IBGE mostra que 9,9% dos estudantes de BH usaram drogas na idade entre 13 e 15 anos

20 de Junho de 2013
por: Valquiria Lopes e Junia Oliveira

 

 
 

Há exatamente um ano, o motorista de caminhão F. B., de 47 anos, luta para tirar o enteado W., um garoto de apenas 15, do vício em droga. Até então estudioso, o adolescente se deixou envolver pelas más companhias, segundo o padrasto, e conheceu os efeitos da maconha, da cocaína e, agora, do crack. W. faz parte de um universo de 9,9% de estudantes da capital mineira com idade entre 13 e 15 anos que afirmaram já ter tido contato com entorpecentes alguma vez. O dado é da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O jovem ainda largou a escola para trabalhar para traficantes num bairro da Região Norte de Belo Horizonte. De bom aluno, passou a informante de bandidos com a função de avisar sobre a aproximação da polícia.

Segundo a pesquisa, na Região Sudeste, BH ocupa a terceira posição entre as capitais onde os alunos dessa faixa etária mais usaram drogas, atrás de Vitória (13,2%) e São Paulo (11,6%). Os meninos são os principais usuários, sendo que 10,7% deles relataram o consumo de entorpecentes, enquanto entre as garotas o percentual ficou em 9,2%. Na comparação entre as redes de ensino, os estudantes dos estabelecimentos públicos lideram o uso, com 10,3%, contra 8,9% daqueles que estudam em instituições particulares.

O levantamento é um retrato dos hábitos, comportamento e da saúde de 109.104 alunos do 9º ano do ensino fundamental de todo o país e traz informações como tipo de alimentação, prática de atividades físicas, iniciação sexual e violência. Em Belo Horizonte, foram entrevistados 2.754 alunos, de 102 turmas, em 68 instituições de ensino públicas e privadas. Sem a presença de professores, os alunos responderam os questionários em smartphones.

Quando o assunto é o álcool, 76,3% do universo pesquisado em BH afirmaram ter experimentado bebida alguma vez. O percentual deixa a capital em quinto lugar no ranking nacional, atrás de Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Campo Grande. A demógrafa do IBGE Luciene Longo acredita que o problema possa ser cultural. “A brincadeira de que Minas não tem mar, mas tem bar, pode ser uma cultura que acaba influenciando o adolescente a beber mais”, afirma.

A percepção da violência no entorno das escolas põe BH em posição de destaque no país. Entre os alunos entrevistados, 46,2% responderam que consideram a instituição onde estudam localizada numa área de risco. Em segundo e terceiro lugares aparecem Maceió e Salvador, com 45,9% e 41,6%, respectivamente. Aos olhos dos estudantes, a capital mineira está à frente até mesmo de cidades com alto índice de violência, como Recife (29,4%) e Rio de Janeiro (11%). “Essa é uma percepção dos alunos. Pode ser que as escolas não estejam em área de violência, apesar de BH ter muitas instituições situadas dentro ou próximas a vilas e favelas. Pode até não estar num aglomerado, mas o aluno se sente desprotegido”, avalia Luciene.

SEXO Na capital, 27,1% dos estudantes entre 13 e 15 anos disseram ter tido relação sexual alguma vez. O índice põe BH entre as cidades onde a iniciação sexual é mais tardia, ocupando o quarto lugar. Os menores percentuais foram constatados entre alunos de João Pessoa (23,9%), Distrito Federal (26,4%) e Vitória (27%). Já nas capitais do Norte do país, as relações começaram mais cedo para quase o dobro dos adolescentes. Boa Vista bate o recorde com 42,8%, seguida de Macapá (42,2%) e Manaus (41,3%).

Nessa faixa etária, os meninos de BH são mais precoces, sendo que um terço deles (33,3%) relatou já ter tido uma experiência, enquanto entre as garotas o percentual é de 21,3%. Fatores socioeconômicos também podem influenciar no início da vida sexual: 30,9% dos alunos da rede pública e 15% dos estudantes dos estabelecimentos privados revelaram ter feito sexo nessa idade. Entre os que já tiveram relação, 80,3% disseram ter usado preservativo da última vez. O número é o mais alto do país.

