Com BRT, deslocamentos na capital podem demorar mais

Os usuários do transporte público de Belo Horizonte podem ficar mais tempo em trânsito com a chegada do BRT (sigla em inglês para transporte rápido por ônibus). Especialistas ouvidos pela reportagem de O TEMPO alertam para lacunas na proposta de integração entre os ônibus comuns e os que serão operados pelo sistema e também para a falta de um plano de distribuição dos usuários que serão levados em massa para o centro da cidade. Problemas que, segundo eles, podem aumentar o tempo entre a origem e o destino dos passageiros.
Um exemplo é o designer Flávio Carvalho, 26, que, para ir ao trabalho, hoje pega um ônibus no bairro Goiânia, na região Nordeste, e segue direto até a Savassi. Com a implantação do BRT, no entanto, sua rotina será alterada. Isso porque a linha 5503A, que ele usa, vai sofrer mudanças com o novo sistema, que depois de vários atrasos, tem previsão para começar a rodar no início de 2014. O trajeto que hoje é percorrido com um ônibus deverá ser feito com três. “Vou demorar mais e terei um desgaste físico muito maior trocando de ônibus. Vai piorar minha vida”, diz o designer, que já leva 50 minutos até a Savassi.
Especialistas afirmam que para a viagem de ônibus ser feita de forma mais rápida, como propõe a Prefeitura de Belo Horizonte com o BRT, será preciso ampliar, em muito, a oferta de veículos para quem sai dos bairros e planeja chegar até uma das estações do novo sistema e também para quem segue do centro até outra região. “O BRT sozinho não faz milagre. É preciso cuidar da operação, para que ela realmente ocorra de forma ágil. O projeto na capital não demonstra uma integração clara entre os transportes”, explica o gerente de políticas públicas do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), Pedro Torres, que estuda BRTs de diversos países.
Ele cita o plano do Rio de Janeiro, que reduziu em 50% o tempo de viagens. “Lá houve uma reorganização das linhas do centro. As pessoas vão chegar ao centro e precisarão se deslocar até outros bairros. Se isso acontecer de uma vez só, o transporte ficará sobrecarregado e o tempo da viagem vai aumentar”, ressalta.
José Aparecido Ribeiro, consultor de assuntos urbanos e trânsito, ressalta que, como o BRT liga os bairros ao centro, o aumento de pessoas na região pode comprometer todo o sistema. “Os ônibus nesses corredores podem andar mais rápido, mas do bairro até as estações e até o centro pode ser um problema”.
Fonte: O TEMPO