Juro menor e pacote econômico devem aquecer o PIB

10 de Julho de 2012 às 08:46
por: Paula Takahashi, Victor Martins, Rosana Hessel e Juliana Braga

Brasília – Com a crise financeira internacional barrando a retomada da economia brasileira e o mercado financeiro jogando para baixo as previsões de crescimento da economia este ano, o governo vai ampliar o arsenal de esforços para acelerar o Produto Interno Bruto (PIB) repetindo a receita que já vem aplicando: menos juros e mais incentivos para as empresas. O Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter amanhã a trajetória de corte de juros iniciada em agosto do ano passado e, conforme aposta unânime do mercado, a taxa básica de juros (Selic) cai mais 0,5 ponto percentual e desce para 8% – o menor percentual da história.

A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, discutem novas ações para reativar a
indústria ( Zuleika de Souza/CB/D.A Press)  
A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, discutem novas ações para reativar a indústria


Além do corte nos juros, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a presidente Dilma Rousseff tentam preparar mais um pacote de incentivos à indústria. O Estado de Minas apurou que o Palácio do Planalto está preparando mais medidas econômicas para tentar conter a crise que dá sinais cada vez mais claros de que está chegando ao Brasil. Interlocutores afirmam que a sensação é de frustração, ao ver que o país não crescerá como esperado pela equipe econômica no começo do ano, mas que essa sensação diminui ao se comparar o país com o resto do mundo. Ainda assim, o governo está preparando um pacote de ativação da indústria que pode, mais uma vez, se valer das desonerações para estimular o setor, num esforço de fortalecer o PIB, cada vez mais desacreditado pelo mercado financeiro.

O mercado já se encarregou de revisar para baixo as expectativas de crescimento da economia e variação de preços para este ano. Especialistas ouvidos pelo Boletim Focus, reduziram para 2,01% a expansão do PIB em 2012, ante 2,05% há uma semana, enquanto o IPCA foi ajustado de 4,93% para 4,85% (veja quadro). Com isso, cresceram as apostas no corte dos juros pelo Banco Central. E motivos há de sobra. Os mais mais recentes vêm da produção industrial de maio e inflação de junho, divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Enquanto a produção do parque industrial brasileiro registrou retração de 0,9% no período – acumulando perda de 3,4% de janeiro a maio – o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou apenas 0,08% no último mês. “Com o nível de atividade desacelerando fortemente e o IPCA baixo, abre-se espaço para novos cortes”, avalia o professor de economia da FGV/IBS, Robson Ribeiro Gonçalves. Para Robson, novos ajustes devem ser feitos nos próximos relatórios. “As expectativas quanto ao PIB devem convergir para algo em torno de 1,5%”, avalia. O cenário traçado cria condições para que, além do corte desta semana, nova queda da Selic seja anunciada na reunião do Copom em agosto, fechando o ano em 7,5%.

Diante da reação lenta da economia e pessimismo quanto ao desempenho no ano, o coordenador do departamento de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, aposta em novas medidas do governo. “A política fiscal pode inclusive ter efeito mais rápido que a monetária. As duas caminharão no mesmo sentido”, avalia. A taxa básica de juros, por sua vez, só deve ter impactos diretos no mercado a partir do próximo ano. Por conta da defasagem da política monetária – de, no mínimo, seis meses – especialistas acreditam que os efeitos só aparecerão entre o primeiro e o segundo trimestre de 2013. “Qualquer redução da Selic adotada este semestre, só trará resultados em 2013”, avalia Savato.

Psicológico O efeito imediato da Selic em queda está mais atrelado a percepção dos agentes financeiros. “Essas decisões vão influenciar as expectativas do mercado”, observou Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora. José Luís Oreiro, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) alerta para a importância de mais cortes nos juros até como forma de melhorar a confiança e o ambiente de investimentos no país. “Eu insistiria com cortes de 0,5 ponto percentual até a economia começar a dar algum sinal de que está acelerando a sua atividade”, disse o professor.

Pessimismo e falta de segurança do empresariado estão entre as principais barreiras para que os pacotes de incentivo do governo ao investimento surtam o efeito desejado. “Mas não é apenas isso. O modelo de crescimento puxado pelo consumo e pelo crédito bancário está dando sinais de esgotamento em função do aumento do endividamento das famílias”, afirma Oreiro. “Dada a fraqueza da nossa economia e do fato de que foram tentadas várias medidas que não alcançaram os frutos desejados, além dos investimentos fracos, o BC teria justificativa para cortes mais fortes”, ponderou o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas. (Com Juliana Braga)

 

Expectativa de baixa na conta de luz

 

Brasília – A expectativa em relação às novas medidas que o Palácio do Planalto pode anunciar nos próximos dias é que agora, finalmente, o governo apresente uma estratégia de longo prazo, e não mais uma medida paliativa voltada para estimular o consumo e elevar o endividamento do brasileiro. Agora, o esforço foi direcionado para uma área em que a presidente Dilma Rousseff conhece bem: energia.

Apesar de o país ter como principal matriz energética uma das mais baratas e menos poluentes, a hidrelétrica, tem uma das maiores cargas tributárias do planeta. Cerca de 50% do custo dessa energia é de encargos e impostos, o que ajuda a minar qualquer competitividade do produto nacional lá fora. “O governo pretende acabar com pelo menos três encargos, além da renovação dos contratos de energia antigos que começam a vencer a partir de 2014”, adiantou o presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), Paulo Pedrosa. Ele citou a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), a Reserva Global Reversão (RGR) e a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

Pelos cálculos do executivo, sem esses três encargos, juntamente com a renovação das concessões – que não teriam mais que cobrar pelo investimento, pois se tratam de obras prontas e operantes –, a redução na conta do consumidor seria de até 20% a partir de 2015, quando os novos contratos entrarem em vigor. “Mas não será apenas isso. Há em estudo outras formas de reduzir os custos da energia”, emendou. O executivo tem se reunido com frequência nos ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, de Minas e Energia (MME) e na Casa Civil, discutindo de alternativas de desoneração do setor. Hoje é a vez do MME.

Aliás, reduzir os custos da energia é um desejo tanto de Dilma quanto da indústria brasileira. “A presidente conhece esse setor e ela sabe quais são os problemas”, destacou Pedrosa. Ele recordou ainda que o consumidor brasileiro não gasta energia apenas em casa, mas em cada produto que consome. “Pelo menos, essa conta é duas vezes maior que a da residência”, disse.

Ontem à tarde, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, debatia sobre as concessões do setor elétrico com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica, Nelson Hubner, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, e o ministro da Advocacia-Geral da União, Luis Inácio Adams. (Com Rosana Hessel)

Mantega em descrédito


Brasília – Depois de oito pacotes e dezenas de medidas pontuais, o governo Dilma Rousseff amarga ainda a decepção de um país que cresce a taxas minguadas. Nos bastidores, o diagnóstico do ex-ministro da Fazenda e ex-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, irrita o Palácio do Planalto, mas para críticos da política econômica parece acertado: em meio a “medidas emaranhadas’ – como classificou o próprio órgão oficial de pesquisa do governo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) —, o Brasil se tornou um país sem rumo.

Palocci estaria criticando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, quanto a condução da retomada da economia. Para ele, a era Mantega teria acabado frente a pasta e se a presidente ainda deseja salvar os dois últimos anos de governo, na visão dele, deveria trocar o ministro por outro de ideias mais claras. Entre a gestão Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, os críticos do ministro afirmam que Mantega caiu em descrédito com suas previsões extremamente otimistas e pela excessiva intervenção no setor privado.

 

Fonte: Estado de Minas

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