Economistas estão céticos com ação do governo
A complacência do governo com a inflação, sua natureza intervencionista e a piora das contas públicas são alguns dos fatores que afetam a credibilidade na economia do país e afastam os investidores estrangeiros. Esta avaliação é do professor de economia do Ibmec Marcus Renato Silva Xavier, que não acredita em recuperação econômica a partir do segundo semestre deste ano, como o esperado.
Isto porque, segundo ele, "algumas precondições propícias ao crescimento econômico, como a responsabilidade fiscal, têm piorado". Assim como outros economistas, ele também prevê um baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, da ordem de 2,4%, ou até mesmo menor que 2%, considerando os resultados no primeiro trimestre do ano.
"Não há um horizonte muito claro para se reverter essa situação", analisa. Medidas pontuais como a redução gradual de incentivos como a desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca no próximo semestre, por exemplo, pode até desestimular o consumo, o que poderia diminuir o ritmo de aumento de preços. Mas, no final, acredita, pode resultar em aumentos.
"A inflação está relativamente tranqüila, embora em patamares acima do desejado, devendo fechar o ano entre 5,5% e 6%", avalia. A grande preocupação, pontua Xavier, é a mensagem que o governo federal transmite ao mercado de uma certa "complacência" com a inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), chegou a 6,5% no acumulado dos últimos 12 meses, gerando insegurança aos investidores.
Banco Central - Nesse sentido, ele acredita que recentemente houve um movimento positivo, com o Banco Central assumindo o papel de fiel da balança da economia brasileira, com os aumentos da taxa básica Selic. Ontem, na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), a taxa Selic foi reajustada 0,5 ponto percentual, para 8,5%.
Para Xavier, este movimento do Banco Central "é muito importante, pois é política de fato, que vai gerar confiança no mercado. As pessoas vão acreditar que a inflação está sendo levada a sério por este governo", espera. No entanto, ele acredita que este avanço não será suficiente para alavancar a economia do Brasil. Assim como outros economistas, ele entende que "o Ministério da Fazenda tem que ajudar o Banco Central". Ou seja, "tem que conter gastos, se empenhar na austeridade".
No entanto, é consenso entre os economistas de que existem poucas chances de austeridade no momento atual, considerando nas proximidades das eleições os gastos tendem a aumentar. Como dificuldade adicional, há também o repuxo causado por essas recentes manifestações populares que, de certo modo, dificultam investimentos no país. "O movimento é legítimo, mas algumas reações do governo podem não ser benéficas para o país", observa Xavier, considerando que as críticas da população quanto aos pedágios e tarifas de transporte coletivo, por exemplo, podem "diminuir o apetite do investidor".
Com as eleições presidenciais em 2014, Xavier entende que não há muito espaço para uma agenda positiva do governo federal. Para ele, tudo indica que deve manter a inflação nos mesmos patamares, aumentar a taxa básica de juros Selic, e assim caminhar com um crescimento muito modesto, de cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), até o final do ano que vem.
Para ele, o valor que de fato poderia favorecer a economia brasileira seria o da credibilidade, assim como fez o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, quando assumiu compromissos em uma carta aberta ao povo brasileiro. Nesse sentido, ele defende menos intervenção na política econômica e maiores incentivos ao desenvolvimento industrial. " necessário arbitrar menos nas questões econômicas, como por exemplo a rentabilidade das concessões, investir em infraestrutura e conduzir um governo menos centralizado", recomenda.
Gravidade - O economista Roberto Luís Troster também mostra-se cético quanto à capacidade de recuperação econômica nos próximos meses. "A falta de credibilidade é um risco. um problema grave para o país", critica, lembrando que é um valor "duro de conquistar e fácil de perder". Como exemplo, ele cita a advertência da agência de classificação de risco, a Standard & Poor´s, que já sinalizou para a possibilidade de redução de nota.
Para o economista, a perda da credibilidade é um sintoma da adoção de uma estratégia econômica que não tem dado certo, pautada no estímulo ao consumo e de uma natureza intervencionista, afetando a segurança jurídica dos negócios celebrados no país. Apesar das críticas, ele entende que não deve haver nenhuma grande piora nos próximos meses. Mas, sim, uma estabilização de variáveis não muito positivas, como a inflação a taxas de 6% ao ano e um crescimento econômico bem modesto, como já se observa. (AR)
Fonte: Diário do Comércio