PBH apresenta planos diretores regionais para desafogar o Hipercentro nas próximas décadas
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Como estará a cidade daqui a 25 anos? A resposta da PBH passa por uma profunda reforma urbana, que envolve zoneamento e exploração de perfis específicos para cada região |
Uma capital com nove “centros da cidade” é o desenho que a prefeitura está traçando para Belo Horizonte nas próximas décadas. A fim de desafogar o Hipercentro, a Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano identificou áreas em cada uma das regionais onde serão criados polos de comércio e serviços. As avenidas José Cândido da Silveira, Abílio Machado e Sinfrônio Brochado, a Rua Padre Pedro Pinto e os bairros Santa Amélia, Betânia e Guarani, além da região da nova rodoviária, no São Gabriel, são os endereços indicados para o crescimento de BH. Moradores, entretanto, questionam a forma de adensamento e cobram maior transparência da prefeitura sobre os projetos para a cidade.
O levantamento resulta da elaboração dos planos diretores regionais e foi apresentado ontem durante o evento “De olho no futuro: como estará Belo Horizonte daqui a 25 anos?”, promovido pelo Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco). Em gestação desde 2011, os estudos identificaram os problemas e potencialidades e vão direcionar o desenvolvimento de cada uma delas. Com exceção da Centro-Sul, a proposta é que todas as outras oito regionais concentrem equipamentos públicos, consultórios médicos, comércio diversificado, empresas, entre outros serviços.
Segundo a arquiteta urbanista Luciana Ostos, da Secretaria de Planejamento Urbano, o objetivo é evitar que as pessoas tenham que se deslocar para o Centro da cidade e possam contar com comércio e serviços diversificados perto de casa. “Os estudos mostraram a capacidade de suporte de algumas regiões para a criação de novas centralidades. Vamos incentivar isso a partir da flexibilização de usos nas vias, do zoneamento e alterando a permissividade de construção em algumas áreas”, afirma.
As alterações dependem de aprovação da Câmara Municipal, e a arquiteta garante que não são sinônimos de verticalização. “Venda Nova, por exemplo, conseguiu criar um centro sem crescimento vertical”, diz. A conclusão do trabalho será apresentada na Conferência Municipal de Políticas Urbanas este ano. É nesse evento, sem data marcada ainda, que representantes da sociedade civil, empresários e poder público definirão mudanças nas Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo e no Plano Diretor de BH.
Um dos integrantes do Movimento das Associações de Bairro de BH (MAM-BH), Fernando Santana, reclama da falta de clareza no planejamento da prefeitura. “A ideia de descentralizar é importante, mas não ficou claro como isso será feito. Há pessoas que moram nesses lugares e ficam preocupadas com uma possível verticalização”, afirma Santana.
A arquiteta urbanista Jurema Rugani, do Fórum Agenda 21, ressalta que, para estimular a criação de novos centros, não basta adensar. “É preciso agregar serviços fundamentais à população, como educação, transporte, oferta de saúde. Caso contrário, dificilmente, a população deixará de frequentar a Região Centro-Sul”, afirma.
Frota de veículos crescerá 70%
Em 2040, quase 70% a mais de veículos nas ruas e avenidas de Belo Horizonte. A perspectiva assustadora foi apresentada ontem pelo Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco), durante o evento “De olho no futuro: como estará BH daqui a 25 anos?”. A previsão da entidade é que, nesse intervalo, a frota da capital salte de 1,5 milhão de veículos hoje para 2,6 milhões, chegando à marca de um veículo per capita. Em contrapartida, pesquisa da mesma instituição apontou que 83% dos entrevistados consideram a mobilidade o principal problema da cidade.
“Não há obra que sustente uma situação dessas. O governo não pode mais privilegiar o transporte individual em detrimento do transporte de massa”, avalia o presidente do Sinaenco, Maurício de Lana. Para agravar a situação, o consultor em transportes Silvestre de Andrade ressalta que, apesar das obras e promessas, BH enfrenta falta de investimentos em mobilidade.
“Estamos pagando por uma defasagem de um período sem obras e de explosão demográfica. É um passivo a ser resgatado”, alerta. Além do investimento em transporte público de massa, principalmente o metrô, o especialista defende o estímulos a centros regionais de comércio e serviços, valorização do pedestre e ciclista, pedágio urbano em áreas mais centrais, para desestimular o uso do carro nessas regiões.
O evento começou na capital mineira e vai passar por mais 12 cidades brasileiras. As sugestões e principais discussões levantadas em cada cidade serão consolidadas em um documento e entregues aos governos e prefeituras no fim do ano.
SAIBA MAIS: novas áreas de preservação
Além de apontar regiões potenciais para a formação de novos centros urbanos, os planos diretores regionais identificaram futuras áreas de preservação ambiental. O objetivo é formar corredores verdes entre reservas já protegidas, além de parques ao longo de cursos d’água, como o Ribeirão do Onça. Pela proposta da prefeitura, a Regional Nordeste é aquela com maior acréscimo de proteção. Atualmente, o maior percentual de áreas de interesse ambiental está localizado no Barreiro, com 26,8% de seu território tomado pelo verde.