Ganho salarial será o menor em 9 anos

12 de Setembro de 2013
por: Victor Martins

Brasília – A crise chegou ao bolso do brasileiro. Depois de dois anos seguidos de baixo crescimento e de inflação elevada, os trabalhadores começam a pagar a fatura. A oferta de empregos esfriou e o peso da frustração com o Produto Interno Bruto (PIB) agora recai sobre a renda das famílias, até então o sustentáculo do país. Cálculos do Bradesco mostram que o reajuste médio salarial em 2013 será de 2,5% – o menor ganho real (descontada a inflação) em nove anos. A instituição projeta ainda uma desaceleração do consumo, para 2,7%. No ano passado, essa taxa havia sido de 3,1%.

Além de uma inflação persistente, o endividamento elevado das famílias e bancos mais seletivos na oferta de crédito são vistos como um cenário adverso e que pode agravar as condições no país, que já enfrenta dificuldades para encontrar uma taxa de expansão satisfatória. Todo esse cenário, segundo analistas, afeta os ganhos dos trabalhadores e os empregos. As empresas adiaram demissões o quanto foi possível, mas com as margens de lucro estranguladas pela carestia e por uma economia aquém do ideal, o mercado de trabalho, assim como o aumento de renda, começam a esfriar. O sonho do pleno emprego, de acordo com os economistas, está ameaçado.

Dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) reforçam a tese do Bradesco sobre a renda. O número de categorias que obtiveram ganhos salariais acima da inflação diminuiu. Em 2012, 96,3% delas conquistaram reajustes capazes de vencer a carestia. Este ano, o percentual caiu para 84,5%. O tamanho do ganho real também encolheu: passou de 2,26% no ano passado para 1,19%. Especialistas alertam que esse processo de aumento da renda, em muitos casos acima da produtividade, deve se tornar cada vez mais raro.

“Os que têm salário próximo do mínimo receberam ganhos maiores que sua produtividade, não nos parece mais possível aumentos tão exagerados”, explicou Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse. Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central, diz que as empresas, devido ao elevado custo de demissão e contratação, adiaram planos de cortar postos. “Houve um entesouramento de mão de obra. Os empresários optaram por esperar o máximo possível na expectativa de que o crescimento do país melhorasse. Como essa recuperação é lenta, eles pararam de absorver perdas e o mercado de trabalho esfriou”.

Sem aumento

Octavio de Barros, diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, faz avaliação semelhante. “Desde 2004, a demanda por mão de obra cresce acima da oferta. Agora, isso se inverteu, a disponibilidade de emprego desacelera a uma velocidade maior”, observou. Com a menor oferta de postos de trabalho, a possibilidade de ganhos acima da inflação se reduziu. “O crescimento mais fraco influencia, a inflação também ao reduzir o poder de compra e as vendas no varejo”, disse José Pastore, professor da Universidade de São Paulo (USP). “Quando se tem queda nas vendas, os setores de comércio e serviço sofrem e a indústria produz menos. Tudo isso reflete, em algum momento, em uma desaceleração do aumento da renda”, explicou.

 

Fonte: Estado de Minas

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