Receio de PIB baixo limita alta da taxa de juros
A expectativa diante do anúncio do Produto Interno Bruto (PIB), cuja projeção foi novamente rebaixada para o ano, levou o mercado a apostar em um aumento gradual e moderado na taxa de juros, a Selic, de apenas 0,25 ponto percentual. Os dois indicadores serão divulgados amanhã, mas o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela o PIB pela manhã, enquanto a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa ainda hoje, só termina no início da noite.
Ontem, o Banco Central divulgou o Boletim Focus, pesquisa com mais de 100 instituições financeiras, e o consenso em torno da Selic é de elevação dos atuais 7,50% para 7,75% ao ano. O mercado também projeta a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2013 com leve alta, de 5,80% para 5,81%. Há quatro semanas, a estimativa era de 5,71%. Para 2014, a aposta é de um IPCA de 5,80%.
A previsão de crescimento da economia brasileira em 2013, o PIB, recuou mais uma vez, de 2,98% para 2,93% no Boletim Focus. Para 2014, a estimativa segue em 3,5%. Há quatro semanas, as projeções eram, respectivamente, de 3% e 3,5%. Para o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), a semana, embora importante do ponto de vista da divulgação de números aguardados pelo mercado, não deve trazer surpresas. A Selic, aposta ele, subirá mesmo 0,25 ponto percentual. "O Banco Central adotou uma trajetória de muita cautela", avalia ele, que acredita em taxa básica de juros na casa dos 8,5% no fim deste ano.
A divulgação do PIB poderá reforçar, na avaliação de Oreiro, a tendência do BC de não mexer tanto na Selic. “A inflação está cedendo no acumulado de 12 meses e não há sinais de retomada de crescimento acelerado na economia. Existe, sim, um certo receio em adotar um aumento muito drástico”, completa o economista. Diante dos sinais recentes, Oreiro sustenta não haver clima para política monetária muito agressiva. “O BC vai manter um avanço lento e gradual da taxa básica. Aumentará 0,25 (ponto percentual) e vai esperar para ver o que acontece”, acredita.
O economista José Matias-Pereira, também professor da UnB, é outro que não acredita em números destoantes das previsões feitas até aqui. “O Copom continuará a trajetória de alta, mas nada muito significativo”, diz. Para ele, o ajuste de 0,25 ponto percentual servirá, mais do que qualquer outra coisa, para transparecer a preocupação do governo com a inflação.
Indústria e demanda
“Aumentar os juros aos poucos é uma forma de a autoridade monetária tentar minimizar a imagem de distanciamento da recente escalada de preços”, argumenta. Sobre o PIB, Matias-Pereira pondera ser preciso esperar o resultado do primeiro trimestre para ter uma visão mais clara do cenário, mas não vislumbra crescimento, até dezembro, superior a 2,5%. “O comportamento da economia brasileira segue preocupante. As medidas escolhidas pelo governo, como a política de desonerações, não tiveram o efeito esperado”, comenta o economista, ao destacar a situação delicada da indústria. “Os setores agrícola e de serviços continuam sustentando o crescimento, considerado pífio”, conclui.
Conforme Jankiel Santos, economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank, a taxa de juros deve ficar em 7,75%. “Já que, no momento, não há nenhuma sinalização de desaceleração de demanda, ou seja, a inflação não deve parar de subir, o ajuste tem que ser monetário. Nós apostamos em 7,75% porque o BC vem sinalizando num aumento gradual. Nós aumentaríamos para 8%, primeiro porque não teríamos reduzido tanto”, explica.
Fernando Monteiro, economista do Tullett Prebon, concorda com as projeções de PIB menor e inflação maior. “Sem poder contar com a ajuda do câmbio para segurar a inflação, com a indústria sofrendo com aumento de custos, e fazendo superávit primário com desonerações pontuais por setor, apenas para atingir a meta do mês seguinte, só resta ao governo aumentar os juros. Ele ataca o sintoma e não a causa”, avalia.
Monteiro também aposta numa Selic em 7,75%, mas apenas porque tem que antecipar o que o BC vai fazer e não o que deveria fazer. “Na reunião passada, chegou a se apostar em aumento de 0,5 ponto percentual e o BC saiu com 0,25. O ajuste deveria ser maior. Se o BC entregar 0,5 p.p. amanhã, devemos fechar o ano com juros de 9%”, afirma. Contrário à maioria, a expectativa de Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil, é de que a autoridade monetária eleve a Selic para 8% ao ano. A principal razão para a aceleração da alta de juros é o cenário inflacionário.
Fonte: Correio Braziliense