Bancos escondem informações sobre as tarifas padronizadas
Desde o dia 1º deste mês, os bancos de todo o país estão obrigados a publicar, em local visível, quatro tabelas padronizadas de tarifas. A intenção é dar aos clientes uma transparência maior dessas cobranças, deixando-os com mais opções de escolha, tanto de pacote como de bancos com que querem trabalhar.
A possibilidade de se fazer essas comparações, no entanto, está longe de se concretizar. A reportagem percorreu dez agências, em Belo Horizonte e região, dos principais bancos do país e constatou que muitas delas fixam suas tabelas padronizadas em simples folhas A4, pregando-as nas paredes de fundo, bem longe do público. Até escondido.
A situação mais crítica estava em duas agências do Banco do Brasil, uma na avenida Prudente de Morais e outra na praça da Cemig, em Contagem. Nas duas agências, os avisos estavam numa pasta, misturados a outros papéis. O Santander também tinha avisos pequenos. Alguns bancos visitados nem tinham avisos, como o Bradesco da avenida Prudente de Morais. Já o Itaú-Unibanco colocou banners grandes sobre os pacotes, bem na porta de sua agências.
Mesmo assim, poucos são os que sabem que essas informações são obrigatórias nas agências. João Vilaça é um deles. Aposentado, enfrentou a hiperinflação dos anos 1980 e não acredita que os bancos possam favorecê-lo de alguma forma. “Não adianta escolher um pacote, eles sempre vão dar um jeito de tomar o seu dinheiro.”
Por causa de incrédulos como Vilaça ou de pessoas sem tempo e interesse como tantos outros, o banco acaba tendo um lucro extra com a falta de informação. Com os cartazes, os gerentes não são obrigados a notificar pessoalmente os clientes.
A determinação partiu do Conselho Monetário Nacional, aprovada em 15 de março, para começar a valer em julho. O primeiro pacote é o chamado essencial, um pacote com tarifa zero. Ali, são oferecidos alguns serviços que devem ser explicados ao cliente no momento da abertura da conta. Esse pacote já existia antes e inclui, além da abertura de conta, o fornecimento de um cartão de débito, realização de quatro saques por mês, duas transferências de recursos dentro do próprio banco, dois extratos mensais, consultas mediante utilização da internet, um extrato consolidado por ano para Imposto de Renda, compensação de cheques e até dez folhas de cheques por mês. Qualquer item a mais utilizado pelo cliente passa a ser cobrado como avulso ou individual.
A coordenadora da Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, Maria Inês Dolci, informou que o descaso dos bancos vai além das tarifas padronizadas. “Notamos que os bancos não informam os clientes nem mesmo sobre a opção do pacote gratuito, que é obrigatório para toda instituição bancária”, diz.
Resposta. HSBC, Itaú, Santander, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa informaram, através de suas assessorias de imprensa, que estão cumprindo à risca a determinação do Banco Central, ou seja, estão colocando os cartazes, mesmo que estejam apenas do lado de dentro das agências e longe dos computadores de autoatendimento. Os pacotes oferecem os mesmo serviços para todos os bancos. Apenas os valores são diferentes.
Quando os avisos estão em folhas pequenas, ou dentro das agências, onde o movimento é menor que no autoatendimento, o serviço perde parte de sua finalidade: a maior transparência.
Fonte: O TEMPO