um pouco mais alto, de cerca de 3%, e um aumento um pouco maior em 2014. No entanto, apesar dessa projeção mais otimista, ele não acredita muito na execução de programas e projetos anunciados pelo governo federal, alguns deles em tramitação no Congresso, a exemplo da MP dos Portos. " muita fanfarra e pouca música", critica o economista. Para ele, o setor público continua "muito inchado e ineficiente".

 

 

Fonte: Diário do Comércio

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