Desemprego entre jovens é mais que o dobro da média

05 de Agosto de 2013
por: Queila Ariadne

“Há um perigo de a crise criar uma geração inteira que não deu certo”. Quem disse esta frase foi o papa Francisco, em sua passagem pelo Brasil, referindo-se à necessidade de se criar oportunidades para os jovens. “É preciso fazer um esforço para chegar a todos, à sociedade, e este é o sentido da minha visita: levar os jovens à sociedade”. A preocupação do pontífice tem fundamento. Segundo o Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego entre as pessoas com 18 a 24 anos é de 14,1% – mais do que o dobro da média de desocupação do país, que ficou em 6% em junho, de acordo com o IBGE.

Quanto mais novos, maior é o índice de desemprego. “O público jovem tem mais dificuldade de inserção no mercado porque, além de não terem ainda a experiência, quando estudam há chance de incompatibilidade entre horários de faculdade e de trabalho, o que cria barreiras na hora da contratação”, avalia.


O professor de economia empresarial da Fundação Getúlio Vargas (FGV/IBS) Raul Duarte acredita que a situação seria diferente se o Brasil priorizasse políticas de emprego. “O custo de treinamento de funcionários inexperientes é alto. Se o governo desse incentivos para amenizar os encargos trabalhistas na contratação de jovens, seria uma alternativa, pois a curva de performance dessa faixa etária compensa os investimentos”.

Vontade. Quem dá oportunidade não se arrepende. Segundo o gerente de capital humano do Mercantil do Brasil, Márcio Ferreira, 30% dos funcionários do banco têm entre 18 e 24 anos. “Não podemos abrir mão da vontade de vencer os desafios e da gana dos jovens”, afirma.

A visão da empresa permitiu a Marcelo Machado construir uma carreira. Ele entrou no banco como estagiário, aos 22 anos. Hoje, aos 27, é classificador de risco de crédito. “Tive uma ótima oportunidade e meu salário cresceu mais de 300% desde que entrei”, conta. Outros exemplos são Bruno Souza, que tem apenas 23 anos e já é gerente de beneficiários do INSS do banco, e Marina Araújo. Ela também começou como estagiária, aos 23, e hoje, aos 27, é técnica de apoio comercial e ganha mais que o dobro do começo da carreira.

A gestora de pessoas da Tratenge, Symone Brandão, também acredita na força dos jovens. “A empresa investe no treinamento e custeia até 50% de cursos”, afirma. A ajuda incentivou o analista de controladoria Victor Miranda, 25, a antecipar sua pós-graduação. “A questão é ter oportunidade. Eu entrei na empresa por um programa de trainee, em 2012”, lembra ele, que hoje responde pelos principais relatórios financeiros.


Comércio é porta de entrada e mercado informal seduz

A economista do IBGE Adriana Beringuy destaca que, diante da resistência das empresas contratarem os mais jovens, muitas vezes a porta de entrada é o comércio. “É lá que eles encontram vagas sazonais, nos empregos temporários criados pelas datas comemorativas”, lembra.

O professor de cargos, carreiras e remuneração da FGV/IBS Jorge Cunha destaca outra variável: o mercado informal. “Muitas vezes eles, os jovens, nem querem ser contratados, pois hoje em dia é muito fácil ‘fazer’ R$ 800. Eles trabalham em festas, por exemplo, o que condiz com a necessidade de quem estuda e precisa de horários flexíveis”, observa.

Cunha lembra do programa Primeiro Emprego, criado pelo governo federal para incentivar as contratações de jovens. “Só que não condiz com o que as empresas querem, pois esse público não pode ficar à disposição porque tem outros comprometimentos com os estudos”, afirma.

 

 

Fonte: O TEMPO

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