Trabalho infantil ainda é realidade para milhões de brasileiros
27 de Agosto de 2013
por: Paulo Henrique Lobato
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W.A., de 13 anos, vende picolés em BH para ajudar em casa e já está ensinando o ofício a G.E.S., de 11 |
Tal universo corresponde a 8,6% do total de brasileirinhos nessa faixa etária – 62,8% dos garotos e garotas nessa situação moram em área urbana. O total de jovens que exercem alguma profissão já foi bem maior. Em 1999, por exemplo, eram 6,63 milhões de crianças. Apesar do recuo de 44,6%, o saldo de 3,67 milhões ainda merece maior atenção do poder público e da sociedade. O balanço foi divulgado ontem, no IV Encontro internacional contra o trabalho infantil, em São Paulo. A pesquisa foi encomendada pela Fundação Telefônica Vivo à Tendências Consultoria Integrada e elaborada com base na edição de 2011 da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O levantamento apurou que a maioria desses garotos e garotas (quase 1,3 milhão, ou 35% do total) residem nos estados do Nordeste. No Sudeste, eles somam 1,1 milhão de crianças e adolescentes (29,3%).O estudo não detalhou os dados por estados, mas, em maio passado, um levantamento do IBGE, com base no censo de 2010, constatou que quase 60 mil crianças mineiras, de 10 a 13 anos, trabalhavam.
A esmagadora maioria dos jovens que trabalham está na informalidade. Segundo a pesquisa divulgada ontem, 93,1% dos brasileirinhos com alguma ocupação não têm carteira de trabalho assinada. Entre aqueles com 16 e 17 anos, esse percentual é de 68,6%. Meninos e meninas de 5 a 17 anos recebem, em média, 42% menos do que o salário de um adulto. Para piorar, 20% das crianças e adolescentes que trabalham não frequentam a escola.
Apesar de estar matriculado, R., de 13, de Araçuiaí (Vale do Jequitinhonha), admite que a sala de aula não o atrai. “Não gosto muito da escola. Meu sonho é ser vendedor de melancias”, diz ele que fatura R$ 20 por semana auxiliando um vendedor de melancias na área externa do Mercado Municipal da cidade. O caso dele é igual ao de milhares de outras crianças: “Tenho que ajudar em casa”. Já em Pirapora (Norte de Minas), os irmão G., de 10, e G., de 11, frequentam a escola pela manhã e, à tarde, regam canteiros cultivados pelos pais numa área da horta comunitária. “A gente ganha uns trocados”, revela o mais novo.
BOLSA-FAMÍLIA
A secretaria-executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, Isa Maria Oliveira, cobra maior vontade política dos governantes. Ela avaliou que o Bolsa-Família melhorou a frequência escolar, mas há números que precisam mudar. “Em 10% (das famílias que recebem o benefício), há crianças estudando e trabalhando. Em 4,3%, (há crianças) que só trabalham. Em 5,7%, há menores fora da escola”.
* O repórter viajou a convite da Fundação Telefônica Vivo
Fonte: Estado de Minas