O adolescente W. é um retrato da pesquisa do IBGE. A instituição na qual ele estudava e sua casa estão numa área de risco, no Bairro Heliópolis. Além de drogas, bebidas alcoólicas se tornaram parte de sua rotina. A saída da escola e o ingresso nessa nova vida tiveram como resultado pelo menos duas ocorrências policiais. No último episódio, relata o padrasto, ele escondeu uma bolsa com cocaína e maconha na casa da avó e, apesar de cobrar explicações, a família não chamou a polícia. Os parentes buscam, desde o início do tormento, um tratamento para ele, mas não conseguem apoio nem mesmo no conselho tutelar. “Não temos dinheiro para interná-lo numa clínica. Precisamos de ajuda para ele largar as drogas e voltar a estudar. Estou tentando de tudo”, afirma F.


Alimentação nota 10

Os estudantes de Belo Horizonte com idade entre 13 e 15 anos ganham nota 10 no quesito alimentação saudável. A pesquisa do IBGE analisou a frequência do consumo de feijão, frutas, guloseimas e refrigerantes nos sete dias anteriores. Entre  os alunos de todas as capitais brasileiras, os belo-horizontinos são os que comem mais feijão (75,6% da meninada) e frutas (34,8%). Mas os hábitos alimentares se mostram ruins quando consideradas as guloseimas e refrigerantes. Os belo-horizontinos ficam em quarto lugar no consumo de doces (46,1%) – atrás apenas do Distrito Federal (47,6%), Goiânia (47,4%) e São Paulo (46,2%) – e em posição mediana ao pôr a bebida no cardápio.

Em compensação, os estudantes de BH estão entre os que mais praticam atividades físicas pelo período mínimo de 5 horas por semana, ocupando o sétimo lugar no resto do país. Os exercícios fazem parte da rotina de 36,7% desses adolescentes. O percentual de sedentários também é um dos mais baixos. Do universo pesquisado, apenas 3,8% não praticam esportes, deixando a capital em quinto lugar no país.

Aluno do 8º ano do ensino fundamental, Henrique Contin Michetti, de 13 anos, representa bem esse universo. Ele joga bola três vezes por semana e já viajou até mesmo para a Europa para disputar campeonatos. Ele assegura que, na escola, isso também é um hábito entre os colegas. Além de se exercitar, o garoto não descuida da alimentação, preferindo um cardápio à base de carboidrato, proteínas e verduras. Henrique recebe incentivo em casa e na escola, onde frituras e refrigerantes foram banidos da cantina. “Hábitos saudáveis são importantes para a formação dos alunos e para a prática de esporte sem que o peso atrapalhe”, afirma.

TECNOLOGIA E MÃO DE OBRA O levantamento do instituto considerou ainda a posse de bens e serviços na casa dos estudantes. Nesse quesito, os alunos da rede privada se destacam em relação àqueles da pública. Em BH, 98,3% de quem está matriculado em instituições particulares têm computador – acima da média nacional (95,5%). Nas escolas do governo, esse índice é de 84,2%. Mas, para esse grupo, ter a máquina em casa não significa acesso à internet, já que somente 78,5% dos meninos estão conectados.

A disparidade é ainda maior quando o assunto é ter um carro na garagem e empregada doméstica. Enquanto os veículos estão presentes em 91,5% dos lares dos estudantes de escolas pagas, apenas 55,6% das famílias dos adolescentes de estabelecimentos públicos têm um automóvel próprio. Uma empregada que trabalha cinco dias ou mais na semana está presente em 34,9% das casas de alunos da rede privada, enquanto na pública esse percentual cai para 6,6%. Os índices estão acima da média nacional, de 27,3% e 6,5%, respectivamente.


SAIBA MAIS: ESTUDO TEM NOVOS TEMAS

A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) foi feita por meio de um convênio do IBGE com o Ministério da Saúde, entre abril e setembro de 2012. O objetivo foi investigar aspectos socioeconômicos, contexto familiar, hábitos alimentares e sedentários, prática de atividade física, experimentação e consumo de cigarro, álcool e outras drogas, saúde sexual e reprodutiva, violências, segurança e percepção da imagem corporal. A primeira edição ocorreu em 2009. No ano passado, foram acrescentados temas como trabalho, higiene, acidentes, saúde mental, uso de serviço de saúde e ocorrência de asma, entre outros. Atualmente, mais de 100 países monitoram a saúde dos estudantes.

 

Fonte: Estado de Minas

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