Recuperação da credibilidade do Brasil é fundamental
O governo brasileiro precisa trabalhar para recuperar a sua credibilidade, com informações e ações que gerem confiança ao mercado e segurança jurídica aos negócios, sob risco de o país perder definitivamente a sua capacidade de crescimento econômico. Essa é a opinião de especialistas que atuam no meio acadêmico e comercial, considerando não apenas números desanimadores como a alta da inflação, a desvalorização do real frente ao dólar ou a redução da atividade industrial. Mas, principalmente, a desconfiança e recuo dos investidores estrangeiros.
"Credibilidade, confiança e segurança jurídica devem ser valores econômicos de um país. Caso contrário, significam riscos", resume o diretor do International Business Desk do Coimbra & Chaves Advogados, Michael Lund. Ele observa que há diferença de comportamento entre os investidores da bolsa e aqueles que atuam diretamente junto às empresas. Enquanto os primeiros "são mais sensíveis a rumores, a pequenas mudanças, reagindo e voltando com mais rapidez, os de longo prazo começam a demonstrar um certo esfriamento em suas atividades comerciais".
Guardadas as devidas proporções, Lund entende que o risco atual do Brasil, aos olhos do investidor estrangeiro, pode ser comparado ao da Turquia, atualmente em momento de crise econômica, política e social. "Quando existe alguma dúvida quanto ao respeito aos contratos, o investidor se retira", lamenta, lembrando, por exemplo, das recentes discussões das concessões das rodovias à iniciativa privada.
"E se o governo mudar os rumos? Essa dúvida adiciona um custo ou risco Brasil", indica. Em sua opinião, as últimas manifestações populares, que mobilizaram todo o país, podem ser consideradas um movimento saudável em um processo democrático. No entanto, pontua, provoca um certo receio quanto à resposta a ser dada pelo governo federal. "Fica a dúvida se vai honrar seus compromissos", alerta o especialista.
Contabilidade - Além da falta de confiança, Lund chama a atenção para outro valor ou risco, o da credibilidade das informações fornecidas pelo governo brasileiro. Não apenas quanto ao anúncio de movimentos futuros como a data de início ou fim de desonerações de impostos para aquisição de automóveis, por exemplo. Mas, principalmente, quanto à sua contabilidade. "Os números não batem com a realidade. São mais políticos que científicos", ressalta.
Em sua prática profissional, Lund observa que os investidores não paralisaram totalmente suas atividades no Brasil, mas em geral deram uma pausa, para avaliarem os riscos e os próximos movimentos do governo federal. Pois, segundo ele, "a instabilidade política atinge o apetite do investidor pelo mercado", sem contar que reformas importantes como a fiscal, a política, por exemplo, ainda não foram realizadas.
Como fator de desânimo pelo Brasil, ele cita a recuperação da economia dos Estados Unidos e uma relativa recuperação da segurança na Europa. "Se as instituições brasileiras não souberem responder em tempo, o país pode ter perdido o jogo com a bola na mão", lamenta. Uma saída, em profundidade, seria a recuperação da confiança, credibilidade e segurança jurídica. Caso contrário, indica, haverá redução de investimentos e, sem eles, não há crescimento econômico.
Fonte: Diáio do Comércio